Em 1812, o explorador suíço Johann Ludwig Burckhardt, que viajava há vários anos pelo Próximo Oriente, decidiu visitar uma ruína de que tinha ouvido falar no seu trajecto desde Damasco até ao Egipto. Vestido como um humilde beduíno, justificou o seu destino inusitado com a intenção de pagar uma promessa ao profeta Haroun, o Aarão bíblico. Depois de percorrer um grande caminho através de um desfiladeiro (o Siq), encontrou um espectáculo insuspeito: a fachada de um monumental templo grego escavado na rocha. Nas proximidades, parcialmente sepultados pela areia, emergiam outros monumentos: uma via colunada, um teatro, um santuário… Burckhardt chegara a Petra, uma cidade isolada do mundo e da história, mas dona de um esplendoroso passado. A viagem de Burckhardt criou um mito que, protagonizado por viajantes e artistas posteriores, ajudou a impor no Velho Mundo o orientalismo do século XIX.
A cidade dos nómadas
A reconstituição da história de quem viveu na cidade foi particularmente difícil dada a relativa escassez de fontes escritas. Sabe-se hoje, graças à arqueologia, que nos princípios do primeiro milénio a.C. existia ali uma povoação de edomitas, que durante muito tempo foram inimigos do reino de Israel. A certo momento, o local foi abandonado. A região foi novamente ocupada no século VI a.C. por um povo de origem árabe, os nabateus, que converteram a cidade de Petra no centro de reunião das suas tribos.
Os nabateus são referidos em documentos do final do século IV a.C., no contexto das lutas entre os sucessores de Alexandre, o Grande, no Oriente. A dinastia dos ptolemeus no Egipto media então forças com os selêucidas na Ásia. Ambas cobiçavam a estratégica zona da Síria e Palestina. No ano 312 a.C., Antígono I, o Vesgo, um general de Alexandre que se apoderou da Ásia Menor, atacou os nabateus. As suas tropas fracassaram. Segundo conta Diodoro Siculo, os nabateus refugiaram-se na “rocha”, que não estava defendida por nenhuma muralha mas que só tinha uma via de entrada; esta descrição coincide com a morfologia de Petra e do seu desfiladeiro de entrada, o Siq. Antígono foi forçado a acordar termos de paz com eles.
O IMPÉRIO DAS CARAVANAS. A prosperidade do reino Nabateu dependia das trocas comerciais, em especial de plantas aromáticas e especiarias. Estes produtos afluíam a Petra em grandes caravanas, que partiam dali para os grandes mercados da bacia mediterrânica, como Roma ou Alexandria. Esta imensa riqueza aumentou a cobiça dos povos vizinhos, principalmente os selêucidas, que tentaram em várias ocasiões anexar Petra, sem nunca o conseguirem.
A seda: o luxo que vinha da China. A seda chegava a Roma vinda da China seguindo a rota dos oásis da Ásia Central e por mar. Júlio César celebrou o seu triunfo com bandeiras de seda; Plínio e Cícero dedicaram-lhe locuções por contribuir para a corrupção dos costumes.
Especiarias: condimento e ritual. A canela e a pimenta eram bens comerciais valorizados. À canela, eram atribuídas virtudes digestivas: Nero queimou grandes quantidades para honrar a sua esposa morta.
Betume: imprescindível para as embarcações. Um dos produtos que sustentou o Estado comercial dos nabateus foi o betume, proveniente do mar Morto, usado para calafetar os barcos. Exportava-se para o Egipto e para o Mediterrâneo.
Plantas aromáticas: a fragrância dos deuses. Aloé, mirra e incenso eram, em conjunto com as especiarias, o sustento do comércio nabateu. Estas plantas eram usadas para fins cosméticos, medicinais e religiosos em toda a bacia mediterrânica.
Diodoro Siculo dá-nos a primeira descrição dos nabateus. Desprovidos de uma clara identidade política e territorial, eram recalcitrantemente nómadas, até ao ponto de condenarem à morte os que se opunham a este modo de vida. Viviam de ervas silvestres e da carne e leite dos seus rebanhos. Acumulavam água em cisternas escavadas na areia, impermeabilizadas com estuque e escondidas para que ninguém suspeitasse onde estavam. O seu conhecimento do território permitiu-lhes sobreviver.
