Um pouco por todo o Planeta, há espectaculares maravilhas naturais lamentavelmente subvalorizadas. Em boa verdade, uma visita a alguns destes locais poderá deixá-lo transpirado, prestes a desfalecer e com falta de ar.
Por exemplo, muito pouca gente conhece a Porta do Inferno, no Turquemenistão, apesar de esta proporcionar a rara oportunidade de observar um gigantesco poço flamejante no meio de um deserto estéril. A origem desta cratera é algo misteriosa, mas a versão mais disseminada fala-nos de um grupo de geólogos soviéticos a incendiarem uma fuga de gás natural em 1971, após uma plataforma petrolífera ter colapsado e sido engolida pela terra. O poço arde desde essa altura.
Em 2013, durante uma expedição parcialmente financiada pela National Geographic Society, George Kourounis, usando um fato prateado à prova de fogo, tornou-se a primeira, e, até hoje, única pessoa a descer a cratera infernal.
“No que toca a locais infernais que nos querem matar, sou quase um especialista”, diz Kourounis, um explorador e caçador de tempestades, que classifica a Porta do Inferno no topo da sua lista pessoal de sítios mais horríveis.
“A primeira vez que fui até à beira da cratera e senti o calor, a minha reação imediata foi, eu não sei se sou capaz de fazer isto”, continua. “Já estive no interior de muitos vulcões e já estive rodeado de lava, mas isto era muito assustador.”
Já mencionámos que não há qualquer espécie de vedação a rodear a Porta do Inferno? Se se estiver a sentir com sorte, pode caminhar até à orla da cratera e sentir o solo a desfazer-se sob os seus pés.
Quanto aos menos aventureiros, juntem-se a nós nesta viagem virtual pelos destinos mais magnificamente terríveis do Planeta. Não precisam de levar máscaras de gás nem fatos especiais.
Terreno Infernal
A Porta do Inferno não é o único sítio a ser comparado ao submundo. Os Campos Flégreos, no sul de Itália, oferecem aos visitantes um vislumbre de um inferno sulfuroso à superfície do globo.
Situados a oeste de Nápoles, os campos localizam-se numa caldeira, isto é, na concavidade que se forma após um vulcão ter expelido enormes quantidades de magma. O local entrou em erupção inúmeras vezes durante milhares de anos e, ainda hoje, forma fumarolas, fendas no solo que emitem vapor e gases.
O Atlas Obscura descreve esta paisagem infernal da seguinte forma: “O chão move-se, a terra treme e um vapor escaldante e nauseabundo ergue-se de fissuras sibilantes.”
O local é muito popular entre os turistas, porém, embora deva ser admirado apenas através da vedação que o envolve, continua a ceifar algumas vidas. Três membros de uma família italiana perderam a vida quando um rapaz de 11 anos trepou a vedação e os seus pais os tentaram salvar de uma fumarola.
Cores cáusticas
Para os apreciadores de perigos mais sub-reptícios, poucos lugares no mundo superam o vulcão Kawah Ijen, na Indonésia. No topo, repousa um estonteante lago turquesa, e, durante a noite, chamas de um azul eléctrico descem as vertentes do vulcão. É deslumbrante — mas o lago está cheio de ácido clorídrico, e as chamas azuis são alimentadas por asfixiantes vapores sulfurosos.
O enxofre entra em combustão quando em contato com o ar, originando deslumbrantes rios azuis de luz, semelhantes a lava, na cratera de Kawah Ijen, na ilha de Java. Fotografia de Sonny Tumbelaka, AFP, Getty Images.
A água do lago é mais corrosiva que o ácido de uma bateria, fruto do gás cloreto de hidrogénio expelido pelo vulcão, que também produz diversos gases sulfurosos, que ardem com uma chama azul viva quando entram em contacto com o ar. Alguns destes gases condensam, transformando-se em enxofre líquido, que escorre encosta abaixo, à medida que vai ardendo.
“Já naveguei este lago de ácido com um barco de borracha insuflável, e é um lugar surreal”, diz Kourounis. Para além disso, é também uma mina activa de enxofre, e o explorador já assistiu ao trabalho dos mineiros. “A única proteção que eles têm contra o dióxido de enxofre gasoso é um pano húmido enrolado à volta da boca, através do qual eles respiram o dia inteiro, acabando por ficar com os dentes da frente completamente desfeitos”, prossegue. “É horrível.”
Um outro colorido e inóspito lugar é o Lago Natron, na Tanzânia. O vermelho vivo deste lago deve-se às cianobactérias que colonizam as suas águas salgadas, que são quase tão alcalinas quanto o amoníaco e podem atingir temperaturas na ordem dos 49ºC.
O vulcão mais baixo do Planeta situa-se abaixo do nível do mar, em Dallol, na Etiópia. Por entre as formações de cristais de sal nas suas crateras, piscinas ácidas quentes misturam-se com crostas de minerais sulfurosos e gases mortíferos. Fotografia de Carsen Peter, National Geographic Creative.
Ainda que o Lago Natron não seja dos melhores sítios para dar um mergulho, as suas margens são um habitat importante para os flamingos, que adquirem a sua cor rosada ao alimentar-se das cianobactérias vermelhas.
Encanto sangrento
Contrapondo-se ao branco alvo de um glaciar antártico, esta queda de água cor-de-sangue da altura de um prédio de cinco andares não passa despercebida.
