Mais de quatrocentas ilhas divididas em nove distritos com nomes tão sugestivos como Andros, Míconos ou Santorini giram em seu redor. A elegante capital de Hermópolis oferece a sensação de viver a história num paraíso ao alcance da mão.
São tantas as combinações para traçar uma rota que o melhor plano consiste em deixar-se levar pelo instinto e escolher entre as infinitas propostas que, sobretudo durante o Verão, as linhas aéreas oferecem e as inúmeras ligações marítimas. A indústria naval da Grécia é intrínseca aos seus habitantes e mudar de ilha é quase tão fácil como apanhar o metro em algumas das grandes cidades. Por isso, tanto faz começar a viagem em Hermópolis (a cidade do deus que mais viaja, Hermes) e continuar pelas suas ilhas adjacentes ou iniciar a aventura na célebre Míconos ou na famosa Santorini.
A primeira construção que capta a atenção em Hermópolis é a Catedral da Transição da Virgem, visita obrigatória antes de o viajante se perder pela cidade velha, onde as Igrejas católica e ortodoxa convivem admiravelmente há muitos séculos. O templo guarda um dos quadros mais belos de El Greco, A Dormição da Virgem, que o génio de Creta concluiu em 1565. O contraste entre o recolhimento da catedral e a alegria das ruas de um só sentido e a variedade de sensações invadem o visitante em todos os recantos do mar Egeu.
Nesta ilha, as músicas de inspiração clássica e nascidas da mistura entre o Oriente e o Mediterrâneo são as mais ouvidas. Não é em vão que Siros é um dos berços do rebético, o género nascido na subcultura dos derrotados da guerra da independência turca no início da década de 1920. No horizonte, entrelaçam-se orlas costeiras suaves, deliciosos aromas e a solene pegada de uma arquitectura que soube combinar a tradição marinha com o pitoresco bairro de Vaporia.
Os prósperos comerciantes do século XIX quiseram deixar marcado o seu poderio com elegantes mansões. Neste ambiente, destaca-se o azul radiante da cúpula da Igreja de São Nicolau. As magníficas praias de Galissas, Finikas, Kini e Poseidonia convidam a percorrer a ilha durante o dia. À noite, a movida da capital alegra as ruas do porto e os arredores da imponente praça Miaouli, símbolo urbanístico da Grécia independente nascida em 1830.
Da mesma forma que é penoso pensar em Santorini sem o seu espectacular pôr do Sol, é igualmente indelével a imagem da ilha vista da água, com as suas enormes falésias de basalto. Um relaxante jogo de contrastes entre o branco das paredes, o azul das cúpulas e das janelas, o escuro da terra, o mar e o sol, construíram no imaginário universal uma imagem de ilha ideal para a qual se viaja numa entrega e da qual se regressa apaixonado.
Os restos do antigo vulcão de Thera desenham hoje em dia um pequeno arquipélago circular no qual se podem encontrar tesouros como Acrotiri, famoso pelos seus frescos – parte dos quais estão expostos no Museu Arqueológico de Atenas – e cuja surpreendente riqueza o coloca entre os grandes sítios arqueológicos da Antiguidade clássica.
Para lá da capital, Fira, inúmeras aldeias e portos dividem-se e desencadeiam a intensa vida diurna e nocturna de Santorini. No coração da localidade de Oia, a norte da ilha, a livraria Atlantis transformou-se há décadas no ponto de encontro de homens das letras de todo o mundo.
Volumes novos e usados são chamarizes dos bibliófilos mais atentos. E as listas das bibliotecas mais exuberantes nunca esquecem a Atlantis: o ambiente, o cheiro a tipografia, a capas usadas ou recém-impressas, faz a ligação a lugares reais ou imaginários de outras partes do mundo, como à mítica Shakespear&Co em Paris.
Santorini e Míconos juntam à variedade gastronómica da Grécia excelentes vinhos, elaborados com a uva das vinhas cultivadas num solo de grande riqueza mineral. Uma panóplia de queijos locais, como o jlorotiri, pouco usados noutras regiões gregas, juntam-se a esta cozinha que sabe tirar partido quer do mar quer da terra onde se apanham alcaparras e beringelas brancas.
A carne curada, denominada apojtí, é outras das especialidades locais muito apreciadas.
Deixar-se embalar nas águas do Egeu é um dos grandes prazeres das Cíclades. Algo fácil de conseguir em qualquer um dos navios que ligam Míconos a Delos , ou Naxos a Santorini, ou nas lanchas que vão de praia em praia. Um dia a visitar a pequena e desabitada Delos, com apenas três quilómetros quadrados, implica dialogar por entre a brisa com cinco milénios de história.
Quatrocentas ilhas e um só mar. O Mediterrâneo foi generoso com as Cíclades, brindando-as com praias de areia branca e de rocha, falésias brancas e água cristalina que torna irresistível o mergulho e o sonho.