Como pôde este povo nómada criar um reino que dominava a península do Sinai, na Jordânia, o Sul da Síria e o Noroeste da Arábia Saudita? A explicação reside no seu domínio do comércio com o Oriente. Apesar do estilo de vida fácil, os nabateus enriqueciam com o comércio de produtos de luxo como o incenso, a mirra e as especiarias, que importavam através das caravanas desde a Arábia Felix (actual Iémen) até ao Mediterrâneo. Petra era o ponto principal das rotas das caravanas, e em cada etapa daquela viagem as taxas que cobravam pela travessia do seu território eram muito elevadas.
Durante a época helénica, da morte de Alexandre até à expansão de Roma para Oriente, os nabateus mantiveram uma relativa independência face aos Estados vizinhos. Travaram um duro conflito com os ptolemeus pelo domínio das rotas do Mediterrâneo e do mar Vermelho. Há relatos de ataques de piratas nabateus a barcos egípcios. É provável que os dois inimigos tivessem pedido a mediação estrangeira para resolver as suas diferenças. Terá sido essa trégua que justificou a presença em Petra e em Alexandria, no ano 129 a.C., de Moschion, embaixador da cidade de Priene, na Ásia Menor. Por outro lado, o contacto constante com o reino ptolemaico terá levado os nabateus a imitar a arquitectura helénica e a introduzir o culto de Ísis.
Johann Ludwig Burckhardt, o europeu que redescobriu Petra em 1812. Gravura. Museu da Marinha, Paris.
Da independência à submissão
Os selêucidas também não puderam impedir a ascensão do reino nabateu. A campanha para a contrariar, empreendida pelo rei selêucida Antíoco XII em 88-87 a.C., redundou num fracasso e o rei morreu na batalha de Canaã. O vencedor, o nabateu Obodas I, faleceu pouco depois; foi enterrado na nova cidade de Obada (Avdat), onde foi venerado como o verdadeiro fundador da dinastia do reino de Petra. Aretas III, o seu sucessor, expandiu o reino até à costa dos selêucidas.
A debilidade do reino fomentou a expansão do poder nabateu e a independência dos seus vizinhos, os judeus. A proibição de rituais judaicos por parte dos selêucidas, que dominavam a Judeia, provocou uma revolta dirigida pela família dos macabeus (168-167 a.C.), que receberam apoio do nabateu Areras I. No entanto, muitos judeus e nabateus enfrentaram-se pelo domínio dos territórios limítrofes, e os nabateus foram envolvidos nos conflitos com os asmoneus, a dinastia que reinou na Judeia até 37 a.C.
UMA CIDADE ESPLÊNDIDA NO CORAÇÃO DO DESERTO. Como noutras grandes cidades romanas, os principais recintos públicos de Petra distribuíam-se ao longo de uma avenida com pórticos colunados e cobertos. Clique na imagem para ver detalhes.
Sobreviventes dos conflitos com o Egipto e com os selêucidas, os nabateus não conseguiram fazer frente à expansão do poder de Roma da mesma maneira. A partir do momento em que os romanos anexaram o reino de Pérgamo (Ásia Menor), no ano 133 a.C., ambicionavam controlar o Próximo Oriente. Em 64 a.C., Pompeu, o Grande, chegou à Síria com o objectivo de derrubar Antíoco XIII e aniquilar o reino selêucida. Depois de cumprir este propósito, ocupou Jerusalém e decidiu acabar com as incursões dos nabateus nas fronteiras da Judeia. Colocou à frente da operação o seu tenente Marco Emílio Escauro e, quando este voltou a Roma, em 58 a.C. cunhou moedas com a imagem do rei Aretas III ajoelhado. Na realidade, como sucedera a Antígono, o Vesgo, dois séculos e meio antes, Escauro n��o conseguiu vencer os nabateus, entrincheirados na inacessível Petra, e teve de se conformar com uma paz que o rei nabateu comprou por 300 talentos. Desde então, Petra passou a considerar-se um reino na esfera de influência de Roma.
