“Você é muito corajosa!”
Este é o tipo de resposta que costumo obter quando digo às pessoas que viajo sozinha. E, apesar de este ser um comentário bem intencionado, ainda fico incomodada por existirem pessoas que pensam que uma mulher a viajar sozinha se pode sentir isolada ou intimidada. Num mundo ideal, as viagens feitas individualmente por mulheres não deviam ser desafiadoras ou implicar coragem, seriam apenas uma preferência pessoal. De facto, quando viajo sozinha, os meus sentidos parecem estar mais sintonizados com o ambiente que me rodeia, com as pessoas que conheço (ou de quem me afasto) e com as rotas pelas quais caminho (ou evito).
Ainda assim, quando perguntámos às nossas leitoras e comunidades sociais o que aprenderam nas suas viagens individuais, mais de metade das mulheres respondeu com dicas sobre como evitar problemas. Apesar de cerca de 26% das mulheres da geração millennial viajarem sozinhas, é verdade que as mulheres de todas as idades enfrentam algumas vulnerabilidades na estrada. Tal como acontece com muitas das minhas amigas, também eu frequento cursos de autodefesa para ter alguma paz de espírito. Sim, cursos que ensinam a dar chutos na virilha ou cotoveladas, mas estes cursos (e as nossas leitoras) também ensinam a evitar situações perigosas.
No entanto, ao ler as histórias partilhadas pelas mulheres, o que mais me impressionou foi o seu entusiasmo pela aventura e a transcendência do medo. A leitora Rita Pearson resume bem esta situação: “Número 1, a segurança vem em primeiro lugar. Número 2, faça-se à estrada e esqueça o resto!”
De entre as mais de mil respostas que obtivemos, destacamos palavras sábias – e de encorajamento.
Aprenda a estar segura
Quando viajamos sozinhas, estamos por nossa conta e risco, por assim dizer. Elena Burnett, que passou vários anos a fazer caminhadas e a fotografar zonas remotas de parques nacionais, desde Mesa Verde às Great Sand Dunes, faz um trabalho rigoroso de preparação para garantir a sua segurança. “Comprar um mapa topográfico é uma das primeiras coisas que faço antes de uma viagem”, diz Elena. “Isso permite-me ter conhecimento dos trilhos e dos pontos de referência.” Elena também diz que as caminhantes solitárias devem estar preparadas para as condições atmosféricas, levar água e um estojo de primeiros socorros.
Dica: Se estiver a viajar para uma zona sem ninguém, ou para uma área sem cobertura de telemóvel, um GPS via satélite permite manter o contacto com amigos e familiares e também pedir ajuda, caso seja necessário. Elena Burnett leva sempre o seu GPS Garmin inReach. E também deve considerar um curso de primeiros socorros.
Saiba quando pedir ajuda profissional
Viajar a solo não significa que estamos completamente sozinhas. Muitas empresas de turismo têm percursos destinados a mulheres que procuram experiências em específico – e contam com a ajuda de naturalistas e guias locais. Num safari feito no Botsuana, através da empresa de passeios fotográficos At Close Quarters, a leitora Rachelle Aikens estava rodeada de especialistas em observação de vida selvagem e fotografia, factor que lhe permitiu captar as melhores fotografias e aprender sobre a região.
Dica: Participe numa excursão só para mulheres e provavelmente vai estar na companhia de viajantes que pensam de forma igual – e potenciais amigas. A Wild Women Expeditions organiza viagens de aventura a regiões como a Patagónia ou ao Egipto; a empresa Damesly faz passeios e organiza retiros criativos em destinos como o Colorado ou Istambul.
Viajar sozinha pode libertar tempo para perseguir passatempos pessoais, como fotografia. Fotografia de Theo Allofs, Getty Images.
Esteja aberta a conhecer pessoas
Quando os dias não são passados na conversa ou a planear o próximo ponto de paragem com uma companheira de viagem, somos obrigadas a interagir com os habitantes locais e com outros viajantes. Isto geralmente resulta em novas amizades. “Temos de ser os viajantes que gostaríamos de conhecer na estrada”, recomenda Aikens, cuja atitude de abertura a ajudou a fazer uma nova amiga íntima no seu safari no Botsuana. As duas mulheres ficaram tão próximas que agora falam semanalmente e vão fazer uma viagem juntas ao Árctico.
Dica: A maioria das cidades oferece passeios pedestres gratuitos ou de baixo custo – uma óptima forma para criar laços com outros viajantes que pensam da mesma maneira. Também é possível encontrar aulas e eventos locais através de experiências como a Meetup ou Airbnb, ou através de passeios de empresas como a Encounter Travel – passeios destinados a viajantes solitários. A empresa Tourlina ajuda mulheres a encontrar companheiras de viagem e a Bumble BFF também pode ajudar a encontrar colegas aventureiras. Ainda assim, nunca deve colocar o bom senso de lado e só deve conhecer pessoas novas em espaços públicos.
