Para muitos, o Vale do Poio Novo é uma universidade de escalada no Centro do país.

Sicó é uma das serras menos conhecidas do centro-litoral de Portugal. Apesar da modesta cota máxima, que atinge 553 m de altitude, este maciço cársico estende-se entre Condeixa, a norte, e Pombal, a sul, escondendo algumas preciosidades paisagísticas pouco badaladas. A maior – figurativa e mesmo literalmente – é o Canhão do Poio Novo, vizinho da diminuta aldeia vizinha. Afectuosamente conhecido como o “Grande Canyon português”, este canhão fluviocársico é um fenómeno geológico impressionante, rasgado na mole calcária ao longo de milénios por um curso de água, hoje apenas visível em dias de intensa pluviosidade.

Poios

O vale apresenta múltiplas falésias verticais que se elevam acima do ribeiro seco. Lar de espécies raras como o bufo-real, que por vezes se escuta ao crepúsculo e com grutas onde foram encontrados vestígios de ocupação humana ancestral, os seus mais recentes inquilinos são de outra índole: a comunidade ibérica de escalada marca presença quase permanente, pois esta é a primeira escola calcária para quem vem do Norte da península e é uma das melhores do país. Desde a década de 1980 que o mundo da escalada encontra aqui um porto de abrigo.

Com exposição maioritariamente orientada a sul, a maioria dos sectores apresenta-se seca durante boa parte do ano, contabilizando quase duas centenas de vias, algumas das quais com tectos. O sector “Microondas” é o mais popular, tendo recebido o nome pelo intenso calor que ali se faz sentir. As vias apresentam grande variedade, com grau de dificuldade que varia entre os clássicos V de iniciação até desafios como a TNT, uma exigente via de oitavo grau.

Uma das curiosidades do mundo da escalada é a diversidade pitoresca dos nomes das vias. Por tradição, é o escalador que atribui a designação à via que acaba de criar, muitas vezes associando a designação a algum acontecimento do momento. A imaginação e criatividade não têm limites e, por estas bandas, existe o "Leitão À Bairrada", o “Bailado Lesionado” ou o “Tubarão com Pêlo”!

Escalada em Poios

Uma das vantagens da escalada em calcário é a suavidade para a pele quando comparada com o granito.

Na escalada desportiva, o equipamento é relativamente simples: um arnês, mosquetões, expresses, magnésio, para secar o suor nas mãos, fitas, um capacete e um dispositivo de segurança (Gri-Gri, ATC ou similiar). E, naturalmente, uma corda! Pressupõe-se que a via foi previamente equipada por um ou mais escaladores experientes, com recurso a um berbequim, para perfuração da rocha, onde são depois aplicados parafusos especializados (plaquetes ou tiges). À medida que o escalador progride na parede, coloca expresses nestes pontos, por onde passa a corda, presa na outra ponta ao colega que faz a segurança (belayer) no solo, e que, usando um dispositivo mecânico de segurança, o ampara em caso de queda.

Embora a escalada seja um desporto de aventura em que o risco está sempre presente, encontra-se em franca expansão e, quando as regras de segurança são seguidas à risca, os acidentes graves são raros, permitindo usufruir dos grandes espaços de uma forma especial.

Como no Poio Novo. 

POIO NOVO

 

 

Artigo editado no dia 3 de Maio de 2023.