Grande parte do caminho até ao castelo é a subir por uma ladeira calcetada de pedras rombas e escorregadias quando a humidade nelas assenta, mas o esforço vale a pena para chegar às portas da fortaleza e ver o que se esconde no interior, implantado num bloco granítico.

São as ameias que impelem a subida: lá de baixo, a ribeira de Belver é absorvida pela torrente do rio Tejo, que ganha uma corrente tremenda quando se sente afunilado naquele encaixe natural entre montes e margens altas.

Saciada a vista sobre as linhas de água, atenta-se então naquele que é considerado um dos mais complexos edifícios da arquitectura militar medieval em Portugal e que desempenhou um papel importante integrado na linha defensiva do Tejo e que delimitava a fronteira com os domínios do califado almóada.

Belver

Fotografia de Getty Images.

Posteriormente, quando o reino português já estava quase consolidado, Dom Sancho I entregou as terras entre o Tejo e o Zêzere, onde se incluía o castelo, ao prior da Ordem dos Hospitários, então uma das mais importantes ordens religioso-militares da época. Após alguns melhoramentos, o castelo foi baptizado com o nome de Belver – e com justiça, pois o que dele se avistava era de belo ver.

Naturalmente, cresceu um povoado em seu redor, que foi aumentando ao longo dos séculos seguintes e sempre sob a sombra tutelar do castelo restaurado quase na íntegra no início do século XX.

belver arqueologia

Reconstituição de uma das mamoas das margens do Tejo, de tipologia inconfundível. Ilustração de Anyforms Design.

Muito do que hoje é Belver é marcado pelos tempos de outrora, subsistindo as ruelas tortuosas, os becos, as calçadas e as casas habitadas por locais que vivem agora, seguramente, momentos de maior paz e tranquilidade do que quando a vila foi alvo de tumultos militares.

Indissociável de Belver é a ponte homónima que se ergue sobre as águas do Tejo e que liga Belver a Gavião através da EN 244, num vão de 239 metros de comprimento. Esta ponte, ainda utilizada, foi parte essencial do encurtamento de distâncias e da mobilidade de pessoas, permitindo que o curso do Tejo não fosse entrave à circulação.

Belver mapa

Infográfico de Anyforms Design.

O grande rio peninsular ainda é uma das mais-valias para visitantes, atraídos pela riqueza do património histórico mas também natural. Uma das intervenções recentes mais relevantes criou os Passadiços do Alamal, com 1,7 quilómetros de extensão, que começam em plena praia fluvial homónima e terminam na ponte de ferro que atravessa para Belver, sempre com o Tejo a correr ao lado e com o castelo permanentemente no horizonte. A praia fluvial do Alamal dispõe também de excelentes estruturas de apoio para passar um dia de mergulhos no Tejo.

Não deve ainda perder de vista a Anta do Penedo Gordo, na margem da ribeira das Eiras, próxima da povoação de Torre Fundeira.

Este monumento megalítico de fácil acesso e boa conservação, conhecido desde meados do século XIX, é um agradável portal para recuar ao Neolítico. Para complementar o passeio, não deixe de sublinhar três apontamentos sem igual no país: o Núcleo Museológico das Mantas e Tapeçarias, o Museu Domingos da Vinha, sobre a confecção de pão e vinho, e o curioso Museu do Sabão, um dos quatro existentes em todo o mundo.