As Cascatas de Sangue foram descobertas em 1911, e os cientistas julgavam que a cor vermelha das águas talvez se devesse à presença de algas. Contudo, em Junho, investigadores da Universidade do Alasca publicaram novos mapas, que mostravam como a água salgada, rica em ferro, percorre fendas e fissuras no gelo. Assim que esta água entra em contacto com o ar, o ferro reage com o oxigénio, tornando-se vermelho, tal como a ferrugem.
Ainda assim, a água de aspeto sangrento está repleta de vida. Os cientistas descobriram que as águas que alimentam as Cascatas de Sangue são extremamente invulgares, pois são líquidos antigos, gerados apenas pelo próprio glaciar, e não por chuva ou neve. Os microrganismos ali existentes estão adaptados a temperaturas negativas, salinidade extrema e à elevada pressão que se faz sentir no interior deste gigantesco glaciar.
Central eléctrica perdida
Depois há as Cataratas Secas de Coulee City, em Washington. Este é um local que não o irá matar, nem assustar os miúdos, nem chocar os mais suscetíveis. É apenas um bocadinho triste.
O Vale da Morte, ou Deadvlei, na Namíbia, é invulgarmente belo, com as suas acácias mortas e algumas das maiores dunas de areia do Planeta. Fotografia de Ton Koene, VW Pics, AP.
As Cataratas Secas são as maiores quedas de água que jamais existiram. Só que não as poderá ver. Na última era glacial, as cataratas eram 10 vezes maiores que as actuais Cataratas do Niágara, com a água a cair de uma altura de cerca de 120 metros, e uma extensão superior a cinco quilómetros.
Hoje em dia, é apenas um lago com uns simpáticos penhascos em seu redor — uma ténue recordação de glórias passadas. O melhor elogio que o jornal The Oregonian conseguiu tecer às antigas cataratas foi um “valem bem a pena uma breve paragem.”
Brilho sufocante
A Gruta dos Cristais de Naica, no México, alberga alguns dos maiores cristais do mundo, mas há uma razão para que esta nunca esteja cheia de turistas maravilhados. Há uma corrente de magma localizada imediatamente abaixo da gruta, e os poucos que se aventuraram a explorar o seu interior arriscaram sofrer um choque de calor.
“A temperatura atmosférica no interior pode atingir os 50ºC, com uma humidade de praticamente 100%”, diz Kourounis. “Assim que entramos, começamos a morrer.”
Kourounis teve de esperar dois anos para obter permissão para passar um dia na gruta, mas, assim que lá chegou, não ficou desiludido. “Parece a Fortaleza da Solidão do Super-Homem”, conta. Quanto aos restantes, todos nós, provavelmente nunca viremos a ter oportunidade de admirar a beleza terrível desta gruta — após os trabalhos de mineração na gruta terem terminado, em 2015, esta voltou a ficar inundada por águas subterrâneas.
Vistas chocantes
Podemos, contudo, visitar um lago que foi designado como “o lugar mais eléctrico do Planeta.” Aqui, os relâmpagos cortam a atmosfera mais de 200 dias por ano, no local onde o Rio Catatumbo desagua no Lago Maracaibo, na Venezuela, chegando a atingir os 280 raios por hora.
Os relâmpagos são de tal forma intensos aqui, que têm um nome próprio, o Relâmpago Catatumbo. Os cientistas mediram a quantidade de incidências e as condições atmosféricas, para tentar perceber porque é que este local em particular é tão propenso à ocorrência deste fenómeno. Alguns cientistas creem que o metano ionizado que se acumula na atmosfera durante a noite gera um campo elétrico mais forte sobre este sítio.
Mas os relâmpagos poderão ter uma explicação mais mundana: ventos quentes vindos das Caraíbas são aprisionados na bacia do lago, onde se juntam ao ar mais fresco, provindo dos Andes. Estes são os ingredientes básicos para a formação de nuvens de trovoada, coincidindo que estas condições são invulgarmente prevalentes neste lugar específico.
Não toque no arco-íris
As águas azuis no centro da fonte termal mais famosa do Parque Nacional de Yellowstone podem provocar-lhe uma queimadura de terceiro grau em menos de um segundo. Mas sem dúvida que são lindas.
O surpreendente arco-íris de cores da Grande Nascente Prismática, em Yellowstone, é originado pelas bactérias que colonizam este ambiente extremo. Fotografia de Frans Lanting, National Geographic Creative.
A Grande Nascente Prismática, muitas vezes chamada a fonte termal arco-íris, tem, efectivamente, as cores de um arco-íris. Á água no centro da nascente é a mais quente, atingindo 86ºC, de forma que não há muitas formas de vida que ali subsistam, o que lhe confere a sua transparência e — uma vez que a água dispersa a luz azul — e o belíssimo tom cerúleo.
À medida que as águas se vão afastando do centro da nascente, vão arrefecendo, e as cianobactérias que toleram estas temperaturas elevadas proliferam. Os Synechococcus produzem pigmentos amarelos em condições extremas, originando a faixa de cor, e de calor, seguinte, sucedendo-se um conjunto mais vasto de formas de vida nos anéis externos, mais frescos.
Tal como sucede com a maioria destes lugares incríveis, a espécie humana representa um perigo maior para a Grande Nascente Prismática do que o inverso. Em 2014, um grupo de turistas despenhou um drone no interior desta piscina fumegante, e, em 2016, foram captadas imagens de turistas canadianos a espezinhar o delicado local.
Para seu bem, e de todos — veja, mas não toque.
Artigo publicado originalmente em inglês em nationalgeographic.com