Talvez isso se deva ao facto de a maioria dos seus habitantes não ser originária daqui, mas sim das restantes províncias de Espanha. Ou talvez porque nunca se construiu uma identidade de Madrid, para lá das zarzuelas e sainetes. Parece sempre que o madrileno tem mais estima por outras paisagens do que pela sua.
Dada a sua posição no centro da Península, Madrid não tem acesso fácil ao mar, nem a montanhas deslumbrantes, como os Pirenéus ou a Sierra Nevada. Os seus habitantes abandonam a cidade apenas na altura das férias, vivendo o resto do ano com intensidade. É por isso que os parques locais, como a Casa de Campo, o Retiro, o Parque de Berlim ou o Parque do Oeste, são muito populares. Oferecem um substituto para o contacto com a natureza, o único pulmão no qual se pode obter ar puro e deleitar a vista.
Se há algo que distingue Madrid é o desejo de convívio e a diversidade de opções é quase infinita. Museus, galerias de arte, restaurantes, cafés, bares, livrarias, centros culturais, teatros, salas de concerto e, em menor grau do que antes, cinemas, compõem uma oferta cultural incessante. Ao iniciar a jornada pelos bairros de Moncloa-Argüelles, encontram-se o Museu da América e o Museu do Traje junto da Cidade Universitária. De seguida, um passeio de ida e volta no teleférico entre o Parque do Oeste e a Casa de Campo oferece uma panorâmica privilegiada da cidade. Daqui pode fazer-se uma caminhada até ao Templo de Debod, um presente do governo egípcio como agradecimento pela ajuda espanhola na construção da barragem de Assuão. A curta distância fica o Museu Cerralbo (Ventura Rodríguez, 17), uma mansão do século XVII recomendada não apenas pela sua colecção de pinturas, esculturas, cerâmica, vidros, tapeçarias, móveis, moedas, desenhos e armas, mas também porque permite perceber como vivia uma família aristocrática do século XIX. Nas proximidades, fica a Plaza de los Cubos e a Rua Martín de los Heros, sempre efervescentes pelos seus cinemas que passam versões originais dos filmes.
Aqui também se encontra a melhor livraria de cinema de Madrid, Ocho y Medio, um lugar encantador onde também pode tomar um café.
Daqui, a visita prossegue até ao Palácio do Oriente e à Praça de Isabel II, mais conhecida como Praça da Ópera, onde fica o Teatro Real. Não é o único espaço dedicado à música clássica na cidade: os apreciadores do género podem assistir a concertos todos os dias no Auditório Nacional, no Teatro da Zarzuela e, em dias especiais, no Monumental. A poucos passos, situam-se o Palácio Real e os jardins adjacentes de Campo del Moro. Neste sector da cidade, fica também o Senado e, ao lado, o Convento da Encarnação, fundado no século XVII e ainda habitado por freiras em clausura.
Descobrir Madrid através dos museus e festas
Como deslocar-se: O metro e o autocarro levam a todo o lado. Existe bilhete de transportes para vários dias. Madrid conta com 45 quilómetros de ciclovias e um serviço público de aluguer de bicicletas: BiciMAD (www.bicimad.com).
Onde ficar: Há ampla oferta que se pode pesquisar nos principais motores de busca.
Museus/Entradas:
Cartão Paseo del Arte.Válido para Thyssen-Bornemisza, Prado e Reina Sofia.
5 Museus. Outra Madrid. Os Museus de Artes Decorativas, Cerralbo, Romantismo, Sorolla e Lázaro Galdiano.
APP Paseo del Arte Imprescindible. Mostra 24 obras dos museus do Prado, Reina Sofia e Thyssen-Bornemisza.
Festas:
2 de Maio | Eventos culturais e concertos em toda a cidade.
11 a 15 de Maio | Festas de Santo Isidro. Desfiles, concertos e festas tradicionais.
