RESERVA DA BIOSFERA A UNESCO reconheceu, em 2003, o valor natural dos Picos da Europa, 85 anos depois de a região ter sido distinguida como primeiro Parque Nacional de Espanha.
Os Picos da Europa são um dos parques nacionais mais assombrosos do continente. Constituído por três grandes maciços e dividido entre Astúrias, Cantábria e Leão, é um local de culto não só pelas suas montanhas e desfiladeiros, mas também pelos santuários de Santo Toribio de Liébana e de Covadonga.
ROTA PELOS TRÊS MACIÇOS DO PARQUE
1 - Cangas de Onís Paragem imprescindível no centro de visitantes do parque, na ponte medieval e nas lojas de produtos regionais. 2 - Covadonga O santuário e os lagos de Enol e La Ercina são uma maravilha natural. Existem numerosos trilhos que percorrem este sector. 3 - Poncebos Este povoado é a origem de dois caminhos históricos: as subidas ao povoado de Bulnes e ao desfiladeiro do Cares vindo de norte. 4 - Garganta do Cares Um caminho de oito quilómetros liga Caín a Poncebos. 5 - Potes Local essencial para conhecer o vale de Liébana, aceder ao teleférico da Fuente Dé e visitar o mosteiro de Santo Toribio de Liébana.
O maciço Ocidental, das Penhas Santas ou do Cornión, é o mais visitado. O passeio clássico por este sector começa em Cangas de Onís, cruzado pelo indómito Sella. A corte do incipiente reino das Astúrias há treze séculos é actualmente uma povoação de 4.500 habitantes repleta de hotéis e lojas que vendem produtos gastronómicos e material de montanha. A um passo dessa agitação, existem dois recantos bucólicos: a ponte ogival, com a Cruz da Vitória pendente sobre as águas do Sella, e o miradouro de Següencu, que oferece a primeira panorâmica sobre os Picos da Europa.
CANGAS DE ONÍS A ponte romana, de origem medieval, aproveita a calçada primitiva romana.
Uma estrada conduz o viajante em poucos minutos a Covadonga, um desses locais especiais burilados pela natureza para deslumbrar. A primeira formação que se avista é a rocha do Auseva emergindo entre as florestas caducifólias, com a Santa Cova pendente da rocha e uma cascata que brota por baixo. Parece um devaneio, no entanto tudo é real, ainda que temperado com o espírito fantástico da reconstrução de 1877. A arquitectura torna-se aqui o complemento perfeito ao culto de Santina e Pelayo, figura histórica que repousa no local onde, a 28 de Maio do ano 722, ganhou a batalha que forjaria a sua épica história.
COVADONGA As florestas e lagos foram a razão inicial para a classificação do parque. A basílica foi construída em 1901.
Os lagos de Enol e La Ercina são outros santuários da zona. A subida desde Covadonga, deixando para trás as concentrações de faias, é uma das etapas de montanha mais seguidas da Volta a Espanha: são 12,3 quilómetros nos quais se supera um desnível de 910 metros com inclinações de 17%. No topo, o viajante é premiado com dois lagos, começando pelo Enol, o mais profundo. Daqui partem rotas de caminheiros para todos os gostos, como os que conduzem aos miradouros do rei e de Ordiales, este último o mais distante, ou até às Penhas Santas de Enol e Castela, a segunda com 2.596 metros de altitude.
LAGOS LA ERCINA E ENOL A escassos 12 quilómetros do santuário de Covadonga, são uma zona de trilhos muito populares e acessíveis.
Ao longo destas excursões, aparecem ocasionalmente lembretes da tradição pastoril dos redis, como os cuerres (currais de madeira) para o gado e para os rebanhos de vacas e ovelhas que, no Verão, são transferidos para as pastagens de altitude. É com o seu leite que se produz o queijo de Gamonéu, típico dos concelhos de Onís e Cangas e justamente aclamado como um dos produtos mais exuberantes da região.
UM REFÚGIO PARA A FAUNA As florestas, prados, picos e desfiladeiros protegem alguns dos mamíferos e aves mais representativos da Península Ibérica.
O VALE DE CABRALES
Subindo o rio Güeña por Onís, alcançamos o vale de Cabrales, irrigado pelo rio Cares e também famoso pelo seu queijo. É assim que entramos no maciço Central, ou dos Urrieles, com o totem Naranjo de Bulnes ou Picu Urriellu (2.519m), que adquire um tom alaranjado ao entardecer.
A sua fama provém do desafio que lança aos alpinistas, pois a sua face a oeste é uma parede vertical de quinhentos metros que requer por norma uma ascensão lenta e, com frequência, a pernoita do montanhista em suspensão na parede.
POVOADOS DA MONTANHA Bulnes, Tresviso e Sotres (na imagem) viveram praticamente isolados até há poucas décadas.
Outro dos mitos da região é o do queijo de Cabrales, produzido com o leite cru de vaca, de ovelha e de cabra, e maturado em cavernas naturais entre dois a seis meses até que adquire os fungos que lhe dão as típicas manchas verdes, assim como a textura amanteigada e o ligeiro sabor picante.
