Em Agosto de 2016, julguei ser boa ideia saltar daqui e cair no Quirguistão. Quando contava às pessoas que decidira embarcar nesta viagem, recebiam-me olhares que mais parecia que lhes tinha afirmado ser meu desejo besuntar-me de mel e atirar-me num formigueiro. Qualquer país cujo nome acabe em -istão acaba por, com tantas notícias que cruzam os ecrãs, causar um certo arrepio. No entanto, foi exactamente isso que me levou a insistir que não estava maluco: tinha curiosidade. Ser professor de História e debitar simplesmente aforismos e coisas que leio em manuais nunca me pareceu a melhor maneira de ensinar ou sequer comunicar o que é o mundo. Viajar é o que melhor serve a educação – foram duas semanas de descoberta de uma terra oculta, esquecida, com gente genuína. Foi aí que estive dois dias no lago Song. Depois de várias horas de viagem, cheguei e o que aqui trago é um cruzamento entre o que a minha máquina fotográfica e o caderninho que me acompanha sempre que saio do meu conforto lembram. A minha memória também ajuda. Já leva uns anos, mas há imagens que tenho mais registadas na minha mente do que píxeis ou ficheiros digitais. E o melhor que consigo fazer é transmitir as coisas que, como diz a canção dos Heróis do Mar, são do mundo e não sabendo-as contar só se conseguem ver ao longe.