A estrada vai serpenteando entre um rendilhado de campos floridos numa Primavera exuberante. Ao longe, num pequeno morro salpicado de granitos, a pequena aldeia histórica de Castelo Rodrigo vai sendo revelada. Entre as pequenas artérias da aldeia, descobrem-se propriedades particulares rústicas, algumas unidades de turismo e pequenos espaços de artesanato e produtos regionais que formam um todo harmonioso. No meio deste espaço equilibrado, erguem-se as ruínas de um castelo anterior à nacionalidade. Campanhas arqueológicas recentes colocaram a descoberto vestígios romanos e árabes, confirmando as origens remotas desta aldeia do distrito da Guarda. Os documentos, porém, só permitem certificar que Castelo Rodrigo foi conquistada aos árabes em 1039, vindo a integrar o reino de Leão. OTratado de Alcanizes, em 1297, colocou em definitivo estas terras de Riba-Côa em solo português.
A história quase nunca é linear e Castelo Rodrigo não foge a essa velha regra. No meio do que resta da fortaleza mandada recuperar por Dom Fernando, emerge o que resta de um velho palácio quinhentista, propriedade de um nobre que, nos tempos da União Ibérica, foi uma personagem central na entrega da coroa portuguesa: o conde de Castelo Rodrigo, Cristóvão de Moura, agraciado com esse título por Filipe II por serviços prestados à coroa ibérica.
É neste contexto que se pode afirmar o aspecto singular de Castelo Rodrigo, integrada na Rede de Aldeias Históricas. A orografia dos vales do Côa, Douro e afluentes poderá ter tido enorme influência na identidade destas terras de fronteira. Estes obstáculos naturais em lugares remotos foram durante séculos territórios em que os sentimentos nacionais foram difusos e a aldeia esteve algumas vezes do lado errado das contendas.
Episódios anteriores à crise sucessória atestam esta realidade. A visita a Castelo Rodrigo do Mestre de Avis, em 1386, em que foi recusada a sua entrada pelo alcaide que se manteve fiel a Castela, é um exemplo desta singularidade. Esta instabilidade manteve-se até tempos mais recentes com nova ocupação espanhola em 1762 em virtude do pacto firmado entre Espanha, França e Itália. O fim dos conflitos fronteiriços na segunda metade do século XVIII colocaria um ponto final neste pingue-pongue territorial, com um contraponto judicial: muitas aldeias da raia, até então decisivas por se fincarem na fronteira entre dois reinos, perderam parte da sua relevância e viram desmoronar o seu tecido demográfico.
Hoje, com um projecto de recuperação notável e diversas residências artísticas e apostas no artesanato, Castelo Rodrigo é um excelente ponto de partida para diferentes roteiros turísticos na região. Daqui, tanto se pode partir para uma visita às gravuras pré-históricas do Côa, como para um passeio no rio Douro animado pela intenção de avistar a avifauna, para uma caminhada até ao Convento de Santa Maria de Aguiar do século XII ou para a descoberta da reserva privada da Faia Brava. As terras da raia mantêm o encanto de sempre.