Primeiro, sobe-se pela margem verdejante do rio Lima, subindo e descendo conforme os humores do terreno. O viajante depara-se então com campos agrícolas e pequenas hortas. A linha de água afunila-se, como se ambas as margens se quisessem fundir pela vontade dos penhascos. Até que, num dos socalcos da serra Amarela, surge o Castelo de Lindoso, implantado num penedo rochoso como um terraço sobre a aldeia.
Sobe-se às ameias sob a sombra tutelar da torre de menagem e o que a vista abarca, a partir daqui, paralisa os sentidos. Parece irreal, como se viajássemos para outras eras – um oceano de espigueiros espraia-se pela eira comunitária. Os que não conhecem a função das estruturas tomam-nas por monumentos funerários quando, na verdade, são armazéns de cereal.
Terra antiga, Lindoso deriva do latim Limitosum, conforme registam as inquirições de 1258. E, como todas as terras de antanho, também esta está coberta pela névoa das lendas. Uma delas assegura que Dom Dinis, sempre preocupado com a consolidação do reino, ficou tão encantado com este recanto que rapidamente o apelidou de Lindoso. De facto, o soberano português visitou o castelo por diversas vezes, incluindo durante o processo de reconstrução da fortaleza, a partir de 1278.
Erguido na margem esquerda do rio Lima, o castelo é uma das imagens de marca da povoação e desempenhou uma função importante na defesa da zona raiana face às constantes movimentações bélicas do reino vizinho, afirmando-se como estandarte e sentinela de aviso. Ali, era o reino de Portugal.
Em pleno Parque Nacional da Peneda-Gerês, a aldeia absorve a essência de uma região única no país, marcada pela vegetação abundante, árvores perenes, montanhas vetustas e imponentes maciços rochosos. Lindoso também é a rocha bruta moldada por mãos humanas, da mesma forma que essas mãos hábeis, apetrechadas com escopro e cinzel, esculpiram o resguardo dos cereais que tão afanosamente semearam e colheram.
São mais de sessenta os espigueiros, a maior concentração de toda a Península Ibérica, que se espraiam na eira perante a vigia do castelo.
Erguidos entre os séculos XVII e XVIII, serviam para proteger os cereais dos roedores e, ao mesmo tempo, permitiam a maturação correcta. São exemplos do espírito comunitário dos aldeãos, que partilham a eira, como o fazem com o lavadouro que todos utilizam.
Lindoso, por si só, convida ao reflexo e a uma viagem no tempo, mas não se fica por aqui. A ponte medieval de Santiago, ou da Parada, a Igreja Matriz, o cruzeiro e capela do monte da Madalena, o cruzeiro do Largo do Destro, a Fonte da Tornada, as casas de dois pisos e todos os pormenores que caracterizam uma típica aldeia de montanha são motivos que justificam uma visita demorada e carinhosa. Já fora da aldeia, há outra viagem no tempo, desta vez bem mais distante, através das pinturas rupestres de Bouça do Colado e de Porto
Chão. Lindoso deve ser percorrido a pé e, para os mais exigentes, existem diversos trilhos que permitem embrenhar-se nos sortilégios do Parque Nacional da Peneda-Gerês e descobrir alguns dos segredos – ou, pelo menos, tentar.
Para o fazer, existem oito trilhos com vários níveis de dificuldade: Moinhos de Parada (ou da água, que permitem um mergulho no refresco aquático do Poço da Gola), das Terras da Nóbrega, Românico de Bravães a São Martinho de Castro, Trilho Interpretativo de São Miguel de Entre Ambos-os-Rios, do Megalitismo de Britelo, do Germil, Penedo do Encanto e Trilho Interpretativo da Serra Amarela.
A curta distância de Lindoso, também existe um conjunto de espigueiros na Eira do Tapado que, embora de menor dimensão, merece alguma atenção.
No regresso a Lindoso, não resistimos a subir de novo ao castelo e a passear entre os espigueiros, assumindo que este continua a ser um dos locais mais fotogénicos de Portugal.