Confie no seu instinto
A nossa sondagem desencadeou mais de 40 respostas de mulheres que recomendam o desenvolvimento de um instinto mais forte. Enquanto viajante a solo, Elena Burnett tenta manter a calma e estar ciente das suas limitações físicas e mentais. “Não receie, nem hesite, em tomar medidas defensivas caso se sinta desconfortável ou ameaçada.”
Dica: Leia O impensável: quem sobrevive quando o pior acontece e porquê, de Amanda Ripley, que detalha tácticas de actuação rápida em casos de eventuais emergências.
Aprenda a passar o tempo sozinha
Mesmo que encontre muitas pessoas na estrada, enquanto viajante individual, vai passar muito tempo sozinha. Por isso, esteja preparada para ocupar o seu tempo livre (ou estimular a sua criatividade) como fez a leitora Nanci Mansfield, que descobriu que o seu caderno de desenho podia quebrar o gelo com um estranho na Índia. Intrigada com um homem e com a sua habitação que parecia uma mesquita, Nanci Mansfield perguntou se podia fazer um desenho do homem. Apesar de inicialmente o estranho ter ficado na dúvida, Nanci conseguiu conquistá-lo. “É uma história de aceitação. Eu era uma pessoa estranha quando cheguei lá, mas saí com um coro de pessoas a dizer adeus.”
Dica: Antes de partir, considere algumas das coisas que gostaria de fazer, ou tentar fazer, caso tivesse mais tempo. Desenhar, tirar fotografias ou fazer registos num diário pode ajudar a documentar a sua experiência e preencher o tempo de inactividade com os passatempos que gostava de fazer, em vez de se limitar a mais uma partida de Candy Crush no telemóvel.
Considere ficar num hostel
“Eu gosto de ficar imersa nos lugares que visito, gosto de ter tempo para viver, respirar e absorver a natureza e as tradições locais”, diz a leitora Ginny Greenwood. Em Yangon, Mianmar, Ginny trocou o hotel onde estava por um hostel, para ter companhia. Um dos hóspedes apresentou Ginny a um guia que falava um pouco de inglês e que a levou a conhecer artesãos locais, incluindo fabricantes de bronze, escultores de jade, tecelões de bambu e fabricantes de bonecos. Ginny Greenwood e o guia até assistiram ao pôr-do-sol na maior ponte de teca do mundo.
Dica: Ficar num hostel com outros viajantes solitários pode oferecer uma sensação de segurança e de companheirismo, e também pode dar origem a outras experiências interessantes. Os sites de reservas online, como o Hosteling International e o Hostelworld.com, têm críticas de leitores que, embora não sejam infalíveis, podem dar uma ideia se vale a pena ou não reservar uma estadia num hostel.
Confie na generosidade de estranhos
Seria imprudente travar amizade com todos os viajantes que passam por nós, mas as viagens individuais destacam o quão úteis e acolhedoras as pessoas conseguem ser, independentemente das barreiras linguísticas. Quando a leitora Vivienne Valles chegou à Turquia, recebeu a ajuda preciosa de uma habitante local. “Quando eu estava a sair do metro em Istambul, não sabia como chegar ao meu hotel”, diz Vivienne. Mas houve uma senhora que a ajudou. “Eu não falo turco e ela não falava inglês, mas percebeu o que eu precisava.” A mulher acabou por caminhar com Vivienne até ao hotel.
Dica: Aprenda algumas frases básicas no idioma local, ou faça o download do Google Tradutor antes de partir. Algumas palavras ou até uma saudação agradável podem ajudar na comunicação. E os desenhos ou gestos também ajudam.
Ouça as histórias
Quando viajamos por conta própria, é mais provável estarmos atentas aos detalhes mais pequenos sobre as regiões e culturas locais. Quando estava a visitar o Japão, a leitora Salena Parker ficou impressionada com a construção delicada do Grande Tori de Miyajima, um enorme portão do século XIX do Santuário de Itsukushima do século XIII (Património Mundial da UNESCO). Localizados no mar interior de Seto, perto de Hiroshima, as estruturas homenageiam três deidades irmãs. “A minha anfitriã disse que o portão serve como uma ponte entre mundo humano e o mundo espiritual”, diz Salena Parker. Apesar de, para algumas pessoas, o local servir apenas para tirar fotografias para o Instagram, os detalhes conferem-lhe alguma profundidade. “É uma zona rica da história mundial”, diz Salena. “E isso fez-me lembrar que existem histórias do legado das mulheres à espera de serem descobertas.”
Os locais históricos, como o Grande Tori de Miyajima, no Japão, podem parecer mágicos quando os visitamos sozinhas. Fotografia de Jose More, VWPics/Redux.
Dica: Ficar na casa de alguém pode permitir uma ligação mais íntima com os habitantes locais e os seus costumes. Salena Parker diz que a sua experiência “foi óptima para conhecer a cultura local e aprender o idioma.” Existem mais informações disponíveis em Homestay.