Piódão - O elemento aquático está bem presente no  vale onde corre a ribeira do Piódão, que proporciona a existência de uma praia fluvial. A aldeia espraia-se encosta acima. A praia recebeu este ano a Bandeira Azul.

Camisolas garridas, calções, calçado, boné, mochila às costas e bastão nas mãos. Uns caminham a passo, outros avançam a ritmo invejável. Um pouco mais à frente, um grupo de ciclistas visivelmente eufórico ultrapassa os caminhantes, empoleirado em bicicletas  e deixando as marca dos pneus impressas no solo empoeirado.

À vista desarmada, o que os distancia, além das BTT, são as camisolas térmicas e os capacetes. Mas une-o algo mais profundo: o gosto pela comunhão com a natureza, a paixão pelos recantos mágicos do território português, o culto do exercício físico, a definição e superação de metas autopropostas. Quando se pode fazer tudo isto no contexto de aldeias históricas que o tempo não conseguiu apagar, há um impulso para sair da cidade e partir à descoberta.

Ciclovia - Uma das etapas da rota termina em Almeida, e é de bicicleta que melhor se percorrem as ruas intricadas e praças da vila.

 De Belmonte a Almeida, este território resistiu à voragem do tempo e esperou os séculos necessários para poder ser apreciado como merece – a pé, a pedalar ou, ocasionalmente, de automóvel, nas ligações indispensáveis do território da Grande Rota 22, um conjunto de trilhos e percursos imaginado para unir fisicamente a experiência das Aldeias Históricas de Portugal.

A GR22 pode começar virtualmente em qualquer aldeia. É como a correia transportadora de um aeroporto – o viajante pode entrar em qualquer ponto e concluir uma volta completa, desde que venha munido de vontade, sentido lúdico, espírito de grupo e desejo de novas experiências. O prémio de participação é delicioso: o desfrute da excelência gastronómica da região e o merecido descanso em unidades de alojamento que preenchem todos os gostos e orçamentos. Quanto ao resto… basta apenas dar força aos músculos. 

À conquista das aldeias

MARIALVA - O simbólico castelo de Marialva dá guarida aos caminhantes que percorrem este troço da Grande Rota. Bem perto das muralhas, as Casas do Côro são um dos locais de alojamento para um retemperador descanso.

 Ao virar de uma curva, dá-se de chofre com o Piódão. Longe vão os tempos em que uma viagem à aldeia era uma aventura, pois o único acesso era uma periclitante estrada de terra batida. Hoje, as facilidades de acesso são bem expressas pelo número considerável de turistas que enxameiam as ruas e a praça de entrada. Como um segredo antigo, o Piódão foi finalmente descoberto, mas preserva ainda muita da sua alma talhada a xisto. A aldeia está pendurada numa das vertentes da serra do Açor. As casas descem harmoniosamente até à praia fluvial, mas é a caminhar, entre o dédalo de ruas e escadarias, que se sente o pulsar da povoação. Vale a pena interromper aqui uma etapa da GR 22 e desfrutar da praia fluvial, recentemente distinguida com a Bandeira Azul.

Turismo de bem-estar - Nos arredores de Penamacor, numa área isolada, encontra-se o Moinho do Maneio, uma unidade de turismo rural que convida ao descanso, ao sossego, ao usufruto do rio e à prova da framboesa, uma das produções da casa.

De serra para serra, a GR 22 pode encaminhar-se para sul, para a Gardunha, num percurso sulcado a granito. Castelo Novo é uma pequena iguaria, ao alcance de qualquer viajante que consiga fugir à tentação das viagens rápidas por auto-estrada. No centro histórico, a visita à Casa da Lagariça é uma excelente forma de conhecer os modernos artistas da região, assim como o atelier Histórias Criativas, um projecto de carácter educativo impregnado de carinho e paixão. Sob o tema das Aldeias Históricas e das suas lendas, são os bonecos que contam as narrativas. 

SORTELHA - A histórica aldeia é um dos melhores fins de etapa que se pode encontrar na GR22. O centro histórico, o pelourinho, o pano de muralhas, a torre do castelo prendem o olhar, numa região marcada pelas pedras graníticas que se equilibram e encaixam como um puzzle.

A GR 22 continua por paisagens graníticas, passando por Idanha-a-Velha, antiga cidade da nobreza visigótica, a partir da qual se consegue avistar outra etapa da rota, Monsanto. Empoleirada na serra, como um vigia da planície, Monsanto é o cartão-de-visita mais conhecido da rota. As casas embutidas nas rochas, as vendedoras de “marafonas”, a íngreme subida ao castelo e a paragem na Adega O Cruzeiro para saciar o estômago são, afinal, a resenha de uma aldeia que resiste às agruras do Inverno e à canícula do Verão, mas sobretudo mantém uma identidade numa era de homogeneização.

Para norte, a rota aponta para Belmonte, que tem no interactivo Museu dos Descobrimentos uma das suas jóias, e continua para a apaixonante Sortelha. Cada casa foi negociada com a serra e arrancada ao granito. A graciosidade medieval do centro dominado pelo pelourinho e o espantoso pano de muralhas que se ajusta ao terreno demonstram a antiga imponência da aldeia. Em Sortelha, respira-se história e é uma experiência inesquecível terminar uma das etapas da GR22, rompendo pela porta amuralhada e “conquistando” a aldeia.

