No Iucatão, concentram-se as ruínas maias mais extraordinárias da América Central. As esplêndidas cidades coloniais são o seu contraponto civilizacional e a melhor forma de entender a história atribulada do México. O Iucatão reúne ainda os insondáveis cenotes de águas cristalinas, as praias de areia branca como farinha de trigo e os ilhéus rodeados de coloridos recifes de coral. 

Acolhedora e tranquila, a península também faz gala da amabilidade da sua população, da sua gastronomia diversificada, dos seus fantásticos hotéis-boutique e de um artesanato variado. Mesmo antes de ter partido, o viajante já projecta novo regresso ao Iucatão.


Digna filha da Emerita Augusta estremenha, a Mérida do Iucatão é uma das cidades coloniais mais belas. Fundada por Francisco de Montejo em 1542 sobre as ruínas de uma antiga aldeia maia abandonada, foi lá que se instalou a capital da península, hoje dividida em três estados: Iucatão a noroeste, Quintana Roo a leste e Campeche a sudeste. Actualmente, com quase 800 mil habitantes, é o maior núcleo urbano do Sudeste mexicano e oferece uma simbiose perfeita entre a modernidade, a tradição e a cultura. Além disso, a sua variada oferta de excursões para descobrir os tesouros do Iucatão tornam-na a base ideal para uma viagem mais prolongada.

Esta cidade-museu articula-se em redor da Gran Plaza mandada construir por Montejo. Foi aí que se construiu a Catedral em 1599, a mais antiga da América Central, o Palácio do Governo e a residência do conquistador, um robusto edifício renascentista transformado em museu que foi, na altura, muito controverso porque na fachada está esculpida a figura de um espanhol com um pé sobre a cabeça de um índio.

Ao cair da tarde, os restaurantes e bares da Gran Plaza enchem-se de turistas, tanto mexicanos como estrangeiros. Com frequência, há música ao vivo e bailes tradicionais. As ruas são rectilíneas com casas de cores garridas que dão à capital do Iucatão um ar caribenho. Mérida teve o seu auge entre o final do século XIX e o início do século XX. Alcançou então o apogeu da produção e venda de corda proveniente do sisal, uma planta autóctone. Em parte devido às mansões em estilo francês do arborizado passeio de Montejo, os residentes designaram-na como «Paris mexicana», mas o desenvolvimento mundial das fibras de plástico afundou a cidade numa depressão económica no final da década de 1970 da qual ainda está lentamente a recuperar.

Na península, de solo calcário e pobre, estabeleceram-se no século XVII unidades agrárias dedicadas ao cultivo do milho e do sisal. Depois da reforma agrária estimulada pelo presidente Lázaro Cárdenas (1934-1940), a terra passou a ser explorada de forma colectiva pelos camponeses, mas a casa, os seus pátios e os edifícios contíguos não mudaram de proprietário. 

Muitos restauraram-nas e abriram-nas ao público ou transformaram-nas em hotéis, restaurantes e centros de reuniões. Vale a pena visitar uma, como a de Xtepén ou a de São Pedro de Onil, ambas localizadas na estrada de Mérida para Uxmal, o primeiro sítio maia da viagem.

Na verdade, o termo maia serve aqui para tudo. Designa por exemplo um conjunto de etnias com língua diferente mas com uma raiz comum, que se enraizaram há mais de três mil anos no Iucatão, na Guatemala, nas Honduras e no Belize. Designa também a civilização que sofreu misteriosos episódios de abandono súbito das cidades. Designa por fim a cultura que desenvolveu a agricultura (o milho, o feijão ou a abóbora), a escrita simbólica, a matemática, a astronomia, o calendário e as crenças politeístas que incluíam sacrifícios humanos. O Grande Museu do Mundo Maia de Mérida oferece uma excelente introdução a esta civilização.


Uxmal significa «construída três vezes», embora os arqueólogos tenham encontrado cinco fases distintas da sua construção, iniciada no período clássico, entre os séculos VI e VII. Do século IX ao XII, transformou-se no centro político e económico da região de Puuc, nome que dá origem a um estilo próprio da arte maia.

O exemplo mais majestoso da arte puuc ocorre na Pirâmide do Mágico, com cantos arredondados. Segundo a lenda que os guias reproduzem, foi construída numa noite por um anão com a ajuda dos espíritos mágicos do local. O vizinho Palácio do Governador exibe uma fachada com 20 mil rochas esculpidas à mão e colocadas em frisos geométricos. 

A área arqueológica de Uxmal ocupa vários quilómetros quadrados. Em redor de um pátio, erguem-se edifícios palacianos, como o Quadrângulo das Monjas, a Casa das Tartarugas e a Casa dos Pássaros. Deve tirar um dia para poder explorar a singularidade deste local e da sua decoração, com máscaras do deus Chaac, personagens, o jaguar bicéfalo e formas geométricas.

