Seja pela riqueza da vida que alberga e pela diversidade geológica que expõe, seja o enigmático registo arqueológico que apresenta ou ainda as perspectivas deslumbrantes que oferece, a Rocha da Pena é um património natural do Algarve. Ergue-se a norte da aldeia da Pena, culminando a 480 metros de altitude e exibindo uma escarpa ensolarada de mais de 50 metros, uma verdadeira montanha local que se estende de oeste para leste entre a aldeia da Penina, na União de Freguesias de Querença, Tôr e Benafim, e a aldeia de Alcaria, na freguesia de Salir.
Do topo da Rocha da Pena, os dois miradouros do planalto, acessíveis pelo trilho pedestre PR18, permitem descobrir duas paisagens encantadoras e contrastantes: a Norte o “Algarve pardo” da serra, formado por rochas impermeáveis, dobradas e metamorfizadas, como os xistos e grauvaques, e a sul, em primeiro plano, o “Algarve prata” do Barrocal, caracterizado por rochas calcárias esculpidas e carsificadas pela água doce que dá origem aos aquíferos subterrâneos, quando ao longe o baixo relevo do litoral dá lugar ao brilho azulado das águas do oceano Atlântico.
A Rocha da Pena constitui o maior e mais notável relevo estrutural resultante da combinação dos movimentos tectónicos, da erosão das rochas e do encaixe da rede hidrográfica, que se encontram ao longo de uma faixa de transição designada por Beira-Serra ou “Algarve vermelho”, por aflorarem rochas avermelhadas como o famoso “grés de Silves”, bem visível no Castelo de Silves.
Tornou-se Sítio Classificado em 1991 e Paisagem Protegida Local em 2010. Mais recentemente, tem merecido atenção por abrigar uma jazida de fósseis, únicos no mundo, de salamandras gigantes da espécie Metoposaurus algarvensis que viviam por cá há cerca de 220 milhões de anos. Foi aliás esta descoberta que deu origem ao projeto do Aspirante Geoparque Algarvensis, que uniu os municípios de Loulé, Silves e Albufeira e a Universidade do Algarve numa candidatura deste território de cerca de 1.381 quilómetros quadrados a geoparque da UNESCO.
A Rocha da Pena é muito mais do que um relevo ou um fóssil. Ao longo das suas encostas, da base ao topo, aflora uma reconhecida geodiversidade que sustenta a sua singular biodiversidade. À geodiversidade da litologia, com rochas sedimentares continentais detríticas ou carbonatas marinhas e rochas vulcânicas, alia-se uma elevada diversidade de espécies vegetais: mais de 535 já identificadas, algumas das quais raras e endémicas, como o delicado narciso (Narcissus calcícola) encontrado em fendas de rochas calcárias. Também os insectos, anfíbios, aves e mamíferos, nos quais se destacam os morcegos, justificam uma visita.
Esta exuberância natural talvez seja o motivo para o interesse dos seres humanos por este local desde a Idade de Ferro. Então, construíram-se ali dois enigmáticos amuralhamentos que ainda carecem de estudo mais aprofundado. Seja para investigar, escalar, caminhar ou simplesmente contemplar, a Rocha da Pena continua a intrigar o ser humano desde a pré-história. Talvez seja a vez de o leitor vir descobrir porquê.