Quando o avião inicia a descida, avistam-se ilhéus e ilhas dispersos pelo oceano. Alguns são atóis bem definidos com uma coroa de palmeiras e longas praias de areia branca que se estendem em volta da lagoa, enquanto outros são apenas braços de areia com palmeiras agrupadas numa das extremidades. Em algumas ilhas, vêem-se bungalows dos hotéis, apoiados em estacas e banhados pelo mar azul-turquesa. O paraíso não pode ser muito diferente desta imagem aérea.
As Maldivas poderiam facilmente entrar num concurso para o arquipélago com maior número de ilhas. Este país estende-se por uma extensão marinha de 90 mil quilómetros quadrados (uma área muito semelhante à de Portugal continental), 450km a sul da Índia.
Agrega 26 atóis e 1.192 ilhas de coral, das quais 203 são habitadas por cerca de 400 mil pessoas. A insularidade é uma das características desta república oceânica que conseguiu a independência do Reino Unido em 1965. O outro aspecto que a coloca continuamente nas notícias é o facto de ser o país com uma orografia menos acentuada. A altura média das Maldivas é de 1,5 metros. O monte Villingili, com 5,1m, é o seu cume mais alto!
Com estes dados, é compreensível que as grandes preocupações dos seus habitantes residam nas alterações climáticas e no risco que a subida do nível das águas do Índico representa. O maremoto de 2004 afectou as ilhas mais orientais, fez desaparecer duas dezenas de ilhas e forçou a evacuação de 14. Morreram 82 pessoas. Os cartógrafos foram obrigados a traçar um novo perfil do arquipélago. Felizmente, algumas ilhas recuperaram com rapidez.
A partir do aeroporto internacional de Malé, os hidroaviões da Maldivian Air Taxis repartem os viajantes pela centena de hotéis que existem no país. Desde o primeiro instante, torna-se evidente que as Maldivas mimam os seus visitantes. A indústria turística contribui com 28% do produto interno bruto, uma percentagem superior à da actividade pesqueira, a segunda fonte de receitas. No entanto, a história do turismo nas ilhas é muito mais recente: data da década de 1980.
No fim da década de 1960, especialistas das Nações Unidas realizaram estudos e concluíram que existiriam escassas possibilidades turísticas neste recanto do Índico. É um episódio que Ravi Dias-Jayasinha, um dos pioneiros da promoção turísticas das Maldivas, gosta de contar. Em 1972, Ravi preparou a primeira viagem organizada às ilhas para um grupo de italianos. A grande mudança chegou quando o aeroporto de Malé foi ampliado para que ali pudessem aterrar grandes aviões. Foram construídos vários hotéis.
Os primeiros turistas deslocavam-se para praticar caça submarina, mas, quando as autoridades locais proibiram esta prática, o mergulho ganhou protagonismo e converteu-se na principal atracção natural do país.
As Maldivas situam-se entre os primeiros destinos subaquáticos do planeta pela diversidade e quantidade de espécies animais (mais de duas mil), além de corais, que se observam num único mergulho. Entre os “troféus” mais apreciados destacam-se raridades como o peixe-crocodilo, o peixe-vela, o peixe-trombeta e o peixe-flauta, cujos nomes já revelam uma certa singularidade. Os mergulhadores entram na água sobretudo na esperança de encontrar os Big Three: o tubarão-baleia, a jamanta e o tubarão-cinzento-dos-recifes. Os dois primeiros são, apesar das suas dimensões, espécies totalmente inofensivas que se alimentam de plâncton, pequenos peixes e lulas. Os locais mais profundos são o lar de tubarões difíceis de encontrar noutros mares como o tubarão-de-pontas-negras, o tubarão-de-pontas-brancas e o tubarão-martelo. As empresas que vendem mergulhos no arquipélago conhecem bem os locais onde pode observá-los e até nadar com eles.
Ilhas de coral. Atol deriva da palavra atholhu. Os atóis das Maldivas são dos maiores do mundo. Formam-se à medida que um recife de coral cresce em torno de uma ilha vulcânica e esta se vai afundando no oceano.
Depois de amarar junto da ilha de Kuramathi no atol Alif Alif, 56km para oeste de Malé (ou 20 minutos de voo), uma lancha do hotel desembarca os visitantes numa belíssima praia de areia branca bordejada por palmeiras. O calor tropical dá as boas-vindas. É algo característico das Maldivas, onde raramente o termómetro marca temperaturas abaixo de 25ºC. Embora a temperatura se mantenha estável durante todo o ano, no momento da planificação da viagem, é preciso ter em conta as monções e a chuva que estas acarretam, sobretudo nos meses de Maio e Novembro.
