O espírito dominante na Europa, nos séculos XI e XII, estava focado na recuperação dos territórios ocupados pelos muçulmanos. A Ordem dos Templários, originalmente fundada com o nome de Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo, sediou-se no local provável do antigo Templo de Salomão – derivando daí a designação – com a missão original de proteger os peregrinos cristãos após a reconquista de Jerusalém.

Na Reconquista Cristã, ao longo de boa parte da primeira dinastia, os Cavaleiros do Templo foram importantes para ganhar terreno e consolidar as conquistas territoriais. Em Tomar, por iniciativa de Gualdim Pais, grão-mestre da Ordem, construíram um castelo e um convento. Com a extinção da Ordem em 1308, a nova Ordem de Cristo herdou todos os territórios e edificações templárias.

Convento de Cristo

O Primeiro Renascimento (sobretudo no reinado de Dom João III) expressa-se acima de tudo na obra de instalação do Convento de Clausura da Ordem de Cristo, com a inovação de uma planta em cruz. Neste período, nascem também as obras funcionais dos claustros Grande, da Hospedaria, dos Corvos, da Micha e das Necessárias, bem como o “cruzeiro” e respectiva capela, o refeitório, a adega e as salas do noviciado. Clique na imagem para ver detalhes.

Múltiplas Influências

De acordo com o historiador de arte Paulo Pereira, “o Convento de Cristo, em Tomar, é hoje o complexo monumental português onde melhor se podem observar todos os estilos arquitectónicos canónicos”. Classificado pela UNESCO como Património Mundial, representa um compêndio de pedra da arquitectura portuguesa. Ali ficaram gravados os sucessivos estilos arquitectónicos com expressão em Portugal. Das preexistências dos períodos romanos, visigótico e depois islâmico ao castelo românico do século XII, o espaço foi sucessivamente adaptado. Do românico ao gótico, do gótico tardio ao Primeiro Renascimento, incluindo o maneirismo do século XVII, a história de Portugal cruza-se com o registo artístico.

Convento de Cristo

A espantosa charola do Convento de Cristo. Iniciada em 1160 por Gualdim Pais, a charola terá talvez sido pensada como capela funerária. É uma obra de origem românica, que termina já com influências do primeiro gótico. É uma das poucas igrejas europeias de planta centrada, poligonal, e representa um legado templário. No período manuelino, foi completada com uma igreja com coro alto, um arco triunfal e um portal monumental.

Debate de Pedra

O próprio convento, obra dos primórdios do Renascimento, expressa em pedra um debate filosofal. O programa espiritual da Ordem de Cristo não podia aceitar o discurso acentuadamente heráldico – e, por vezes, pagão – que marcara o estilo manuelino. Não podia aceitar a visão aristotélica ali expressa. Por isso, o corpo do convento adequou-se a essa espiritualidade, com forte simbologia religiosa, mais erudita e literária.

Janela Mauelina

A janela manuelina do coro é um dos maiores ícones da história da arte. É provável que a simbologia da fachada tenha sido dedicada às Descobertas. O historiador Paulo Pereira vê no conjunto “uma sucessiva montagem de adereços e de peças de ourivesaria adicionados à vegetação exuberante dos toros”.

Todo o conjunto monumental inclui o castelo, a charola, a igreja manuelina, o portal sul, os claustros góticos e renascentistas, o Claustro de Dom João III e dependências como o dormitório, o refeitório, o noviciado e a enfermaria. Reserve também algum tempo para apreciar os minuciosos pormenores da Janela do Capítulo, uma obra-prima do estilo manuelino e que representa o comprometimento da Ordem de Cristo com a Expansão Marítima portuguesa.

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