No agitado período das guerras civis romanas, Malco I foi obrigado a contribuir submissamente com tropas de reforço para César e para Marco António. Obodas III, o seu sucessor, foi igualmente um rei dócil, mas junto dele encontrava-se como primeiro-ministro o maquiavélico Sileu, que aspirava ocupar o trono nabateu com o beneplácito de Augusto, o primeiro imperador de Roma. À morte de Obodas III, que não deixou descendência, Sileu encontrava-se em Roma (onde acabaria os seus dias pagando cara a sua ambição) e foi outro membro da casa real quem acabou por assumir o poder com o nome de Aretas IV (9 a.C. – 40 d.C.).
UM NABATEU NA ROMA DE AUGUSTO. Sileu, ministro de Obodas III foi uma das personalidades mais influentes da história do reino nabateu. Durante a sua governação, deu mostras de possuir um carácter enigmático e uma ambição desmedida. O exemplo mais notável foi a sua actuação depois da morte do rei Obodas, no ano 9 a.C. Nesse momento, Sileu encontrava-se em Roma, denunciando as campanhas de Herodes, o Grande, contra o reino nabateu e pedia auxílio a Augusto para as mesmas. Ao tomar conhecimento da morte de Obodas (da qual foi acusado), Sileu sonhou em criar, com a ajuda de Augusto, um grande reino na Síria, integrando os reinos judeu e nabateu sob a sua alçada. No entanto, na sua ausência, um membro da família real nabateia tomou o trono, com o nome de Aretas IV, sem esperar pela bênção de Augusto. O imperador romano, contrariado, permitiu a Sileu regressar à sua pátria, onde este começou a conspirar contra Aretas e contra Herodes. Foi preso e enviado para Roma, onde foi executado no ano 6 a.C.
Durante o seu governo, o reino nabateu viveu a época de máximo esplendor. A imagem da vida em Petra que Estrabão relatou na sua “Geografia” corresponde precisamente a este período. Nela, abundam as referências à riqueza da região, à magnificência dos edifícios, aos nutridos rebanhos de vacas e ovelhas e até aos férteis campos de cultivo da zona, um pormenor que parece surpreendente para o visitante moderno, mas que as investigações arqueológicas confirmaram. Localizou-se, com efeito, um complexo sistema de canalizações que servia para abastecer de água os habitantes e para a manutenção das lagoas e jardins numa cidade que descobriu as vantagens da pax romana de Augusto.
A influência helénica está patente na etiqueta cortesã de Petra. De acordo com a estela de Aretas III, o Filoheleno, os reis adoptaram títulos que evocavam outros soberanos helénicos, como “o que ama o seu povo” ou o “salvador do seu povo”. Do soberano dependiam a sua esposa (chamada “irmã”), assim como um primeiro-ministro (denominado “irmão”), cargo supremo ao qual estavam subordinados outros que tinham nomes gregos, como o “estratego”, o “astrónomo” ou o “estratopedarca”. Do mesmo modo, a elite nabateia adoptou nomes gregos associados aos tradicionais nomes nabateus.
A INFLUÊNCIA GRECO-ROMANA. A influência dos modelos helénicos e romanos é omnipresente em Petra, como esta escultura de um jovem com a máscara do deus Pã ou de um sátiro encontrada na cidade. Século I d.C.
Amor por tudo o que era grego
A helenização do reino também se manifestou na progressiva penetração da língua grega no quotidiano nabateu, segundo se adverte nos documentos ainda conservados. Até então, os nabateus usavam uma forma de aramaico, com vocabulário e formas gramaticais do árabe, e criaram o seu próprio sistema de escrita, antecessor do árabe actual, que o estudioso alemão Eduard Beer conseguiu decifrar em 1840. Contudo, os documentos antigos existentes são pouco variados e proporcionam escassa informação sobre certos aspectos da religião (como os nomes dos deuses), da organização social e da onomástica nabateia. Faltam-nos relatos mitológicos ou decretos extensos.