A água da laguna que rodeia a ilha é tão clara que, sobre o fundo de areia branca, distinguem-se perfeitamente os pequenos peixes coloridos e os pequenos e inofensivos tubarões. Ao entardecer, mantas enormes aproximam-se, nadando preguiçosamente na praia junto do Sand Bar. Um empregado do hotel lança-lhes alimento enquanto os clientes fotografam ou tomam um cocktail na esplanada. A curiosidade de o islamismo ser a religião dominante nas Maldivas nota-se inclusivamente nos cocktails, já que até o conhecido Sex on the Beach,feito à base de vodka e fruta, mudou de nome e é aqui apelidado de Fun on the Beach.
A ilha de Kuramathi, que mede quase dois quilómetros de ponta a ponta, encontra-se entre as maiores do arquipélago, o que permite passear entre vegetação tropical exuberante, extensas praias, vários restaurantes e bares instalados na areia. Os bungalows ficam camuflados pela vegetação, embora existam alguns instalados sobre estacas, como se flutuassem. O proprietário do hotel negociou há 40 anos o usufruto de toda a ilha, aceitando transferir os pescadores que ali viviam para a ilha ao lado, Rasdhoo, onde foram construídas casas com electricidade, água corrente, rede de saneamento básico e outros serviços.
Agora, de certa forma, toda a ilha “pertence” ao hotel. Os oitocentos empregados são maioritariamente oriundos do Sri Lanka, da Índia, da Malásia ou da Indonésia. Territórios mais ou menos próximos que, apesar da influência cada vez maior da China, também fornecem produtos e alimentos às ilhas, como as mangas, que vêm do Sri Lanka ou da Tailândia, ou o vinho e o champanhe importados da Europa.
Nas Maldivas, os turistas e a população local raramente se misturam. Existem ilhas “hoteleiras” e ilhas de maldívios e estes últimos só podem aceder aos hotéis mediante autorização. Por outro lado, os pescadores não podem trabalhar nas águas próximas dos hotéis, uma vez que os desperdícios de peixe que lançam ao mar poderiam atrair tubarões e provocar tragédias. Dada esta separação entre os dois tipos de ilhas, para conhecer os maldívios terá de visitar a capital, Malé. Situada numa ilha tão repleta de edifícios que parece não ser possível construir mais nada, Malé tem mais de cem mil habitantes.
Na capital, vale a pena caminhar até à Praça da República e visitar o mercado de peixe, descansar no Parque do Sultão e deambular pelas lojas de recordações e restaurantes de comida picante. Os minaretes das mais de trinta mesquitas dispersas por este emaranhado de edifícios desenham o perfil da cidade, com a cúpula dourada da Grande Mesquita como principal referência islâmica.
Em contraste com o silêncio de outras ilhas, o ruído da capital é gerado por uma imensidão de motocicletas que circulam a qualquer hora e por todo o lado. Com este panorama, não é estranho que, depois de passar alguns minutos nesta superpovoada cidade, o visitante chegue à conclusão de que se trata de um mundo à parte e que pouco tem que ver com o resto das Maldivas.
A escassa distância, encontra-se a ilha artificial de Hulhumalé, inaugurada em 2004 para acolher instalações industriais, áreas comerciais e habitações que aliviem a densidade da capital. Antes de se converter numa república independente, em 1965, as Maldivas foram uma colónia portuguesa (a partir de 1558), holandesa (1654) e britânica (1887). O islão, claramente maioritário nas ilhas, impôs-se no século XII, segundo documentou Ibn Battuta, o explorador nascido em Tânger em 1304.
O chamado “Marco Polo árabe” visitou estas ilhas numa das viagens que fez por África, Médio Oriente e Ásia entre 1325 e 1354. Ibn Battuta viveu nove meses nas Maldivas, onde foi nomeado cadí ( juiz muçulmano) e exerceu o cargo de supervisor da moralidade islâmica. Entre os factos curiosos que narra, Ibn Battuta explica que, naquela época, as ilhas estavam sob domínio de uma sultana. A dieta baseava-se no consumo de cocos e peixe.
