Acompanhando o rio Minho, uma rota de bicicleta recua no tempo e devolve a tranquilidade.
Há muitas fronteiras naturais entre Portugal e Espanha, mas poucas apresentam o equilíbrio entre homem e natureza como a que, no Noroeste, o rio Minho define, serpenteando gentilmente e definindo a divisão entre o Minho e a Galiza. Este curso de água pode gabar-se de ser o ponto mais setentrional do país, ao passar pela aldeia de Cevide, vindo de terras espanholas. Dali, é sempre a descer, negociando a custo a passagem entre rochedos enormes, que o tornam também destino dos amantes de águas bravas, por alturas do seu curso superior.
Em Monção, amansa, com pequenas ilhotas de formas caprichosas, aqui e ali, e mais abaixo Valença, cidade muralhada em tempos relevantes na defesa da nacionalidade, ergue-se orgulhosa, com um piscar de olhos a Tui, antes visceral inimiga, hoje cidade-irmã.
Para conhecer esta região minhota, há muitas opções, mas uma das mais originais e prazerosas é sem dúvida a bicicleta. Como desporto comprometido ou simples actividade de lazer, pedalar é um dos exercícios físicos mais completos e democráticos, permitindo um equilíbrio interessante entre autonomia e esforço.
De bicicleta pode conhecer-se o território com uma flexibilidade inexistente na caminhada e chega-se a locais inacessíveis para o automóvel. Sem ruído, sem poluição, de baixo custo, a bicicleta é um excelente veículo de aventura, seja ela uma épica travessia continental ou um relaxado passeio à beira-rio. E é precisamente isto que agora propomos: de Monção a Cerveira, ou mesmo até Caminha, a ecopista do Minho é um corredor ciclável com piso em óptimas condições. Abrange mais de 40 quilómetros, acompanhando o rio em permanência, maioritariamente sob a copa de frondosas árvores. A Ecovia tanto pode acolher o BTT como a bicicleta urbana.
Começa-se cedo, pois o dia é longo e trabalhoso. Sente-se o ar matinal, fresco, no rosto. Rodeado de fachadas graníticas, no miradouro de Monção, observa-se a neblina elevando-se em câmara lenta da superfície aquosa do rio. Encosta abaixo, em poucos minutos, a malha urbana fica para trás e apenas uma paleta de verdes infinitos se apresenta em diante. Entre Monção e Valença, a ecopista prossegue pelo traçado da antiga linha de caminho-de-ferro, há muito desactivada, à semelhança de outras em Portugal, como as do Dão ou do Tâmega.
As antigas estações recuperadas emprestam nostalgia à viagem e evocam memórias de tempos idos em que o comboio era o principal meio de transporte de longa distância. O piso alterna – ora pavimentado, ora de terra batida, ora ainda de passadiços de madeira.
Terminando o primeiro troço da ecopista, Valença impõe ao ciclista uma empinada subida. Se quiser deambular pela malha urbana e espreitar os cantos da zona fortificada, terá de puxar ainda mais pelas pernas.
À medida que o dia passa, a cor da paisagem vai mudando. O Sol apresenta-se agora de frente e tudo doura, fazendo refulgir as secções do caminho de madeira que os pneus da bicicleta galgam com gosto. Um pouco antes de Vila Nova de Cerveira há um pequeno recanto que merece uma paragem: a zona da Lenta. A praia fluvial e as poltronas do bar são óptimas desculpas para uma paragem e, caso a vontade e a meteorologia o permitam, um mergulho retemperador. Pouco depois, é a vila que acolhe, encimada pela escultura d’O Cervo, de José Rodrigues, no topo do monte do Crasto.
Realidades contrastantes, os luxuosos barcos a motor atracam lado a lado com os dos pescadores de lampreia, que nas margens reparam as suas redes. Acto contínuo, a ecopista prossegue e faz gincana no parque ribeirinho, cheio de transeuntes que aproveitam a tarde. Cerveira é um dos pontos altos deste percurso, tanto pelo centro histórico como pela harmonia com o Minho. E é neste ponto que o rio Coura se alarga e funde, adiante, à chegada a Caminha.
A jornada está concluída e, para comemorar a travessia, impõe-se a visita ao centro histórico, com passagem pela Praça Conselheiro Silva Torres que, com o seu imponente chafariz e esplanada, corresponde a um apropriado final de etapa. Para os mais afoitos, resta um último desafio: continuar a jornada ciclística até Viana do Castelo, acompanhando a costa atlântica em direcção a sul!