Escondida por matos rasteiros, a Lapa do Fumo é uma das muitas grutas naturais no concelho de Sesimbra que pode ser visitada. Não é uma gruta grande (70 metros de comprimento por 7 metros de altura), mas tem particularidades muito especiais. Desde o Neolítico até ao final da ocupação islâmica (no século XII), a lapa foi usada para vários fins, nomeadamente para enterramentos.
Redescoberta em 1956, foi alvo de estudos arqueológicos de forma sistemática até aos tempos modernos. Encontraram-se aqui muitos materiais: cerâmica, lâminas de sílex, placas de ardósia, cobre, bronze, dezenas de moedas muçulmanas (quirates almorávidas do século XII), entre muitos outros objectos, foram levantados e dispostos em alguns museus (com destaque para o Museu Municipal de Sesimbra e para o Museu Nacional de Arqueologia) e arquivos nacionais.
Do ponto de vista geológico, esta gruta também tem pormenores interessantes. Além das formações estalactíticas e estalagmíticas, destacam-se as “bandeiras”. Os especialistas consideram-na uma gruta fóssil. Nesta cavidade, vive também a mais pequena aranha da Europa e a segunda mais pequena do mundo. A Anapistula ataecina é uma aranha endémica de Portugal, cavernícola, branca (despigmentada) com pouco mais demeio milímetro. Pelos critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza, este invertebrado está “criticamente em perigo de extinção”. Só foi descoberto pelo Núcleo de Espeleologia da Costa Azul e estudado pelo biólogo Pedro Cardoso em 2009.
Com guias experientes, é possível observar o minúsculo aracnídeo, mais parecendo uma partícula de pó a voar no breu. Actualmente, esta aranha já é conhecida noutras grutas do sistema do Frade (Sesimbra) bem como no Sul de Portugal.
Além da aranha, podem ainda ser observados outros animais cavernícolas como pseudo-escorpiões e caracóis.
Fechada diariamente, a Lapa do Fumo, classificada como Imóvel de Interesse Público em 1982, só é acessível através de passeios organizados que permitem ao viajante desbravá-la sem perturbar o seu ténue equilíbrio. Devidamente equipado, com capacete e luz e roupa apropriada, é fácil visitar este local com tanta história natural e humana. É uma óptima gruta para introdução à espeleologia numa das regiões mais ricas do país para esta disciplina.
Adaptados à escuridão completa e a um meio muito húmido, alguns organismos prosperam em grutas.