Se continuarmos a subir o curso do rio Cares desde Arenas de Cabrales, ao sexto quilómetro aparece-nos Poncebos. Nesta aldeia, há duas formas de aceder à Peña, nome que os naturais de Cabrales dão ao maciço: através das suas entranhas pela surpreendente garganta do Cares – um caminho de oito quilómetros que percorre o povoado de Caín – ou no funicular de Bulnes que, em sete minutos, conquista 402 metros de desnível sob a terra.
O CARES Esta garganta separa os maciços Oeste e Central. A rota de ida e volta entre os povoados de Poncebos e Caín dura seis horas.
A subida a bordo do funicular assemelha-se a uma viagem para outra dimensão porque, num instante, encontramo-nos em plena montanha, num núcleo com somente vinte habitantes que até 2001 teve como único acesso o caminho do canal do Tejo. Actualmente, o velho caminho tornou-se um trilho popular de descida até Poncebos que dura perto de duas horas. O desfiladeiro de la Ermida, escavado pelo rio Deva e povoado de pomar, penetra no vale de La Liébana (na Cantábria), principal acesso ao maciço Oriental. Mesmo à entrada do vale, um microclima permite ocasionalmente o cultivo de videiras. Ali ergue-se a igreja moçárabe de Santa María de Lebeña, com três naves, arcos em ferradura e um teixo sagrado no adro.
Um pouco mais à frente encontramos Potes, cujo emblema é a Torre do Infantado (do século XV). Este povoado é o melhor local para adquirir os queijos defumados de Aliva, os de Lebeña e o queijo de Tresviso e também para provar o bagaço local e o cozido de Lebeña.
POTES Com as suas casas suspensas sobre o rio Deva, esta localidade é uma excelente base para conhecer Liébana.
Três quilómetros depois, ergue-se o mosteiro de Santo Toribio. Para além da memória do abade Beato de Liébana, autor da obra “Comentarios al Apocalipsis”, um best-seller que não faltava nas melhores bibliotecas medievais, guarda a relíquia do fragmento da cruz de Cristo. Considera-se ali Ano Santo sempre que a festa do padroeiro, no dia 16 de Abril, coincide com um domingo.
Fuente Dé, local onde nasce o rio Deva, volta a devolver-nos à montanha. Daqui parte um teleférico que, em 1966, deixou de transportar minério e foi reconfigurado para deleite dos turistas que daqui ascendem ao miradouro de Cabel, a 1.834 metros. A extraordinária panorâmica só pode ser comparada com a que é oferecida pelos miradouros do Corzo e do Oso, já na província de Leão.
NARANJO DE BULNES É o emblema do parque. A sua silhueta singular avista-se nos trilhos do maciço Central.
OS CAMINHOS CLÁSSICOS DO PARQUE
De passeios de poucas horas até travessias de vários dias, os itinerários dos Picos da Europa são tão variados como o seu público: famílias com crianças, caminhantes experientes, alpinistas… Alguns trilhos são antigas veredas estreitas de pastores que conduziam o gado aos prados de Verão, outros são velhas rotas de mineiros ou veredas entre vales que foram substituídas por estradas e funiculares. O parque organiza saídas guiadas que, classificadas pelo tempo de duração e dificuldade, descobrem estas fantásticas montanhas do Norte peninsular.
1- LAGOS DE ENOL E ERCINA O estacionamento de Buferrera é o início das rotas guiadas que o parque organiza em volta destes lagos. Com uma duração de três a quatro horas, passam por prados onde antigamente os pastores se instalavam com as suas famílias durante o Verão. Passam também perto de velhas minas do século XIX.
2- CAMINHO DO ARCEDIANO O Caminho do Arcediano foi em tempos uma via de comunicação entre o Oriente asturiano e as terras de Leão.
3- ROTA DO CARES Une Poncebos e Posada de Valdeón e completa-se em seis horas. Da ermida de São Pedro em Camarmeña vislumbra-se o desfiladeiro.
4- BULNES Durante séculos, a aldeia asturiana de Bulnes esteve isolada entre montanhas. O único acesso rodoviário até 2001 era o canal do Tejo, via íngreme e arriscada.. Hoje, Bulnes – com as suas fachadas típicas, já recuperadas – abre-se ao turismo, em parte graças ao teleférico, que sobe desde Ponte Poncebos em sete minutos, vencendo um desnível de 647 metros.
5- CABALLAR Esta rota é a mais recomendável para conhecer o maciço Oriental. Parte do povoado de Sotres e dura três horas e meia.
6- FUENTE DÉ O teleférico permite subir ou aproximar-se dos picos mais altos. O itinerário guiado dos Horcados Vermelhos (5 horas) aproxima-se de Naranjo de Bulnes.
7- NARANJO DE BULNES É a montanha mais emblemática dos Picos da Europa e a conclusão natural da aventura na região.
CADERNO DE VIAGEM
COMO CHEGAR Cangas de Onís dista 110km do aeroporto das Astúrias e 72km de Oviedo. Para explorar a região, o meio mais adequado é o aluguer de automóvel. O acesso a Covadonga no Verão tem de ser feito através de autocarro ou táxi (www.consorcioasturias.com).
ONDE FICAR Casas de turismo rural, hotéis, parques de campismo e refúgios no interior do parque. O campismo livre é proibido.
MAIS INFORMAÇÃO O parque tem vários centros de acolhimento de visitantes: em Casa Dago, Cangas de Onís, Liébana, Pousada de Valdeón e Pedro Pidal em Covadonga.
www.picosdeeuropa.com