Em Bududa, um distrito luxuriante, mas propenso a deslizamentos de terra, situado na região oriental do Uganda, Mary Butsina e um número crescente de mulheres agricultoras estão a construir um modo de vida baseado no café. “Sustento os meus dez filhos graças a ele”, diz a mulher de 36 anos segurando um balde vermelho, com o Monte Elgon pairando ao fundo.
Descendente de uma família de agricultores, Mary começou a trabalhar com o pai aos dez anos. As receitas da plantação de café pagaram-lhe as propinas da escola. Casou-se com um jovem de uma família que também se dedicava ao cultivo: o seu marido deu-lhe cem cafeeiros como presente de casamento. Desde então, Mary plantou mais de 300 e juntou-se a uma cooperativa de mulheres. “O objectivo era reduzir a dependência das mulheres em relação aos homens no negócio do café”, diz. Ela é uma de cerca de 100 membros, embora também tenha sido permitida a adesão dos maridos – uma vez que eles tendem a ser os proprietários das plantações de café e ajudam as mulheres no negócio – elevando o número de membros para 200. A colectividade inspirou outras pessoas. “Cada vez mais mulheres começam a plantar o seu próprio café”, diz Mary.
Butsina levanta-se cedo todos os dias para colher os frutos de café arábica. “É um trabalho duro, mas, quando nos concentramos, pode tornar-se fácil”, diz Mary. Depois de colher o fruto maduro, ela coloca-o num balde de água para separar os grãos doentes. Se um grão tiver sido danificado por um insecto ou uma doença, flutuará, sendo removido antes de os grãos bons serem colocados numa máquina operada manualmente que separa a parte exterior do fruto da semente: o grão de café. Os grãos são posteriormente fermentados em água durante pelo menos dois dias antes de serem postos a secar ao Sol, em tabuleiros de madeira.
DENIS ONYODI
Mary Butsina espera ganhar dinheiro suficiente para comprar a sua própria viatura para ter mais facilidade em ir buscar água.
Depois de secos, os grãos são reunidos e, mais tarde, recolhidos pela Endiro Coffee, uma empresa social que trabalha com explorações orgânicas dirigidas por mulheres. O café é triturado, torrado e moído, ficando pronto a usar.
Numa época boa, Mary diz que pode ganhar 6.000.000 xelins ugandeses (cerca de 1.500 euros) — um rendimento decente para esta área. No resto do ano, ela trabalha como costureira.
A vida não tem sido fácil para os agricultores de Bududa, que enfrentaram deslizamentos de terra anuais nos últimos 15 anos. Em 2018, a casa da mãe de Mary foi destruída e ela perdeu vários membros da sua família, bem como algumas plantações de café. Mary sonha com viver numa casa sólida com água nas proximidades, para não ter de andar muito para ir buscá-la e com ter a sua própria viatura – mas terá de esperar para conseguir poupar dinheiro. “Já trabalhei muito e não quero parar, mas quero que o meu dinheiro 'trabalhe' a meu favor”, diz.