Sento-me no areal da praia para calçar as barbatanas. A maré está cheia e as águas estão calmas e cristalinas. Os cardumes de tainhas nadam à superfície, à distância de duas braçadas. Coloco a máscara de mergulho na cara e deslizo para a água focado nos rochedos a meio da baia do Portinho da Arrábida. Estou em pleno Parque Marinho Luiz Saldanha, área classificada desde 1998 como reserva marinha. Das vastas pradarias marinhas por onde nadei muitas vezes a observar uma rica diversidade de criaturas marinhas há 40 anos, nada resta. Apenas uma mancha verde, após transplante, resiste numa zona a oriente desta baía do Portinho.

Parque Marinho Arrabida Cabo Espichel LuisQuinta
Luís Quinta

No cabo Espichel, concentram-se valores de bio e geodiversidade. Há aqui dois monumentos naturais: a Pedra da Mua e os Lagosteiros.

Da superfície e com o fundo de areia a cerca de três metros de profundidade, a biodiversidade é enorme. Conto várias espécies de algas vermelhas, verdes, castanhas, crustáceos, peixes, moluscos e um sem-número de pequenos invertebrados (estrelas-do-mar, ouriços, pepinos-do-mar, espirógrafos, entre outros).

Retenho a respiração, mergulho e deito-me no fundo a dois palmos de uma rocha. A biodiversidade multiplica-se. Vejo agora claramente nudibrânquios, camarões, peixes escondidos em tocas e fendas, várias espécies de anémonas e esponjas. Registo alguns peixes a esconderem-se numa toca mais escura e volto à superfície. Recupero o fôlego e vou avaliando a movimentação de pequenos sargos que entram e a saem de um esconderijo temporário.

 

Parque Luiz Saldanha
Luís Quinta

 

Encho os pulmões, mergulho e vou explorar a actividade neste buraco amplo e escuro. O tecto da minigruta está forrado de esponjas de várias cores e formas. No interior, avisto dezenas de camarões, várias navalheiras e santolas de pequeno porte. No fundo e apenas com a cabeça visível, está um pequeno safio, tranquilo, que respira pausadamente. É um animal de hábitos nocturnos e será na escuridão que sai do seu abrigo para caçar.

Descubro mais crustáceos no tecto (bruxas ou cavacos), outras espécies de pequenas anémonas que preferem ambientes mais escuros. Volto para a superfície e ainda consigo identificar um polvo do tamanho da minha mão no topo da pedra.

 

17 Parque Marinho Arrábida12 LuisQuinta© HR
Luís Quinta

 

Enquanto recupero o fôlego à superfície, vários peixes atraídos pela areia que levantei ao regressar à tona de água disputam pequenos organismos que ficaram em suspensão. Movimento atrai movimento e várias espécies de peixes aproximam-se da comoção: sargos, cabozes, garoupas, blénios, um robalote e vários bodiões.

Com 38 quilómetros de costa (da Figueirinha à praia da Foz), onde as paredes verticais de rocha predominam, incluindo uma das maiores falésias calcárias da Europa (a escarpa do Risco com 380 metros de altura), pequenas praias de areias finas ou seixos rolados rasgam as arribas. Há inúmeros locais para mergulhar neste parque marinho.

 

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Se vestir um fato isotérmico e sair numa embarcação de um centro de mergulho, com ou sem garrafa de ar, a biodiversidade disponível para o observador multiplica-se. Em locais como a “Ponta da Passagem”, o destroço do navio River Gurara, na zona do cabo Espichel, ou o “Jardim das Gorgónias”, a “Pedra do Leão”, ou a “Baía da Armação” a nascente de Sesimbra, o catálogo de seres vivos disponível para observação pode ascender às largas centenas de espécies.

Ao largo da costa, há outra fauna, peixes pelágicos como tubarões, atuns, peixes-lua, ou mamíferos marinhos como golfinhos e baleias. São raras, mas também por ali passam tartarugas de várias espécies.

 

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No Portinho da Arrábida, pode sentir-se o efeito das marés e deixo-me ir com a pequena corrente acompanhando pequenas medusas. O frio faz-me pensar em voltar a terra, mas ainda vislumbro, numa esquina de rocha, várias tainhas e salemas a disputar a atenção de peixes limpadores. Pequenos bodiões e sarguetas concentram-se em parasitas ou outras anomalias que estes “clientes” tipicamente procuram no serviço de uma estação de limpeza.

Com água pela cintura, retiro os óculos de mergulho e descalço as barbatanas. Olho em frente e vejo as altas encostas verdejantes da serra da Arrábida. Outro mundo repleto de maravilhas naturais para explorar, fica para o passeio da tarde…

Parque Marinho Luís Saldanha

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