Uxmal é a capital da Rota Puuc, que inclui as cidades de Kabah, Sayil, Xlapak, Labná, Oxkintok e as grutas de Calcehtok e de Loltún, onde o sol produz um curioso jogo de luzes e sombras que se filtram pelos vãos. Embora num primeiro momento ninguém pense em visitá-la, Uxmal causa tamanha impressão que, no dia seguinte, muitos viajantes voltam a empreender o caminho para visitar as restantes cidades, separadas entre si por escassos quilómetros e repletas de vestígios arqueológicos.

Iucatão

MERCADOS DIVERSIFICADOS. Em Mérida, existem dois mercados imprescindíveis: o Lucas  de Gálvez e o Bazar García Rejón. O primeiro foi inaugurado em 1884 com uma cobertura simples e, em 1909, ganhou paredes de alvenaria que duraram até à construção do actual edifício em 1948. Aqui podem ser encontrados os ingredientes da gastronomia do Iucatão e também roupa artesanal bordada. O García Rejón data de 1862 e tem semelhanças com os bazares árabes, com ruas cobertas sobre as quais se instalam as lojas agrupadas segundo o tipo de géneros vendidos. O mercado de frutas de Oxkutzcab oferece uma pausa na Rota Puuc. É o melhor local para provar a laranja doce, o produto mais conhecido da agricultura local. O mercado 28 de Cancún permite sentir-se como um habitante local e regatear nos quiosques de bijutaria, roupa e artesanato.

É igualmente interessante visitar Maní, um dos principais centros de evangelização depois da conquista e onde foram queimados códices maias por ordem de frei Diego de Landa, em 1562. Felizmente, conservam-se ainda quatro desses livros, celebrizados com os nomes das cidades onde se encontram: Códice de Dresden, Códice de Madrid, Códice de Paris e um último de autenticidade controversa, o Fragmento de Grolier. Os códices foram produzidos no papel fabricado pelos maias que, segundo os especialistas, é mais resistente do que o papiro egípcio. Descrevem a cultura, o calendário e o horóscopo desta civilização da América Central.


A península do Iucatão é plana, as estradas são boas e não existe muito tráfego, pelo que é fácil deslocar-se num carro alugado se não quiser ficar sujeito aos horários das excursões de autocarro, que partem muito cedo para dedicar as horas de maior calor à comida, às compras ou ao banho num cenote – os poços de águas cristalinas.

Imbuídos da magia da envolvente ambiental e depois de um dia de descanso para assimilar a informação, o viajante prepara-se para o embate em Chichén Itzá com Chac Mool. Esta enigmática figura de um homem reclinado para trás, com as pernas encolhidas e a cabeça retorcida numa postura inverosímil, guarda sobre o ventre um recipiente no qual supostamente eram colocados os corações dos sacrificados.

Chac Mool significa «jaguar vermelho» ou «garra vermelha». No imaginário popular de Chichén Itzá, é o símbolo da cultura maia. Na verdade, os arquitectos que idealizaram as construções que chegaram aos nossos dias eram toltecas. Entre elas, está o mais grandioso espaço para o Jogo da Bola (Pok a tok, em maia) do México. De estilo pós-clássico, os seus baixos-relevos representam sete vítimas de decapitação. Muitos observadores acreditavam que se tratava da equipa perdedora, mas os especialistas crêem que poderia tratar-se dos vencedores, porque o jogo de bola implicava um ritual iniciático no qual os sacrificados seriam transformados no Sol e na Lua.

A palavra cenote provém da palavra maia dzonot (abismo) e aludia tanto à fonte da vida que gerava a água como à caverna do submundo. O calcário poroso do Iucatão originou mais de sete mil cenotes na península. Escapar aos calores deste local com um banho num cenote, rodeado pela exuberância vegetal que o camufla, constitui uma experiência inesquecível.

Motivado pela lenda de que os maias sacrificavam donzelas vestidas com ricas peças de ourivesaria no cenote sagrado de Chichén Itzá, o americano Edward Thompson comprou a quinta que incluía estas ruínas arqueológicas e, em 1904, dragou o cenote. Para além de jóias e peças de jade, ónix e cerâmica (que transferiu ilegalmente para os Estados Unidos), extraiu numerosos ossos de animais e de meninos. Foi assim que acabou o mito de que as vítimas dos sacrifícios seriam raparigas. 

A poucos quilómetros de distância, situa-se o cenote azul Ik’Kil, de águas cristalinas e rodeado por espessa vegetação que cai sobre a cascata. Estava reservado para os reis, mas agora é possível mergulhar nele sem pagar a entrada.

