Apesar do seu fácil acesso por uma estrada alcatroada, quando chegamos à lagoa do Paul sentimos que descobrimos um segredo e temos a sensação de estar na natureza em estado selvagem. Com cabeços vulcânicos por toda a volta e com os nevoeiros frequentes devido à altitude (cerca de 800 metros de altitude), parece que estamos num cenário de filme de mistério… mas a ilha do Pico é bem real. Quando o tempo amansa, vemos que a lagoa está rodeada por paisagem verdejante, cabeços de vulcões com pastagens pantanosas e matos de cedros e urzes.

Antigamente, as mulheres da localidade mais próxima lavavam as suas roupas nesta lagoa. Imaginamos as distâncias que tinham de cumprir até lá chegar, mas também a animação por estarem juntas e sozinhas, longe dos homens. Hoje encontramos de vez em quando um agricultor que lá vai buscar água para o gado, mas o mais comum é não encontrar pessoas. Os animais, em contrapartida, não nos escapam! Vemos uma ocasional vaca a pastar ao longe, mas a lagoa pertence às aves e insectos que lá vivem.

Ouvimos (e vemos) com frequência melros, lavandeiras, estrelinhas, canários-da-terra e tentilhões dos Açores. Também narcejas e galinholas, e às vezes marrequinhas, milhafres, galeirões e toutinegras. Mais raramente podemos encontrar marrequinhas-americanas, marrecas-d’asa-azul, piadeiras-americanas, piadeiras-europeias, pernas-verdes e pernas-amarelas-pequenas.

Ocasionalmente, quando a meteorologia ajuda, podem avistar-se morcegos. O morcego dos Açores, endémico deste arquipélago, tem frequentemente comportamento diurno, pelo que é fácil vê-lo de dia, a caçar insectos ali ou a beber água na lagoa.

A lagoa está inserida em várias áreas protegidas pela sua biodiversidade e geodiversidade: a área protegida da Reserva Natural do Caveiro, em duas áreas da Rede Natura 2000 (a Zona de Protecção Especial da Zona Central do Pico e a Zona Especial de Conservação da Montanha do Pico, Prainha e Caveiro) e no Sítio Ramsar do Planalto Central (Achada). Está também inserida no geossítio Planalto da Achada do Geoparque Açores, Geoparque Mundial da UNESCO, uma cordilheira vulcânica com cerca de 30 quilómetros de extensão, que se estende desde as proximidades da lagoa do Capitão à Ponta da Ilha. De alguma maneira, a lagoa do Paul sintetiza o compromisso dos Açores com a conservação da biodiversidade e da geodiversidade.

No Verão, o nível da água da lagoa diminui e as margens ficam menos encharcadas, tornando-se um bom sítio para piqueniques… É nessa altura que se avistam mais seres humanos em convívios à beira da lagoa, aproveitando o cenário, espreitando aves estranhas através do binóculo… mas nunca se esquecendo de levar o lixo e deixar a lagoa do Paul como a encontraram… Limpa e selvagem.