Perto da fronteira, nas imediações de Aranhas (Penamacor), um dos melhores locais para descansar as pernas, o corpo e a mente dá pelo nome de Moinho do Maneio. É uma casa de turismo rural onde o sossego é a palavra de ordem.  Junto do rio, a integração na paisagem de redes, cabanas e outras estruturas de lazer são um justo prémio para o caminhante.

Festival de sabores  - A região beirã interior possui uma gastronomia riquíssima. Entre os seus produtos autóctones, saliente-se a abóbora porqueira, o queijo de cabra, as ervas aromáticas, os enchidos, os biscoitos, o mel, as compotas e o cada vez mais reputado vinho da região.

Segue-se no sentido nordeste, passando pela paisagem refrescante da barragem da Meimoa, até se chegar  à grande “meca” do parapente e asa delta do país, Linhares da Beira. Continua-se depois para Castelo Mendo, um dos locais mais aprazíveis para descobrir a hospitalidade e o coração beirão, vincado por séculos de tradição.

A GR22 faz-se acompanhar, em vários troços, pelas águas revoltas do rio Côa e um dos melhores miradouros encontra-se na ponte manuelina, no caminho para Almeida, vila delimitada pela singular fortaleza de forma estelar. A partir de Almeida, pode apontar-se para Oeste, passando por Trancoso, e depois rumar a norte até Marialva. A aldeia é dominada pelo castelo, e é nas suas imediações que se ergue uma unidade de alojamento de justificada fama, as Casas do Côro. Aqui, centro oficioso da vinicultura da GR22, presta-se culto a Baco. As Casas do Côro dispõem de terrenos nas imediações da aldeia para provas vinícolas ao ar livre, numa área primorosa entre vinhedo e rochas de granito. 

STAR CAMP - Em plena reserva da Faia Brava, apresenta-se um alojamento original. As tendas dispõem do conforto que se encontra noutras unidades mais tradicionais, mas aqui dorme-se no mato sob um céu forrado de estrelas.

 Com onze aldeias históricas para trás, resta a última etapa da GR22, cuja meta é alcançada em Castelo Rodrigo. O percurso é sinuoso, mas, como todos os testes, produz uma recompensa: o viajante que vence o trilho encontra uma pequena povoação, com um passado invejável: Moreira de Rei. O largo central é dominado por uma igreja românica do século XII. À sua volta, dezenas de sepulturas antropomórficas, claramente talhadas na rocha, são um tesouro arqueológico. Um pouco mais adiante, num promontório rochoso, restam alguns troços de muralha do castelo, que, aproveitando a configuração dos blocos graníticos, servia de baluarte defensivo no alvor da nacionalidade. A GR22 passa por aqui e chega, finalmente, a Castelo Rodrigo. A aldeia é facilmente identificável: o recorte das ruínas de um antigo palácio e os troços de muralha do castelo conferem-lhe uma aura austera, mas as lojas de artesanato, as casas de turismo rural e até algumas passagens de modelos injectam vitalidade nesta comunidade.

A noite na GR22

A GR22 é também uma experiência de turismo de natureza e essa mensagem torna-se evidente a norte, onde a Associação Transumância e Natureza desenvolve o projecto Faia Brava,  uma área protegida privada que procura preservar perto de mil hectares de grande valor botânico e faunístico, com especial ênfase para os garranos e os britangos.

Nem só de dia se sente a GR22. Uma das experiências indispensáveis passa-se à noite no Star Camp, em plena reserva da Faia Brava. Entre a vegetação, o jeep abre caminho a custo. É noite escura, mas os faróis permitem ver um javali que foge à nossa frente. Em campo mais aberto, o viajante sobe uma pequena elevação rochosa. Ali perto, são montadas as tendas – estruturas rectangulares de madeira e tecido envolvem a cama com mosquiteiro e demais comodidades. O Star Camp pode definir-se como campismo de glamour.

Mais adiante, o terreno inclina-se, descendo para um vale – o vale do Côa, habitado por grifos, águias-de-bonelli… e pelas gravuras rupestres que colocaram Foz Côa nas bocas do mundo. É noite cerrada e o silêncio só é cortado pelos sons dos animais que reclamam para si a reserva. As únicas luzes são as que estão no céu, um mapa de estrelas e planetas onde se destaca o braço da Via Láctea.
O céu mostra-se coberto de milhares de estrelas. Tão brilhantes como o brilho que ilumina as Aldeias Históricas de Portugal.  

CADERNO DE VIAGEM

Como chegar

A A23 e a A25 são os acessos vitais  de todo o território, hoje bem servido de vias rodoviárias.

Quando ir

Dos desportos de Inverno às piscinas fluviais de Verão, todas as épocas do ano são favoráveis para explorar a região.

Onde ficar

A Rede das Aldeias Históricas de Portugal dispõe de numerosos parceiros hoteleiros e de restauração, onde encontra soluções para todas as bolsas e épocas do ano. 

O que visitar

Para além das 12 Aldeias Históricas, não perca o Parque Natural da Serra da Estrela, a Reserva da Serra da Malcata, a Faia Brava e as gravuras rupestre do Coa.

mais informações

www.aldeiashistoricasdeportugal.com

FAIA BRAVA, ÁREA PROTEGIDA

 A reserva da Faia Brava é uma área protegida privada implementada pela Associação Transumância e Natureza (ATN). O projecto começou com a aquisição de 25 hectares na zona do Côa e, hoje, abrange já mil hectares.  Entre as várias espécies que aqui se refugiam, saliente-se a abundância de grifos, abutres e águias-de-bonelli. A ATN aposta em vários produtos, como o azeite biológico.