Talvez não exista melhor cartão-de-visita da Madeira do que as suas impressionantes levadas! As paisagens agrestes do interior da ilha, o manto verde que a recobre, com a floresta laurissilva ainda fortemente representada nos vales e encostas mais remotos, rasgadas por engenhosas obras de engenharia hidráulica, preenchem o imaginário de qualquer candidato a visitante. 

Muitas destas estruturas remontam a centenas de anos atrás, aquando do povoamento da ilha, e servem o regadio, enquanto outras são mais recentes e estão integradas em complexos hidroeléctricos.

O seu fim principal é a condução da água desde o interior da ilha, onde abunda, até à orla costeira, alimentando as comunidades que aí se estabeleceram ao longo de séculos, muitas das quais praticamente isoladas entre si até há poucas décadas. O pormenor e a precisão de construção são notáveis: o desnível tem de ser minuciosamente calculado e executado para que exista uma ligeira pendente negativa, que permitirá à água fluir apenas devido à gravidade.

Há muitas levadas imponentes na ilha, mas talvez a mais icónica seja a do Caldeirão Verde, que transporta água para a freguesia do Faial, ao longo do vale da Ribeira de São Jorge. O acesso é feito através do Parque Florestal das Queimadas, já perto da cota de 1.000 metros de altitude, que merece uma visita e uma fotografia junto das originais casas de Santana, triangulares e com telhado de colmo.

O percurso entra pela floresta e é de fácil progressão, dado o pouco desnível, tendo como maior desafio a passagem por alguns túneis (recomenda-se o uso de uma lanterna frontal, pois o maior destes tem 400 metros de comprimento) e as secções expostas, em que uma queda para o abismo se pode revelar fatal.

Sistema Circulalório
António Luís Campos

A engenharia hidráulica dotou a Madeira de um sistema circulatório vital que hoje, além da água, conduz turistas.

Sem outras marcas de presença humana além da levada em si, somos levados a pensar que estamos numa floresta tropical, luxuriante, com cambiantes de verde que a chuva e o nevoeiro, companhias amiúde presentes, acentuam ainda mais.

Ao final de quase sete quilómetros de um percurso que data do século XVIII e se contorce pela encosta da montanha, surge por fim o prémio: a enorme cascata, com uma centena de metros de altura, precipitando-se num pequeno lago, com estrondo, para logo a seguir desaparecer vale abaixo.

Após longos minutos de contemplação, apresentam-se duas opções: prosseguir a levada até ao Caldeirão do Inferno, por mais 2.200 metros, ou regressar de imediato à origem, refazendo o percurso, dado que o trilho é linear, não sendo nunca, no entanto, monótono, pois no sentido oposto as perspectivas revelam pormenores negligenciados na primeira passagem.

A Madeira é um exemplo de como o turismo de natureza pode ser um forte pilar económico, conciliando diferentes tipos de visitantes e motivações. O Caldeirão Verde é um estudo de caso. Basta perguntá-lo à miríade de pessoas de diferentes nacionalidades, escalões etários e forma física juntas na admiração de um marco natural de beleza e imponência inquestionáveis!