Miróbriga fica situada no limite de uma faixa acidentada que se desenvolve a leste, constituída pelos contrafortes das serras de Grândola e do Cercal, de que a colina onde se situa o oppidumsepodeconsiderararetaguarda. As serras de Grândola e do Cercal eram ricas em cobre e ferro, muito provavelmente um dos motivos que terão contribuído para a ocupação do local. Distando aproximadamente 15 quilómetros em linha recta da actual Sines, o oceano Atlântico viabilizava os recursos piscícolas e favorecia as trocas comerciais. Uma rede viária de época romana permitiria a circulação de bens e de gentes, quer para oeste, quer para o interior.

Miróbriga foi objecto de várias campanhas de escavação desde o século XIX, promovidas por Frei Manuel do Cenáculo, e de inúmeros trabalhos arqueológicos durante todo o século XX. Enquanto bispo de Beja, este visitou Santiago do Cacém, em 1800, para a sagração da Igreja Matriz destruída pelo terramoto de 1755.

Logo nessa altura, iniciaram-se em Miróbriga escavações, depois retomadas em 1801 e 1808. O responsável pelas mesmas foi o pároco de Santiago, padre Bonifácio Gomes de Carvalho, tendo sido integrados os materiais aí encontrados no Museo Sezinando Cenaculano Pacense, em Beja, e, mais tarde, quando Frei Manuel do Cenáculo já era arcebispo, na cidade de Évora. Em 1914, José Leite de Vasconcelos, fundador do Museu Nacional de Arqueologia, dá-nos conhecimento de vestígios arqueológicos nas proximidades de Alcácer do Sal, Santiago do Cacém e Sines. Descreve algum espólio proveniente de Miróbriga, em posse de um particular, e transcreve os textos de quatro inscrições que viu “num tanque à entrada da vila”, que admite serem cópias, bem como a célebre inscrição consagrada a Esculápio, à data colocada “na parede do antigo hospital da vila”.

Também João Gualberto da Cruz e Silva, advogado e investigador natural de Santiago do Cacém, fez em Miróbriga inúmeras sondagens e escavações. Foi o fundador e director do Museu Municipal de Santiago do Cacém, ao qual doou a maioria do espólio proveniente das suas escavações em Miróbriga, desenvolvidas entre 1922 e 1948.

mirobriga

Um aspecto do templo que Dom Fernando de Almeida procurou reconstituir com alguma ingenuidade. 

É deste investigador a primeira notícia sobre o hipódromo de Miróbriga, tendo sido por ele publicada a primeira planta conjectural do mesmo: “As águias romanas havendo levantado a Marte, Vénus, Vulcano e a Esculápioosseus votos, estando, por assim dizer, a bem com os Deuses, edificam semelhante ao Stadio entre os gregos – um circo tendo 395 passos de comprimento e 84 de largo.”

No século XX, registaram-se várias campanhas arqueológicas, destacando-se as coordenadas, a partir de 1959, por Dom Fernando de Almeida. Percebeu-se então que a cidade romana tivera uma ocupação anterior da Idade do Ferro, o Oppidum Stipendiarium referido por Plínio. Deverá ter funcionado como núcleo polarizador na Idade do Ferro, tendo-se instalado o aglomerado urbano no século V a.C., no esporão conhecido por Castelo Velho.

O contacto com Roma dá-se a partir de finais do século II a. C., sendo a ocupação plena datada do século I d. C. Ascendeu a Municipium na época flávia eteve grandes intervenções arquitectónicas nessa altura. O núcleo urbano apresenta as características comuns a uma cidade romana: fórum (praça principal com funções administrativas, judiciais e religiosas), banhos públicos, áreas residenciais, zonas de comércio e um plano viário estruturante. Após a decadência da cidade romana que se manifestou a partir dos séculos IV e V, foi construída, já no século XVI, sobre as estruturas romanas uma capela dedicada a São Brás.

A área nuclear do aglomerado urbano ocupa aproximadamente 3 ha, mas aparecem vestígios dispersos numa área com cerca de 8-9 ha, correspondendo à média das cidades provinciais da Lusitânia.

A malha urbana de Miróbriga adapta-se à topografia, desenvolvendo-se o casario em volta do forum como que em anéis concêntricos. Apesar de não apresentar as características ortogonais do modelo de urbanismo romano, as estruturas públicas obedecem aos cânones das edificações alto-imperiais.

mirobriga

O capitel coríntio do templo de Miróbriga deverá ter pertencido ao edifício das termas. Dom Fernando de Almeida, na ânsia de reconstruir a cidade romana, usou-o precipitadamente na reconstituição do templo. De alguma maneira, Miróbriga é também um espelho da evolução do pensamento arqueológico.

As calçadas, de lajes fortes, serpenteiam as colinas, organizando os bairros, o casario e o núcleo urbano. Drenam-se as águas, quer do interior das casas, numa complexa teia edificada debaixo do piso, quer rua fora, protegendo as casas de forma a que não se inundem. As soleiras das portas visíveis ao longo das calçadas indiciam as habitações ainda escondidas em Miróbriga.

Embora sejam pouco conhecidas as áreas residenciais, foram identificadas várias insulae (apartamentos) que atestam uma ocupação entre o século I d.C. e o século IV d. C. e várias casas de grandes dimensões.

Os balneários públicos de Miróbriga são um conjunto monumental com uma área aproximada de 1.100 metros quadrados. com dois edifícios adossados e articulados entre si, provavelmente para uso dos dois sexos.

De construção não muito distante no tempo (século I ou século II d. C.) podem considerar-se uma verdadeira aula de construção civil romana.

mirobriga hipódromo

O hipódromo. Com 359 metros de comprimento e 77,5 metros de largura, o hipódromo de Miróbriga é uma raridade no contexto da Lusitânia. Foi identificado em 1949. Em 2010, sob coordenação de Filomena Barata, dois alunos de arquitectura propuseram uma possível configuração do hipódromo no século II. Ilustração: Anyforms Design. Baseada na tentativa de reconstituição de Andrea Alves e Nuno Cruz.

De salientar ainda a existência em Miróbriga de um hipódromo ou circo, distando um quilómetro do centro do aglomerado aproximadamente. Não se conhecem vestígios das suas bancadas, que deveriam ser construídas com madeira. A sua construção data do século II d. C. e o auge da sua utilização deve ter correspondido ao século III d. C., seguida de um declínio a partir de finais dessa centúria.

O hipódromo de Miróbriga está orientado de nordeste para sudoeste, orientação conveniente para não ofuscar os agitadores ou aurigae a qualquer hora do dia.

mirobriga localização

Ruínas Romanas de Miróbriga  

EN 120, Santiago do Cacém

Horário: 9h – 12h30 / 14h – 17h30 (3.ª feira a sábado); 9h – 12h / 14h – 17h30 (domingo)  

Contacto: Tlf.: +269 818 461