O viajante conta também que avistou mulheres com apenas um peito. Nas Maldivas, cada ilha é um mundo, pelo que vale a pena visitar mais do que uma. A norte e a sul da capital, existem dois atóis que podem ser objecto das primeiras visitas: Malé Norte e Malé Sul. Ambos preservam tradições insulares, como as esculturas de madeira e a produção de tambores. Mas se o propósito for alcançar as ilhas mais distantes, o meio de transporte mais fácil e rápido é o táxi aéreo que, em 15 minutos, conduz o viajante até à ilha de Maafushivaaru, no atol de Alifu Dhaalu.
Durante o voo, divisa-se uma multitude de ilhas, como se se tratasse de um catálogo em que cada um escolhe o que mais lhe interessa.
Por vezes, a agitação do mar complica as amaragens. Não será inédito que, depois de finalmente chegar ao destino, o visitante seja surpreendido com a novidade de ter aterrado em segurança... mas numa ilha diferente da desejada. Bastará esperar pacientemente que uma lancha do hotel de destino vá resgatar os “náufragos” ocasionais.
Maafushivaaru é uma ilha tão pequena que é possível circundá-la a pé em apenas dez minutos. O breve passeio é compensado pela beleza da praia, pela vegetação e pelos fundos marinhos. Basta pegar numa máscara, em barbatanas e num tubo para entrar num verdadeiro aquário repleto de peixes. Em alternativa, a plácida laguna é o local perfeito para o windsurf ou para os passeios de caiaque. O final da tarde pode ser aproveitado para uma saída de barco em busca de golfinhos.
Avistamento de golfinhos e baleias. Existem saídas de barco e a bordo de submarinos de pouca profundidade nos canais entre atóis que são frequentados pelos cetáceos.
O ilhéu de Lonubo, muito perto de Maafushivaaru, pertence também ao hotel e conta apenas com dois alojamentos. O preço por noite cifra-se em novecentos euros e, apesar da solidão, os alojamentos têm frigorífico, ar condicionado e Wi-Fi. O hotel envia diariamente por lancha a alimentação para os hóspedes.
Os viajantes que sonham ser Robinson Crusoés modernos, mas com todo o conforto, conseguem-no facilmente nas Maldivas. O cenário de ilhas desertas com longas praias bordejadas por palmeiras abundam. E o mar de apetecíveis tons turquesa constitui um convite constante ao mergulho.
A vida rodeada de água dá aos maldívios uma oportunidade de ouro para oferecer aos viajantes um incrível leque de actividades relacionadas com o mar. Os cruzeiros em veleiro ou nos tradicionais dhoni garantem um contacto mais próximo com as ilhas. Percorrem vários atóis durante uma semana, mas também podem ser contratados para menos dias. Voar num hidroavião (táxi ou com rota específica) ou de helicóptero constituem outras formas inolvidáveis de usufruir o arquipélago.
Uma das surpresas para os visitantes é a qualidade do artesanato e da cultura musical maldívia. Sob uma aparente simplicidade, as esteiras de tecidos vegetais, as peças de madeira ou pedra esculpida e as caixas lacadas coloridas revelam um gosto minucioso. A música tem também grande protagonismo nas ilhas.
Uma rica tradição de dança e música adoptou nos últimos anos ritmos mais ocidentais e modificou a cultura musical insular.
Velassaru é outra ilha com hotel. Aqui, dir-se-ia que o mar é mais azul e a areia mais branca. Parece que tudo nas Maldivas é idealizado para evocar o paraíso, inclusivamente no próprio mapa do país que não tem paralelo com qualquer outro, como se as ilhas tivessem sido espalhadas sobre uma grande tela azul.
Kurumba, um nome que significa coco no idioma local, é outras das ilhas hoteleiras. Os bungalows que existem aqui são mais antigos, mas continuam a ter o toque das Maldivas, com piscina privada, uma envolvente vegetação tropical, restaurantes junto do mar e a praia a um passo. Mesmo um mergulho a poucos metros permite ver um incrível fundo marinho e uma multiplicidade de espécies de peixes que confirmam, uma vez mais, que as Maldivas se encontram muito perto do conceito que nós, ocidentais, temos do éden.
CADERNO DE VIAGEM
Documentação. Passaporte.
Como chegar. Existem voos para a capital, Malé, a partir de Lisboa e do Porto. Os voos têm pelo menos uma escala.
Onde ficar. Em hotéis, resorts, casas de hóspedes e barcos que navegam pelos atóis.
Moeda. Rufiyaa.
Idioma. Maldivo ou dhiveni.
Diferença horária. Mais quatro horas do que em Portugal.
Melhor época. De Dezembro a Abril, para evitar a monção estival.
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