Encavalitada no alto dos penedos, Alegrete é facilmente reconhecível pelas suas distintas muralhas. Para atingir a vila, é sempre a subir, mas vale bem o esforço quando se atinge a Torre do Relógio e o Largo da Igreja, a partir do qual se deve percorrer as ruas e vielas que, de tão estreitinhas, levariam Dédalo a roer-se de inveja.
Alegrete tornou-se famosa à custa das muralhas dinisinas erguidas pelos seus próprios habitantes e que, de tão robustas, foram sempre impeditivas que a vila fosse conquistada, apesar da sua condição raiana. É esta tenacidade, esta força de viver, que encontramos ainda hoje nas gentes locais, que convivem com frequência na zona muralhada, não com qualquer espada à cintura, como os seus antepassados, mas munidos de baralhos de cartas (os homens) ou de agulhas de tricotar (as mulheres). O que resta do castelo, mesmo no topo da povoação, merece uma visita obrigatória. Há que inspirar profundamente e encher os pulmões de ar, pois, além da vista absorvente sobre a planície alentejana, o lugar convida à meditação e permite o usufruto do reconfortante som do silêncio.
A Igreja Matriz de São João Baptista, de Alegrete.
Alegrete é uma das portas de entrada para a exploração do Parque Natural da Serra de São Mamede, cujos 31.750 hectares abrangem um conjunto de geologia, fauna, flora e paisagem notáveis. A coroar o parque e toda a área sul do Além-Tejo, é no pico de São Mamede, cujo marco geodésico assinala 1.025 metros de altitude, que se abre um mundo que ilumina tudo o que a vista alcança: ao longe, a silhueta baça da serra da Estrela; a meio caminho, o recorte assombroso de Marvão, que quase desafia o pico e, mais perto, uma panorâmica privilegiada sobre a planície e a barragem da Apartadura.
Não surpreende que este verdadeiro miradouro do Alentejo seja território do lince, ainda que ameaçado de extinção, da águia de Bonelli e grifos, além de ter sido local de povoamento humano desde o Paleolítico, exemplarmente representados nas pinturas rupestres da Lapa dos Gaivões e em grutas vizinhas e que contemplam um dos melhores exemplares desta arte pré-histórica em Portugal.