É nos arredores de Moimenta da Beira, na serra de Leomil que nasce o rio Paiva. Antes de desaguar no Douro, em Castelo de Paiva, atravessa os concelhos de Moimenta da Beira, Sátão, Vila Nova de Paiva, Viseu, Castro Daire, São Pedro do Sul, Arouca e Cinfães. Ao longo de pouco mais de uma centena de quilómetros, o rio serpenteia entre carvalhos e castanheiros, mas é a sua geologia que lhe conquistou reconhecimento ao integrar desde 2009 o Arouca Geopark.
A geologia não é para os praticantes de rafting uma simples curiosidade. Ela determina o perfil, as características e grau de dificuldade que a descida dos diferentes segmentos do rio implica. Os 70 quilómetros de rio acessíveis a praticantes de actividades de águas bravas oferecem actividades acessíveis a pessoas com mobilidade reduzida ou a crianças pequenas, até aos mais exigentes, reservados apenas a praticantes experientes. Um percurso de quatro quilómetros rio abaixo pode demorar apenas duas horas até ser percorrido, mas no final os corajosos aventureiros sentem um misto de adrenalina e cansaço que lhes cola no rosto um rasgado sorriso.
Em meados da década de 1990, o potencial do rio para o rafting começou a ser explorado, mas foi só em 2015 que o inesperado sucesso dos passadiços pedonais de madeira trouxe esta magnífica paisagem ripícola para a ribalta.
Nos anos que precederam a pandemia, duzentos mil percorriam os nove quilómetros do percurso, vendo-se amiúde pequenas embarcações insufláveis com grupos animados a negociar o caminho entre os rápidos. No início, os operadores notaram que o crescimento da procura turística na região aumentara a procura pelas actividades de águas bravas, mas a pandemia acabou por afectar o negócio e, aos poucos, os passadiços também roubaram protagonismo ao rafting.
Para complicar ainda mais, um Inverno invulgarmente seco não garante os caudais mínimos para a prática da modalidade. Rafael Soares cresceu a brincar no rio, mas foi só aos 18 anos que experimentou o rafting pela primeira vez. A experiência mudou-lhe a vida. Quanto terminou os estudos em desporto, rumou aos Estados Unidos, mas, pouco depois, sentiu que estava a trair o seu rio e a saudade falou mais alto. Já lá vão 20 anos que regressou, dividindo agora o seu tempo entre o rafting e o bar que explora numa praia fluvial nos meses em que os caudais se prestam mais a banhos do que à prática de desportos radicais. Nunca perde de vista durante o ano as águas do rio que a falta de precipitação teima em não engrossar.
A pandemia complicou a vida a quem depende do turismo, mas revelou também a importância dos destinos de proximidade e de natureza e, assim que os caudais permitam, o rio vai oferecer momentos inesquecíveis a todos os que ousarem entregar-se à força que escava um magnífico vale há milhares de anos.