Os trilhos nas serras setentrionais, integrados na Grande Rota do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), parecem adequados para dois dias de caminhada em autonomia e contacto com a natureza.

Estes trilhos situam-se nas serras de Castro Laboreiro e na serra da Peneda, agregando percursos bem distintos e com uma diversidade riquíssima. Oferecem também uma segurança adicional, pois a app da GR50, descarregável gratuitamente, permite planear todo o percurso e ter acesso aos principais pontos de interesse, ao mesmo tempo que assegura aos vigilantes da natureza algum controlo sobre quem está na área protegida e em que zonas. Quando iniciar um percurso, faça check-in na aplicação e, desta forma, se necessitar de socorro, será localizado muito mais rapidamente. Para começar a aventura, a mochila tem de ser bem preparada e o peso dividido e ponderado. Cada novo equipamento ou abastecimento a transportar será um peso adicional que tem de ser avaliado de acordo com a necessidade do caminhante. Em teoria, o peso a transportar não deve exceder 20% do peso corporal do viajante.

Gerês

Ao sobrecarregar a coluna, inevitavelmente isso reflectir-se-á nos joelhos e articulações e pode comprometer a viagem e a saúde.

Um fotógrafo, porém, não é a melhor pessoa para debater as questões do peso, já que o material fotográfico transportado obriga quase sempre a ultrapassar o recomendado. Também por isso, é imperioso fazer uma cuidada gestão do equipamento indispensável.

Na mochila, não pode faltar um frontal com pilhas extra, um GPS ou outro aparelho de orientação, um pequeno fogareiro, prato e talheres, caneca, pacotes de açúcar, um estojo de higiene e de primeiros socorros, um canivete, papel higiénico, manta térmica, material para dormida, filtro de água e alimentos.

O material da dormida depende da opção de cada um. Deve ser ponderado o volume e peso de um bom saco-cama e um bivaque.

Gerês

Ponte romana da Cava da Velha sobre o rio Laboreiro.

Numa caminhada de longo fôlego, os trilhos não constituem uma competição nem uma prova de esforço, mas requerem boa forma física e sobretudo abertura de espírito para viver uma aventura. No Gerês, é fundamental ter interesse pela descoberta da natureza e tirar o máximo de partido desta união e paz de espírito, respeitando tudo ao seu redor, evitando barulhos desnecessários, aproveitando os sons da natureza, respeitando a fauna, a flora e os costumes locais.

Uma regra sagrada é que todo o lixo produzido deve ser levado e é igualmente importante ter em conta a consulta do mapa de incêndios e do boletim meteorológico.

A aventura começa na primeira etapa do GR50 e acaba pouco antes do final da etapa 4. Entra-se na Ameijoeira, pequena aldeia que faz fronteira com Espanha e antigo posto da guarda fiscal. Caminhando entre socalcos e um pequeno bosque, passa-se a aldeia de Pontes. Pelo antigo caminho que a população e animais utilizavam para efectuarem a migração das Brandas para as Inverneiras, chegará à ponte romana da Cava da Velha, que ligava a via romana que entra em Espanha pela Portela do Homem, passando por Entrimo (Espanha) e Castro Laboreiro. A Ponte da Cava da Velha constitui uma das mais bem conservadas pontes históricas do PNPG.

Retomando a marcha, aponta-se a um ponto alto onde se começam a ver as ruínas do Castelo de Castro Laboreiro e a sua vila. São precisos ainda mais quilómetros de caminhada até se chegar ao centro da vila castreja, que tem inúmeras razões para ser visitada, incluindo o seu património pré-histórico.

Gerês

Um macho de cabra-montês.

Com a lentidão que se dedica às tarefas realmente importantes, a viagem prossegue por um vale com uma beleza encantadora e um conjunto de turfeiras importantes no vale da Portelinha. A segunda etapa começa e acaba em vales, que nos transportam com facilidade para o tempo dos nossos antepassados.

Do pinhal de Lamas de Mouro, segue-se o trilho junto ao rio Mouro que respira de fauna e envolve o viajante numa paisagem mística criada pelos antigos guardas florestais.

A meio do vale, não se espante se avistar a silhueta de um lagarto. A Portela do Lagarto está associada a uma lenda, segundo a qual consta que aqui existiu, em tempos, um grande lagarto que se alimentava de tudo o que passava, incluindo animais e humanos.

Depois de passar o lagarto sem ser comido, comece a descer para o vale da Peneda que, juntamente com o aglomerado da Gavieira e com as suas imponentes e únicas paredes graníticas, fazem deste o mais bonito e rico vale humanizado do Parque Nacional.

O Santuário de Nossa Senhora da Peneda merece uma visita. Descendo depois a Peneda, junto ao rio Pomba, encontrará um conjunto de socalcos conservados para a agricultura tradicional. Caminhará então junto de um rio que respira saúde: pequenas cascatas fazem fluir a água em poços deslumbrantes, num local onde se sentirá verdadeiramente pequeno, rodeado de grandes paredes graníticas e de fragas vertiginosas. 

Por fim, cansado mas reconciliado com a vida, pode terminar este trilho magnífico em frente de duas das paredes mais imponentes do nosso país: a fraga da Nédia e a fraga das Pastorinhas. Evoca a lenda de duas pastoras cuja memória já se perdeu. A parede vertical de 400 metros integra os sonhos de muitos escaladores portugueses e espanhóis.

É o final apoteótico para uma caminhada deslumbrante por um Parque Nacional já cinquentenário, mas  nem por isso desgastado.