A importância que os nabateus atribuíam à escrita pode ser verificada pela existência do culto a al-Kutbâ, deusda escrita e da adivinhação. Outro deus destacado era Dushara, «senhor de al-Sharah» (um monte a leste de Petra), a divindade tutelar da dinastia real.
A ele foi dedicado o principal templo da cidade, chamado pelos árabes Qasr alBint Faroun (o “palácio da filha do faraó”). Al-Uzza era outra deusa popular: crê-se que o seu templo correspondia ao Templo dos Leões Alados Al-Uzza formava uma tríade com Allath, deusa da guerra, e Manat, deusa do destino. A helenização do reino desde o século I d.C. também se manifestou com a assimilação dos deuses gregos no panteão nabateu: Dushara confunde-se com Zeus e Dioniso, al-Uzza tem resquícios de Afrodite.
Uma cidade opulenta e helenizada
É curioso notar que um povo caracterizado pela sobriedade do modo de vida nómada tenha originado uma elite que competia pela acumulação de riqueza. Segundo o testemunho de Estrabão, em Petra multavam-se todos aqueles que diminuíam a sua fortuna e distinguiam-se com honras e cargos políticos aqueles que aumentavam o seu património. Aliás, introduziu-se o costume grego do banquete como forma de reunião da elite social nabateia. Abastecidos com vinho de Rodes, importado em abundância (como testemunham as numerosas ânforas procedentes desta ilha desde o século III a.C. descobertas em Petra), os banquetes eram celebrados com luxo e seguindo um minucioso protocolo: eram admitidos no máximo 13 comensais por evento, o número de copos de vinho permitido por pessoa era de 11 e usava-se um copo de ouro diferente a cada ocasião. Não havia escravos, pois o próprio soberano, assimilando este protocolo, servia todos os convidados. Embora fosse uma monarquia, em Petra subsistiam alguns laivos “democráticos”, quem sabe vestígios da época em que os nabateus eram um povo nómada, quando o chefe tribal não era mais que um cidadão entre iguais (primus inter pares). Ou talvez essa dimensão democrática fosse uma imitação da vida na polis, a cidade-estado grega. O rei tinha de prestar contas do seu trabalho perante os súbditos nas assembleias que provavelmente se celebravam em locais como o anfiteatro do Grande Templo de Petra.
Estrabão refere a importância dos tribunais de Petra no Mediterrâneo, circunstância igualmente validada pelo conjunto de papiros encontrados a sul do mar Morto e pertencentes a Babatha, judia de Maoza (uma povoação na costa daquele mar). Entre os documentos que ela decidiu ocultar havia cópias de contratos, sentenças e actas de tribunal expedidas em Petra, cujos originais eram guardados no Afrodiseion desta cidade.
A influência dos modelos greco-romanos está também patente nos monumentos de Petra. O primeiro edifício que surge depois de percorrer o Siq é o que os beduínos chamaram Khazneh al-Faroun, o “Tesouro do Faraó”. Na realidade, é o túmulo de Aretas IV. Com a sua monumentalidade barroca, própria da arte helénica-romana, é um bom exemplo do legado de Aretas: a criação de uma importante capital nabateia, digna de um grande reino helenizado e protegido por Roma. Aliás, os principais monumentos que se admiram na cidade pelos viajantes modernos foram construídos ou engrandecidos durante o seu reinado, como o teatro e os dois templos já citados: o de Qasr al-Bint e o dos Leões Alados.
As residências particulares da cidade de Petra dão conta da sedentarização definitiva dos nabateus. O luxo destas residências aparece testemunhado por Estrabão na época romana. A maioria das casas não foi construída nas imediações da rede viária. Foram escavadas na rocha, nos terraços naturais ao largo do vale. Em Az-Zantur, encontramos vestígios de ricas villae do século I d.C. que impressionam não só pela amplitude e pelo número de divisões (que incluem termas, átrios e latrinas), mas também pelos extensos fragmentos de estátuas, pelos mármores importados, pelos mosaicos e pelas pinturas que nos permitem reviver o estilo de vida dos habitantes de Petra.
