Começa-se a descer desde o momento em que se chega a Casal de São Simão. Apreciada à distância, a aldeia parece um minúsculo ponto humanizado numa serra dominada pelo verde da vegetação e pelo tom cinzento das rochas. Observada ao pormenor, porém, é um encantador conjunto urbano, construído com amor e perseverança e um forte sentido de comunidade.

Em 2017, quando um grande incêndio florestal enlutou a Zona Centro, os moradores de Casal de São Simão tomaram mãos à obra e iniciaram um projecto-piloto para impedir que a sua aldeia viesse um dia a ser engolida pelo fogo. Criaram-se aceiros regulares para cortar caminho às chamas e charcas para fornecer água e reduzir a temperatura. Iniciou-se também umprocesso lento de reconversão da floresta, com a plantação de flora autóctone e a progressiva substituição das espécies lenhosas de mais fácil combustão. Tudo isso só foi possível porque, nesta aldeia do monte São Simão, onde se ergue o mais antigo templo religioso do concelho de Figueiró dos Vinhos (a ermida dedicada ao santo local), existe a forte convicção de que o destino de um será o destino de todos.

Casal de São Simão

Essa convicção já há muito que se expressava na arquitectura. Embora integre a Rede das Aldeias do Xisto, Casal de São Simão é uma aldeia dominada por casas de quartzito, impressionantes e coesas, mas ao mesmo tempo singularmente personalizadas por pequenos retoques de bom gosto. Aqui um varandim de madeira; acolá uma carroça decorativa; mais além, as cortinas e as floreiras como elementos decorativos.

Ao visitante que começa a descoberta da aldeia pelo topo do monte, acorre por vezes a sensação de que os irmãos Grimm talvez tivessem em mente um sítio como este quando escreveram as suas inesquecíveis fábulas. Há de facto recantos em Casal de São Simão que não destoariam nesse contexto literário de faunas e fadas dispersos por bosques e casas de pedra.

Casal de São Simão

A visita tem de ser realizada a pé, colocando como objectivo a praia fluvial das fragas de São Simão e as próprias fragas que, nos períodos de maior pluviosidade, alimentam incessantemente este curso de água. Na verdade, não há uma única praia fluvial: há dezenas de pequenos espaços, separados por grandes rochedos, que fornecem privacidade e conferem ao visitante a percepção de que se encontra quase isolado neste recanto mágico.

Casal de São Simão

A praia fluvial nas imediações das Fragas de São Simão.

A vida na serra mudou muito, mas a ligação com a água permanece.Vestígios de moinhosemós comprovam a utilidade que a ribeira lá em baixo sempre teve para uma comunidade de práticas rurais, mas Casal de São Simão também encantou os artistas. Na viragem para o século XX, quando o município local lhe encomendou a pintura para oretábulo da Igreja Matriz de Figueiró dos Vinhos, o pintor José Malhoa calcorreou estes montes, com um modelo vestido com uma túnica, à procura de uma paisagem que pudesse ser tomada pela envolvência bíblica do rio Jordão. Os historiadores de arte acreditam que éo monte de São Simão que figura na obra de Malhoa.