2 a 8 de Agosto | Festas de São Caetano, na zona do Rastro/Embajadores;
9 a 11 de Agosto | São Lourenço em Lavapiés;
12 a 15 de Agosto a mais importante, festa da Virgem de la Paloma, no bairro de La Latina.
Mais adiante, perto da Porta do Sol, ergue-se o Mosteiro das Descalças Reais. Em estilo renascentista plateresco, este antigo palácio possui obras de arte extraordinárias com destaque para as pinturas de Zurbarán, Ticiano e Pieter Bruegel. De lá, pode atravessar-se a Rua do Arenal e a Rua Maior, duas artérias tradicionais e repletas de história. As lojas modernas alternam com as históricas, como as duas maravilhosas confeitarias, onde se pode e deve fazer uma pausa, como El Riojano e La Mallorquina, abertas desde 1855 e 1894, respectivamente.
Do outro lado da Porta do Sol, na Carrera de San Jerónimo, funciona desde 1839 o Restaurante Lhardy, um clássico onde, além de refeições à mesa, também é possível consumir um caldo quente no bar. Da Porta do Sol, é conveniente caminhar até à Praça Maior e atravessá-la para sair na Rua Maior.
Aqui encontra-se o antigo Mercado de São Miguel, hoje renovado e dedicado apenas a tapas gourmet. É preciso ter atenção às horas de maior aglomeração que tornam impossível provar um simples croquete. O melhor é ir… fora de horas.
Mais silencioso é o caminho que conduz ao Viaduto de Segóvia, um passadiço protegido com vidro de segurança que oferece panorâmicas impressionantes do sector ocidental da cidade e da Casa de Campo. No outro extremo da ponte, alcança-se Vistillas, um pequeno parque ao lado do qual está o tablao Corral de la Morería. Os fãs de flamenco também contam com a Casa Patas, Cardamomo ou Villa-Rosa, todos no bairro de Las Cortes. Seguindo a Rua Bailén, descobre-se a igreja mais bonita de uma cidade que não tem igrejas notáveis, pois a de Almudena não é particularmente interessante. Em contrapartida, a Igreja de São Francisco, o Grande (1768), ostenta uma magnífica cúpula e exibe pinturas de Zurbarán e Goya no interior.
O passeio deriva depois para o bairro de La Latina, famoso pelo teatro com o mesmo nome e pela incrível oferta gastronómica. A Praça de la Paja e as ruas adjacentes animam uma área que nos últimos anos foi escolhida por artistas para residir. Em La Latina, nascem a Cava Baja e Cava Alta, cheia de bares erestaurantes para todos os bolsos.
Pela Praça de Castro, chega-se a Lavapiés, outro dos bairros mais antigos de Madrid, onde hoje se ouvem idiomas de todo o mundo. Comunidades do Paquistão, da China, de Marrocos, da Nigéria e de muitos outros países reúnem-se nas suas ruas populares. É também neste bairro que se encontra uma das sedes do Centro Dramático Nacional, o Teatro Valle Inclán, com um programa sofisticado.
Também abundam em Lavapiés cafés e teatros alternativos com programação mais ousada, como a Sala Mirador (Doctor Fourquet, 31) ou o Teatro del Barrio (Zurita, 20), impulsionado entre outros por Alberto San Juan.
É altura de interromper a caminhada para beber uma imperial e saborear uma dose de camarão grelhado em El Boquerón (Valência, 14), o aperitivo mais característico de Madrid, antes de prosseguir pela Rua Argumosa até as galerias de arte em redor do Museu Rainha Sofia, em frente da estação de Atocha. Alguns quarteirões para sul, na Ronda de Valência, fica a Casa Encendida, um notável centro cultural, e em frente, o Teatro Circo Price, dedicado exclusivamente ao circo de vanguarda e à música ao vivo.
