A serra da Estrela é um território de fragas, fragões, penhas e poios, grandes blocos graníticos e autênticos castelos rochosos que se evidenciam na paisagem. Cada um destes elementos é uma história inacabada de um passado longínquo, uma apropriação de um presente que se reescreve a cada dia. Estas formas, que a geologia criou e o tempo esculpiu, fazem parte da identidade da Estrela, personificando quotidianos, não muito distantes, onde as “pedras” eram companhia de pastores e serranos que se aventuravam na montanha e aí permaneciam durante longos períodos, numa solidão disfarçada de destino.
Olhando para a imponência destes amontoados de granito, recuamos no tempo e imaginamos como homens e mulheres as foram associando à vida quotidiana, numa tentativa de os tornar menos austeros do que a sua grandiosidade pode deixar antever. Ora gente, ora animais, cada uma destas saliências litológicas é muito mais que a sua simples existência. São apropriações enigmáticas que o tempo geológico nos trouxe até à actualidade, numa fusão indelével com as comunidades que aqui vivem há milhares de anos.
Ilustração: Anyforms Design
Envolta nestes pensamentos, a imaginação percorre a nossa vista e repousa no reflexo de grandes fragões nas águas calmas do vale do Rossim: os Fragões das Penhas! A sua majestosidade, agora reflectida, confere-lhes uma beleza ainda maior e uma perfeição difícil de descrever. Alcandorados na vertente sul da albufeira deste vale, os Fragões destacam-se no horizonte e impõem-se perante o olhar, mesmo que desatento, do viajante. Atraído pela sua enigmática presença, o nosso olhar desloca-se em direcção a estes afloramentos graníticos que sobressaem na paisagem. Claro que os geólogos dirão que se trata de um tor e um castle koppie graníticos que cederam à força da erosão diferencial.
Porém, a imaginação é mais forte do que a razão e as peculiares formas destes monumentos fazem-nos interrogar sobre as verdadeiras razões que levaram os locais a apelidá-los de “Ângela”, “Rasa” ou “Penha Gorda”. Talvez nunca consigamos saber, mas aguça-nos a imaginação e a vontade de percorrer o trilho que nos leva, desde o vale do Rossim aos Fragões das Penhas, ou Poios Negros, em oposição aos Poios Brancos, também majestosas formas graníticas, na margem direita do vale glaciário do Zêzere. Ficará para uma próxima visita, com a certeza de que esta é uma viagem entre a história e o presente, a identidade e a ciência, uma arrepiante consciência da nossa pequenez, marca incontornável desta Estrela, Geopark Mundial da UNESCO.