Nos arredores de Valladolid, outra esplêndida cidade colonial que exige um passeio pelas suas praças e igrejas renascentistas, encontram-se outros cenotes famosos, como X’Keken e Samulá, em grutas com impressionantes estalactites. O de Zací é igualmente notável.

A última fase deste extraordinário périplo tem como destino a bela ilha de Cozumel, a terceira maior do México. Rodeada de praias de areia branca e águas azul-turquesa, o fundo marinho de Cozumel esconde um autêntico tesouro de biodiversidade nos seus recifes de coral. A ilha encontra-se a escassas milhas da costa do Iucatão.

O viajante deve sair de madrugada e visitar Tulum, uma cidade fortificada em plena Riviera Maia.
O autocarro que percorre os 160 quilómetros que a separam de Mérida circula sempre repleto de turistas de todas as idades e nacionalidades. Embora se tenham encontrado vestígios arqueológicos anteriores, a maioria das construções de Tulum é do período pós-clássico (entre os séculos XI e XV). O edifício mais representativo, conhecido por El Castillo, ergue-se na borda de uma escarpa que dá acesso a uma praia branca deliciosa.

No autocarro, aparecem turistas que se dirigem a Playa del Carmen, a sessenta quilómetros de Tulum, um dos locais com mais glamour do México graças à sua intensa vida nocturna. Playa del Carmen situa-se no coração da Riviera Maia – a costa oriental da península do Iucatão –, agraciada com uma praia que parece coberta de pó de talco. 

A cidade reluz radiante a sua Quinta Avenida (pedonal), animada por inúmeros restaurantes e lojas.
A proximidade de Cozumel, da qual dista apenas 40 minutos num trajecto de barco, dá enorme vitalidade à cidade graças à contínua chegada de passageiros.

A ilha das andorinhas, como lhe chamaram os maias, tem uma localização privilegiada perto da principal barreira de recife de coral do hemisfério norte. Existe quase meia centena de zonas com escolas e profissionais de mergulho para aprender e iniciar as submersões, explorando a vitalidade destes fundos marinhos. O recife mais conhecido é o de Palancar, já que permite a todos os níveis de mergulhadores – especialistas ou não, de superfície ou de grande profundidade – deliciarem-se com a montanha coralina, repleta de jardins, túneis e grutas de indescritível fauna e flora. 

Além disso, as águas são tão límpidas que têm normalmente visibilidade de cerca de 50 metros, condições estupendas para o snorkeling. Existem igualmente embarcações com o fundo em fibra de vidro para quem não quer molhar-se. 

Cozumel foi noutros tempos local de descanso de piratas temidos, como Henry Morgan. Actualmente, dezenas de milhares de pessoas acorrem a este paraíso para explorar os tesouros marinhos e terrestres, apimentados com a amabilidade natural dos mexicanos, seguros de que, desta vez, a chave de ouro onde se encaixa a jóia do Iucatão nunca mais largará o país. É o visitante que torna a regressar para a apreciar vezes sem conta.   

Iucatão

Chichén Itzá, coração do Império Maia

A pirâmide de Kukulcán eleva-se com precisão geométrica numa planície que há mil anos foi o centro político, religioso e cultural do império maia. Chichén Itzá significa «boca do poço dos itzaes», uma alusão ao cenote a norte da pirâmide – um território sagrado e uma fonte de água doce essencial para a cidade.

O recinto arqueológico ocupa quinze quilómetros quadrados e é Património Mundial desde 1998. Constitui um dos testemunhos mais bem preservados da civilização maia. O estudo das gravuras e a disposição dos edifícios revelaram que os maias conheciam o ciclo de Vénus de 584 dias, que se reflectia no calendário maia. O edifício ao qual os espanhóis chamaram Caracol era um observatório astronómico.

A localização da cidade, rodeada de selva e a mais de cem quilómetros da costa, adiciona uma espécie de fantasia que conduz a monumentos sensacionais: o espaço do Jogo da Bola, a calçada do Cenote Sagrado, as esculturas do deus Chaac, os relevos da Casa das Monjas ou as cabeças da Serpente emplumada (Quetzalcóatl ou Kukulcán). Bem-vindos
ao Novo Mundo!

Como planificar uma viagem pelo Iucatão

Documentos e moeda: passaporte e peso mexicano.

Como chegar. Cancún e Mérida são as portas de entrada para o Iucatão. De Lisboa partem todos os domingos voos directos para Cancún; para Mérida, não existem voos directos mas sim via Cancún ou Cidade do México.

Como viajar. Uma boa rede viária liga as principais cidades e sítios arqueológicos. Para Cozumel, pode viajar por barco desde Playa del Carmen ou de avião por Cancún.

Hora: 6 horas a menos no Verão (7 no Inverno).

Clima: Quente e semi-seco no litoral e quente e húmido no Verão no resto do território. Temperatura média entre 250 e 350. Levar protector solar e repelente de insectos.

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