É difícil resumir a Madrid cultural, porque quase todos os bairros têm uma oferta ampla e rica. O eixo do Passeio do Prado é óbvio, com o Museu do Prado, o Caixa Forum, o Museu Thyssen, a Casa da América, a Biblioteca Nacional e a Fundação Mapfre. Também existem pequenos museus para uma curta visita que passam despercebidos, como o Museu das Artes Decorativas Nacionais (Montalbán, 12).
Museu Reina Sofia. A ampliação desenhada por Jean Nouvel. Fotografia de Age fotostock.
A Fundação Juan March (Castelló, 77), o Museu Sorolla (Martínez Campos, 17) e o Lázaro Galdiano (Serrano, 9) estão localizados no elegante bairro de Salamanca e são autênticas jóias onde se pode fugir às multidões. Outro centro imprescindível para quem procura uma visão diferente de Madrid é o Museu Nacional do Romantismo (San Mateo,13), localizado no coração do bairro de Malasaña.
Se o bairro de Salamanca, a leste da Praça de Colombo, é considerado o coração do luxo devido às lojas emblemáticas nas ruas Serrano, Goya e Ortega y Gasset, não se deve esquecer que também se localiza aqui o excepcional Museu Arqueológico Nacional (Serrano, 13).
Do outro lado da Castellana, os bairros de Chueca e Malasaña oferecem uma Madrid tradicional e moderna.
A rua pedestre de Fuencarral ou a Praça de Chueca apresentam um labirinto heterogéneo de becos cheios de lojas. A área em redor da Praça das Salesas e as ruas Barquillo e Fernando VI também se converteram numa colmeia de lojas e cafés requintados. De Chueca, regressa-se à Gran Vía, onde os velhos cinemas foram convertidos em teatros musicais. Na Rua Fuencarral, o Espacio Telefónica exibe vasta programação de exposições e eventos, bem como um interessante Museu das Telecomunicações.
Segue-se o Bairro das Letras, que se estende à Rua Huertas e à área de Cortes, outro bairro com uma intensa vida diurna e nocturna. Aqui pode visitar-se a Casa de Lope de Vega ou assistir a um clássico no recentemente renovado Teatro da Comédia. O Teatro Espanhol, com as suas duas salas, completa a oferta teatral deste sector da cidade.
Bairro de Huertas … ou das letras. A área definida entre a Porta do Sol e a Rua Atocha e o Paseo del Prado é uma das mais antigas de Madrid e também uma das mais frequentadas à noite. A Praça Santa Ana e a Rua Huertas são as mais animadas, com bares de tapas, tabernas clássicas, pubs e telhados convertidos em terraços de Verão. O outro nome do bairro, das Letras, deve-se à actividade dos seus teatros e também ao facto de escritores como Cervantes, Góngora, Quevedo ou Lope de Vega terem morado aqui. Não pode perder o Mercado de las Ranas, que se realiza no primeiro sábado de cada mês. Fotografia de Age Fotostock.
Descendo à Praça Tirso de Molina, com o teatro clássico Nuevo Apolo, atravessa-se Lavapiés e La Latina até alcançar a margem do Manzanares e do Parque Madrid Río, um espaço ganho à auto-estrada M30, agora soterrada. Apesar da aparência moderna destes jardins, com trilhos para corrida e ciclovias, uma parede de escalada e um parque de skate, é uma das áreas de povoamento mais antigo da capital, como atestam os romances de Pío Baroja.
Um passeio agradável percorre a área que abrigava o antigo Estádio Vicente Calderón até Matadero, um belo complexo de edifícios de tijolo transformados hoje num grande centro cultural. Possui Cinemateca, teatros, salas de exposições, a Casa do Leitor, a Companhia Nacional de Dança e cafés onde se come bem por um preço razoável.
Em Maio, durante as festividades de Santo Isidro, o local que mais capta a atenção na área é a Pradera de San Isidro, do outro lado do Manzanares. Foi a partir desta colina que Goya pintou, em 1788, um panorama inesquecível de Madrid, com a cúpula de São Francisco destacando-se ao longe. A cidade de hoje é muito maior, mas igualmente vital e hospitaleira.