Malco II e Rabel II, sucessores de Aretas IV, o maior soberano nabateu, foram responsáveis por construções monumentais noutras regiões do reino. A capital foi mudada para Bosra, e outras cidades nabateias gozaram de prosperidade. Ao mesmo tempo, Roma reforçava a sua presença militar no Próximo Oriente devido à revolta judaica de 66-70 d.C., aplacada por Vespasiano e pelo seu filho Tito. No horizonte, crescia também a ameaça do vizinho império parto. Por fim, o incremento da presença romana culminou com a anexação do reino nabateu pelo imperador Trajano no ano de 106, com a morte de Rabel II.
Trajano anexou o reino nabateu a roma em 106. O soberano está aqui representado num sestércio do ano 103.
Petra, cidade romana
Poucos anos depois da anexação, Trajano conseguiu construir a grande via Nova Trajana, que atravessava a Arábia passando por Petra e seus arredores. Com esta importante obra, o imperador procurava reafirmar as fronteiras do império durante a sua campanha contra os partos. Quando Trajano visitou Petra no ano de 114, o cortejo imperial desceu por uma rua de pórticos construída em sua honra; o desfile desembocou num arco triunfal erguido especificamente para a ocasião.
O antigo reino nabateu constituiu o núcleo de uma nova província romana, que recebeu o nome de Arábia Pétrea. Embora a capital se tenha estabelecido na cidade de Bosra, Petra ainda conservava a aura de “metrópole da Arábia” e o seu papel administrativo não era desdenhável, como se depreende de uma inscrição encontrada no magnífico túmulo escavado na rocha em honra de Sexto Florentino, legatus augustus pro praetore na Arábia do início do século II. Ao longo da sua brilhante carreira, este funcionário serviu em diversas províncias do império, mas morreu em Petra enquanto levava a cabo um censo na província da Arábia. Sabemos assim que a cidade era sede de um conventus ou distrito judicial.
No ano 130, o imperador Adriano visitou a cidade, onde foi recebido com festivais em sua honra. Como prova do seu agradecimento, o soberano outorgou a Petra o privilégio da designação Hadriana Petra. Décadas depois, a instauração da dinastia dos Severos reforçou a conexão do poder imperial com o Próximo Oriente: Septímio Severo, fundador da linhagem, casou com Julia Domna, filha do sumo sacerdote de Baal na cidade síria de Emesa. Não é de estranhar, pois, que no começo do século III o imperador Heliogábalo (cuja avó era irmã de Julia Domna) atribuísse a Petra o estatuto de colónia romana.
HEGRA: A PETRA DO SUL. O enclave mais meridional do antigo reino nabateu foi a cidade de Hegra, a actual Medain Saleh, na Arábia Saudita. Até agora, acreditava-se que a cidade tinha sido fundada pelos nabateus de Petra no século I a.C. como ponto de paragem das caravanas e posto de defesa na fronteira meridional do reino nabateu, e que teria sido abandonada depois da anexação por Roma no ano 106 d.C. Escavações recentes revelaram que Hegra existiu durante mais tempo do que se imaginava, pois uma inscrição em latim mencionava a construção da sua muralha no ano 175.
O fim da Antiguidade ficou marcado por um acontecimento dramático: um sismo no ano 363 destruiu a via de pórticos e causou danos em edifícios. Por esta altura, já tinha chegado à cidade o cristianismo, que deixou uma notável pegada arquitectónica. Alguns edifícios (como o Mosteiro e o Túmulo da Urna) foram consagrados como lugares de culto cristão e ergueu-se uma nova igreja dedicada a Santa Maria. Ainda orgulhosa do seu prestígio como metrópole, Petra atraiu a família do arcebispo Teodoro, filho de Obodanos, cujas possessões se estendiam por toda a Arábia, Síria e Palestina.
A conquista muçulmana da região, no século VII, provocou o declínio definitivo da antiga capital nabateia, convertida em simples aldeia e abandonada. Depois, só os beduínos usaram as suas ruínas como abrigo durante as suas travessias. Até ao dia em que o viajante Burckhardt chegou e a cidade de Petra ganhou nova vida na imaginação dos amantes da Antiguidade.