Desde que começaram a viajar que as pessoas procuram lembranças e recordações. Os antigos egípcios e os romanos traziam especiarias, peles de animais e ouro das suas missões comerciais ao estrangeiro ou das suas conquistas. Os viajantes dos tempos modernos procuram peças de artesanato ou de arte tradicional, lembranças tangíveis de outros locais para usarem nas suas próprias vidas, nas suas casas: um tapete marroquino no chão da sala de estar, uma bela jarra de vidro veneziano onde colocar flores silvestres.

Mas e se aquelas peças de artesanato local não forem nada locais? Um relatório publicado em 2022 estimou que até 75 por cento dos souvenirs australianos identificados como “indígenas” eram falsos. As falsificações incluíam bumerangues pintados e didgeridoos fabricados na Indonésia e algumas galerias de arte foram condenadas por falsificarem as pinturas pontilhistas típicas dos aborígenes.

Em locais turísticos de todo o mundo comprar peças de arte e artesanato locais pode ser tão difícil como navegar num bazar turco. No multissecular bazar de Khan Al-Khalili, no Cairo, lenços de algodão egípcio feitos à mão estão pendurados ao lado de uma pilha de escaravelhos de plástico baratos de proveniência desconhecida. Em redor da praça principal de Santa Fé, no Novo México, lojas vendem jóias verdadeiras com turquesas fabricadas pelos povos Pueblo, bem como falsificações convincentes.

Saiba porque o negócio das imitações é tão prevalecente, porque é tão importante comprar peças genuínas e como identificar falsificações.

Esta peça estampada com blocos foi produzida no Studio Bagru, em Jaipur.
MONICA SHRIVASTAVA

Esta peça estampada com blocos foi produzida no Studio Bagru, em Jaipur.

Por que não deve comprar peças de artesanato falsificadas

As peças de arte, cerâmica e têxteis contrafeitas e baratas desviam os rendimentos das comunidades que dependem do turismo, desde o povo Gullah, que faz cestos de ervas no estado da Carolina do Sul, às pessoas que fabricam os tecidos de tweed e tartan na Escócia.

“Quando compramos um produto fabricado em massa, podemos estar a apoiar um negócio que não paga um salário justo aos seus trabalhadores”, diz Jeremy Fritzhand, fundador do Studio Bagru, uma oficina que fabrica tecidos estampados com blocos, de comércio justo, situada dos arredores de Jaipur, na Índia. “Os materiais que usam, como o polyester ou outras fibras à base de plástico, não são tão sustentáveis, enquanto os artesãos tendem a usar materiais sustentáveis, cultivados localmente, como o algodão.”

 

Esta falsificação de tecido indiano estampado com blocos foi feita com painéis numa fábrica.
MONICA SHRIVASTAVA

Esta falsificação de tecido indiano estampado com blocos foi feita com painéis numa fábrica.

Comprar produtos locais contribui para apoiar tradições duradouras e comunidades frágeis. “A criação de lembranças, desde canecas a obras de arte requintadas, somos nós a praticar a nossa cultura” diz Stephanie Parkin, uma advogada do povo Quandamooka e presidente do Indigenous Art Code, um grupo de defesa de artesanato de comércio justo australiano. “Não se consegue obter isto com uma imitação.”

Como comprar uma peça genuína

Costumava ser mais fácil encontrar lembranças locais. Num sítio como Oaxaca, no México, os turistas podiam visitar o centro da cidade e encontrar mercados ou lojas de artesãos, presumindo que a cerâmica de barro negro e as blusas bordadas que viam à venda tinham sido produzidas ali perto. As peças que eram criadas por mãos humanas e não por máquinas costumavam parecer ligeiramente imperfeitas – pinceladas errantes na caligrafia japonesa, marcas de tinta irregulares em estampados indianos com blocos como os do Studio Bagru.

Agora, a inteligência artificial e a impressão 3D fazem com que as grandes fábricas possam recriar designs tradicionais sem pagarem aos artesãos locais, produzindo imitações tão avançadas que até os profissionais têm dificuldades em identificá-las. “Os imitadores incluem intencionalmente manchas e sobreposições de tinta para que os tecidos estampados com blocos pareçam autênticos”, diz Fritzhand. “Eles sabem o que os turistas querem.”

A melhor forma de saber se a sua lembrança é genuína? Vá a uma oficina onde possa ver os artesãos a produzirem tapetes, cerâmicas ou peças em metal. “Não presuma que alguém que está no mercado é um artesão”, diz Halle Butvin, especialista em comércio justo do centro Smithsonian Center for Folklife and Cultural Heritage “Viu aquela pessoa fazer a peça? Muitos vendedores limitam-se a comprar produtos aos artesãos e etiquetá-los. Escolha experiências turísticas que o levem directamente aos artesãos.”

No Haiti, um artesão do metal transforma barris de óleo em singulares peças decorativas para paredes.
BEN HORTON, NAT GEO IMAGE COLLECTION

No Haiti, um artesão do metal transforma barris de óleo em singulares peças decorativas para paredes.

Procure cooperativas ou mercados de comércio justo, onde grupos de artistas exponham, vendam e, por vezes, produzam as suas próprias peças, frequentemente com o apoio do governo ou uma associação sem fins lucrativos.

Por exemplo, a aldeia artesanal Bethlehem Fair Trade Artisans contém obras feitas por artistas palestinianos, bem como oficinas de vidro soprado e bordados. A Artesanias de Colombia é um conjunto de lojas que vende artesanato local na Colômbia. As pinturas pontilhistas e os cestos indígenas da Gallery of Central Australia, junto a Uluru, no Northern Territory, são compradas directamente a colectivos artísticos regionais e vendidas com certificados de autenticação e biografias sobre os artistas.

Alguns países têm programas de verificação que etiquetam os produtos locais. No Canadá, a marca registada de um Igloo indica que uma peça foi criada pelos povos Inuit, como brincos de pele de foca e esculturas em pedra. Na Índia, o símbolo Craftmark ajuda os compradores a distinguirem entre saris, tecidos estampados com blocos e vibrantes peças de tecelagem Jamdani feitos à mão ou à máquina. Na Austrália, procure peças com o logótipo em forma de esfera vermelho e preto do Indigenous Art Code.

Viagens onde pode aprender a fabricar artesanato

Graças ao interesse crescente nas viagens com experiências, começam a surgir agências turísticas focadas em artesanato. A Ace Camps vendeu todas as suas viagens de uma semana organizadas para 2023, transportando pequenos grupos para tecer cestos na África do Sul ou tingir tecidos com índigo em Bali.

“Muitos viajantes querem aprender algo novo enquanto estão de férias. E também querem ver as coisas do ponto de vista dos autóctones”, diz a fundadora da agência, Angela Ritchie. “Querem aprender com os artesãos locais e comprar-lhes as suas peças.”

Outras agências de viagens vocacionadas para o artesanato incluem a Thread Caravan, que leva grupos pequenos para fabricarem cerâmica no norte de Marrocos ou tecerem com o povo indígena Guna no Panamá ou na Colômbia. A Vacation With An Artist organiza masterclasses individuais em mais de 25 países incluindo, carpintaria espanhola em Barcelona, fabrico de marionetas de sombras na Malásia e mistura de perfumes em Los Angeles.

“Ligando os viajantes aos fabricantes, esperamos que as pessoas ganhem mais consciência daquilo que compram”, diz Caitlin Garcia-Ahern, fundadora da Thread Caravan. “Conhecermos as pessoas que fabricaram as nossas peças dá-lhes mais significado.”

Artigo publicado originalmente em inglês em nationalgeographic.com.