Muitos anos antes de ser declarada Património Mundial pela UNESCO, Delos era a mais sagrada das ilhas gregas. Conta uma lenda que a ilha foi criada por Posídon com o seu tridente. Outra história sugere que Delos deve a sua origem à fuga de Asteria, perseguida por Zeus. Nesta pequena ilha e na vizinha Rinia, foram descobertos fragmentos de cerâmica da época micénica, templos e construções essenciais da época clássica, entre os quais sobressai o santuário de Apolo.
Destaca-se igualmente o bairro do Teatro, a Ágora dos Competaliastas e o Oikos de Naxos, bem como alguns elementos de grande valor simbólico. As leoas de mármore que protegiam Delos das invasões inimigas costumam figurar em todos os postais da ilha.
Ao entardecer, Delos e os seus tesouros recuperam o silêncio e a solidão que os resguardou para a eternidade. Por esse motivo, as excursões à ilha natal de Artemisa e de Apolo têm uma duração de duas ou seis horas. As inúmeras ilhas circundantes adquirem nessa altura, com a magia da penumbra, uma outra faceta, combinando antiguidade com a brisa vespertina, o fulgor da festa e as fascinantes tradições locais.
Naxos costuma ser apresentada como base privilegiada para combinar o descanso e o fascínio da cultura clássica. Foi aqui que Teseu abandonou Ariadne depois de vencer o Minotauro na vizinha Creta e é aqui que ressoam os ecos das contínuas batalhas dos gregos contra os persas, venezianos e turcos. Entre os núcleos de Khora, Apólonas e Moutsouna, estendem-se dezenas de tesouros arquitectónicos, praias e baías de água transparente. Na capital, ergue-se o castelo de Naxos e o seu museu arqueológico, bem como a Portara, o acesso principal ao templo de Apolo desde o século VI a.C. Ambas as construções ilustram a tenaz resistência de uma ilha que conserva as maiores torres defensivas da Idade Média no Mediterrâneo.
No coração da ilha de Naxos, localiza-se a gruta onde a lenda certifica que Zeus nasceu, embora outras fontes atribuam o nascimento a Dikteon (Creta). A gruta encontra-se no monte Zas, cenário ideal para uma caminha revigorante e para evocar os grandes mitos gregos.
Naxos oferece tudo o que o turista pode ambicionar. Essa noção torna-se particularmente palpável no embarque para as duas Koufonisi, com as suas dunas selvagens, ou Keros com a sua água azul-turquesa.
Os moinhos de vento são um dos traços distintivos de Míconos, a mais popular das Cíclades.
A capital é Hora ou Chora, um labirinto de estreitas ruas íngremes, com varandas azuis. As cadeiras recortadas contra o horizonte dourado pelo sol, o aroma do polvo na brasa e a sensação de que tudo está sempre aberto até à alvorada cativam qualquer turista. Depois de um Inverno solitário, a ilha revive na Primavera com a chegada de barco ou de avião dos visitantes gregos e estrangeiros. Em breve, escutam-se dezenas de línguas nestas ruas históricas. Os melhores restaurantes e as mais prestigiadas lojas têm sucursais nesta ilha onde os jónios se instalaram há mais de trinta séculos.
Conhecido como a pequena Veneza, o bairro de Alefkandra é a zona mais tranquila e sugestiva da capital, com casas do século XVIII instaladas praticamente em cima do mar. Antigamente, as mulheres desciam aqui para lavar a roupa. Actualmente, abundam as galerias, as tabernas encantadoras e os bares.
Os amantes da navegação têm encontro marcado com o Museu Naval do Egeu, enquanto os mais gulosos encontram inúmeras geladarias e pastelarias tentadoras.
O outro pólo urbano, Ano Mera, conserva vestígios arquitectónicos interessantes: a fortaleza veneziana de Paleokastro (século XIV), vestígio da sua etapa como porto da Sereníssima República de Veneza, e o mosteiro de Panagia Tourliani, cuja iconóstase foi elaborada pelos melhores artistas florentinos do século XVIII.
A magia das Cíclades consiste na sua infinitude em todos os sentidos. Silêncio e mergulho, arte e diversão, surf e gastronomia, passeio e aventura: todos os pares são possíveis neste paraíso atomizado e singular. O arquipélago parece conter o mundo inteiro e, no entanto, a duração de uma vida não é suficiente para conhecer por completo todo o arquipélago das Cíclades. Séerifos, Tinos, Folegandros, Paros, Anafi, Milos… Uma atrás da outra, as peças deste arquipélago sugerem lendas e poemas, episódios da história e locais de sonho aos quais, antes ou depois, terá de ir.
O grande poeta de Alexandria, Constantino Kavafis (1863-1933), explicou-o na perfeição em Ítaca: “Quando saíres a caminho de Ítaca, faz votos para que seja longo o caminho, repleto de aventuras, repleto de conhecimentos […] Faz votos para que seja longo o caminho. Para que sejam muitas as manhãs de Verão nas quais com que contentamento, com que alegria entrarás em portos vistos pela primeira vez?” Não existe melhor local do que este para o comprovar.