Este território montanhoso do centro oferece um privilegiado ponto de partida para uma viagem à descoberta dos sabores, da história e do património natural envolvente.

Vizinha da serra do Caramulo, Vouzela tem acesso rápido ao centro da vila.

A descoberta começa em cada rua, onde as histórias do passado podem ser narradas em função dos edifícios que encontramos. A Igreja Matriz destaca-se pela solidez granítica, tendo aumentado a sua fama pela dificuldade histórica em desvendar a sua origem – terá sido uma antiga basílica ou um velho e abandonado mosteiro? Apesar da dúvida, são unânimes as vozes na eleição de tal Monumento Nacional como um dos mais distintos exemplares de arte medieval da Beira Alta. Mesmo no centro, a Capela de São Frei Gil (1185-1190), padroeiro de cidade, apresenta-se como monumento religioso de elevado valor escultural cuja fachada sumptuosa quase se sobrepõe ao interior que deixará rendidos os amantes da talha dourada.

Vouzela apresenta-se sólida do ponto de vista estético, muito em parte pelo estilo arquitectónico coeso das suas linhas. Em 2017, foi noticiada a existência de mais vestígios ancestrais, quando os incêndios “destaparam” as serras, revelando assim outra narrativa – uma nova matéria arqueológica escondida na natureza que guardava, até então, mais de cem novas edificações pré-históricas parcialmente ou totalmente desconhecidas.

Vouzela

A natureza revela, quase sempre, mais do que se vê. E, em Vouzela, a variação de altitude marca o ritmo que revela as descobertas. Entre cursos de água e caminhos a mais de mil metros de altitude, ou partindo da Reserva Botânica de Cambarinho – em que o loendro (arbusto de folha verde-escura e flores roxas) é a expressão máxima – até à Nossa Senhora do Castelo, reflexo vivo de ocupação ancestral (onde podemos encontrar, nas imediações da capela, duas sepulturas escavadas na rocha), não faltam motivos para caminhar em busca do desconhecido. As cores e as texturas, algumas ainda tímidas, saltam à vista sem que a indiferença tenha tempo para se manifestar. A vida selvagem, sempre presente, faz a sua luta pela manutenção do espaço e pelo regresso às origens. Neste lugar, a dinâmica é muito característica. A passagem sem a devida escala não fará do tempo o melhor conselheiro, sobretudo se tivermos em mente um registo fotográfico da fauna ou da flora envolventes.

Natureza Vouzela

Uma dedaleira ou erva-dedal.

As emblemáticas árvores que carimbaram o território com marca classificada procuram renascer no espaço ao longo dos vários percursos pedestres (e de BTT) que Vouzela oferece aos seus visitantes. É fácil identificar, ao longo dos vários locais por onde se passa, a importância cultural da floresta e da natureza na geonímia do território, patente em mais de 50% dos nomes das terras de Vouzela.

Natureza Vouzela

A diversidade ambiental é geograficamente aferida pelas duas manchas ecologicamente distintas e que definem o território: a atlântica (ocidental), com um clima ameno, conferindo ao vale do Vouga uma flora muito particular e condição para a existência de bosques mistos; e a continental (nascente) em que as serras se caracterizam pelo convívio harmonioso de floresta autóctone com folhosas eresinosas. A visita a Vouzela tem a caminhada longa (e potencialmente sinuosa) como principal requisito mas os percursos, mais ou menos atribulados, podem sempre ser preparados (ou recriados), em jeito de recompensa, num dos alojamentos museológicos da vila, na companhia de um pastel de Vouzela ou saboreando a típica vitela de Lafões.