Mesmo que William Shakespeare não tivesse ambientado o seu “Romeu e Julieta” em Verona, a cidade continuaria a ser uma das mais românticas de Itália. Dizem por lá que, quando se pretende cativar alguém, é fundamental levá-lo a Verona, uma das poucas cidades que possuem um poder de sedução inato.

Verona conserva monumentos de épocas muito distintas, desde a sua origem romana ao seu esplendor renascentista. No entanto, o seu bairro histórico não poderia ser mais harmonioso, integrando-se de forma natural nos meandros do rio Ádige. No centro, destaca-se há vinte séculos o anfiteatro da Arena (século I). Podem existir estruturas idênticas maiores, mas nenhum outro é tão perfeito. O ideal é explorá-lo durante o dia mas, se viajar no Verão, também o deverá ver durante a noite, quando se transforma no cenário do festival de Verona, inaugurado em 1913. A Arena ergue-se na emblemática Piazza Bra, onde se avistam vários monumentos com um só olhar. Ao fundo podem ser vislumbradas as muralhas e a estátua de Shakespeare, enquanto dos lados se destacam o barroco Palazzo della Gran Guarda e o neoclássico Palazzo Barbieri. Também nos chama a atenção o grupo de casas Liston, desenhadas pelo arquitecto renascentista Michele Sanmicheli e que albergam alguns dos cafés e restaurantes mais especiais.

Verona

Piazza Delle Erbe. Antigo fórum romano, ainda hoje é o centro político e económico da cidade.

Para penetrar na cidade antiga, deve começar pela Via Mazzini, uma das mais populares e elegantes vias pedonais. Desemboca na Via Capello, onde se situa a Casa de Julieta. Sabe-se que o edifício pertenceu aos Capuleto, uma influente família do século XIII; o interior exibe trajes e objectos usados na versão cinematográfica da tragédia, dirigida em 1968 por Franco Zeffirelli. Perto do local, encontra-se o Palácio Nogarola, considerado a casa de Romeu.

Uma pausa no mercado

Chegamos à Piazza delle Erbe, onde antigamente ficava o fórum romano e agora se situa o mercado. Devemos fixar-nos na Torre Lambretti (século XII), um esplêndido miradouro, e na Casa Mazzanti, coberta de frescos. Entre esta praça e a Piazza dei Signori, presidida por uma estátua de Dante, tiveram lugar os primeiros episódios do relato de Shakespeare, como o duelo entre Mercúcio e Teobaldo no Volto (ou beco) Bárbaro ou a vingança de Romeu contra este último no Corso Porta Borsari. Os amantes estariam sepultados, no entanto, fora do centro: Julieta no Mosteiro de São Francisco do Corso e Romeu no número 6 da Via Luigi da Porto, perto das muralhas.

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A varanda de Julieta. Perto da porta da Casa de Julieta, no número 23 da Via Capello, uma estátua de Nereo Constantini recorda a protagonista da célebre obra de William Shakespeare. Esta é a suposta residência dos Capuletos, a família que o bardo inglês atribuiu a Julieta. No pátio palaciano, pode ver-se a mítica varanda – à qual é possível subir – de onde a jovem aparecia para falar com o apaixonado Romeu. O local transformou-se num ponto de romagem habitual para inúmeros casais de namorados.

Para além das etapas vinculadas aos jovens amantes, Verona reúne outros monumentos de importância artística e histórica como a Igreja de Santa Anastácia, decorada com os frescos de Pisanello sobre São Jorge e a Princesa (século XV).

O legado das famílias que dominaram Verona antes da anexação à República de Veneza sobrevive na Via Arche Scaligere, onde se podem admirar os imponentes túmulos dos Scaligere, a família que governou a cidade entre 1262 e 1387. O edifício que melhor identifica esse período é a grande fortaleza de Castelvecchio, localizada nas margens do Ádige.

A vizinha Piazza dei Signori merece uma visita de lazer para admirar os seus edifícios: o Palazzo dei Comuneffi, com a sua escadaria gótica (a Scala della Ragione); o do Capitano, residência do governo na época veneziana; e o do Governo, actual sede da administração provincial, onde a Loggia del Consiglio chama a atenção. A dois passos, na Via della Costa, aparece a Domus Nova, a partir da qual os poderosos Podestà regeram o destino da cidade na época dos Scaligere.

Verona

Abside principal do Duomo com o fresco da Virgem Maria e do apóstolo.

Quando parecia que já nada mais poderia surpreender, eis que aparece a Catedral. De origem medieval e reconstruída em várias ocasiões, esconde tesouros artísticos como “A Assunção” de Ticiano (século XVI). E a Basílica de São Zenão, nas imediações, é uma síntese perfeita do pré-românico e do românico que abriga retábulos do grande Andrea Mantegna, pintor do século XV.

Um risotto com vinho

O encanto de Verona não se limita às igrejas e palácios. Deve sentar-se num café e pedir um esponjoso biscoito pandoro, tomar um aperitivo numa osteria e, à noite, jantar um delicioso risotto acompanhado de vinho Valpolicella, Bardolino ou Custoza, com denominação de origem Verona. Só assim podemos admirar o que ainda resta para ver em Verona: a colina de São Pietro, do outro lado da Ponte de Pedra, onde se encontra o teatro romano (século I), e o Castelo de São Pedro (restaurado no século XIX), cujo miradouro nos presenteia com a melhor perspectiva da cidade, essa que Shakespeare descreveu: “Mundo não pode haver fora dos muros de Verona, mas dores, purgatório, o próprio inferno. Estar daqui banido é também estar banido do mundo.”