É como se a vila se tivesse estruturado em seu redor.
Razões históricas explicam a chegada até aos nossos dias desta pequena jóia. Outrora coutada de caça, a Mata do Bombarral permaneceu no domínio privado até ao século XX. Pero Esteves (capelão e homem principal de Óbidos) era proprietário da coutada e da casa senhorial conhecida como “Casa da Coutada”, que albergava os que passavam pelo Bombarral, frequentemente para fazer os momentos de caça.
Na crise de 1383-85, Pero Esteves tomou o partido de Castela, o que lhe custou a perda da propriedade e a sua entrega, pelo Mestre de Avis, a Luís Henriques, combatente da Ala dos Namorados na batalha de Aljubarrota.
A Casa da Coutada passou assim a ser residência deste cavaleiro, ficando também conhecida por Paço, por aqui terem pernoitado figuras da realeza, como o próprio João I de Castela, o Mestre de Avis e a rainha Dona Leonor, entre outras. Data de 1751 a última grande intervenção registada, estando por apurar em que medida esta intervenção incorporou o edifício medieval que então se encontrava em ruínas.
A flora é a estrela na Mata do Bombarral, mas vale a pena ficar atento aos cogumelos, aos insectos e às aves.
Pertencente ao termo de Óbidos durante séculos, o concelho do Bombarral só foi criado em 1914. Urgia então instalar a sede do novo município num edifício adequado e digno e a “velha Casa da Coutada”, ex-Palácio dos Henriques, preenchia todos os requisitos. A aquisição do edifício para Paços do Concelho ocorreu em 1940, incluindo a mata adjacente, que deveria passar a funcionar como Parque Municipal.
Em 1941, o engenheiro Cavique dos Santos veio ao Bombarral incumbido do levantamento dos danos causados pelo ciclone que assolou o país em 15 de Fevereiro. No relatório efectuado, reportou a retirada de 250 toneladas de madeira de aderno, medronheiro, carrasqueiro, entre outras espécies. Listou também as principais espécies, confessando-se surpreendido com as dimensões absolutamente invulgares apresentadas por alguns exemplares, encontrando aqui uma “velha família de gigantes”. Nesse ano a Mata Municipal do Bombarral foi classificada de “Interesse Público”.
Hoje, mais de oitenta anos volvidos, a mata é marcada pela presença, muitas vezes imponente, de árvores e arbustos típicos dos bosques mediterrâneos, que lhe conferem a particularidade de se apresentar, durante todo o ano, frondosa e verde, devido à dominância de espécies de folha persistente.
Adernos, medronheiros, aroeiras, sobreiros, carrascos e carvalhos-cerquinho dominam o espaço. Facilmente deparamos com sobreiros de dimensões extraordinárias, mas também carrascos e aroeiras com porte arbóreo. O clima ameno e a disponibilidade de água no solo favorecem o crescimento destas espécies naturalmente adaptadas para se desenvolverem em condições de alguma aridez.
Não se pense, porém, que a mata se caracteriza pela monotonia, sempre igual em qualquer altura do ano. A partir de Novembro, as bolotas e os medronhos inundam os caminhos e, com o Inverno, prolifera uma grande diversidade de cogumelos que apelam às objectivas mais atentas. Entre Março e Maio, algumas orquidáceas, ainda que discretas, convidam a um novo olhar. Não será necessário embrenharmo-nos no interior dos talhões – bastará uma atenção especial à beira dos caminhos.
A sombra, a frescura e a tranquilidade deste “bosque encantado” evocam os contos infantis. A todo o momento, as árvores parecem ganhar braços e conversarem umas com as outras.