É impossível definir um período mais importante do que o outro em Alcácer do Sal. E isto mesmo pode ser visto no recém-inaugurado Museu Pedro Nunes. Aí, certamente, perceberá o que queremos dizer. O impacte é dado, de imediato, pela sua importância na Idade do Ferro.
1. Alcácer na Idade do Ferro.
Em 1990, uma equipa liderada por Carlos Tavares da Silva e Françoise Mayet identificou a feitoria de Abul na Herdade do Monte Novo da Palma. Com as escavações, Abul revelou-se um dos mais interessantes vestígios da presença fenícia neste território. Esta reconstituição recupera a configuração da zona ribeirinha de Alcácer há 2500 anos.
2. Oleiros e pescadores. Entre as ruínas escavadas entre 1990 e 1997 (e classificadas como Monumento Nacional em 2012), encontraram-se três fornos e uma olaria de época romana. A comunidade local dedicar-se-ia igualmente à pesca há 2.500 anos.
A então Beuipo era já no século VII a. C. um florescente porto fluvial que bebeu a sua identidade na colonização fenícia do litoral atlântico. A presença de populações orientais no Baixo Sado é bem vincada e tem em Abul o seu máximo expoente. A feitoria fenícia de Abul, a cerca de 20 quilómetros de Alcácer do Sal, é um singular edifício construído em meados do século VII a. C. segundo modelos e técnicas de construção mediterrâneos.
No topo de uma elevação rodeada por um fosso, apresenta-se um edifício de planta quadrangular com 22 metros de lado, com um pátio central para onde confluem vários compartimentos e salas. O acesso era feito através de uma torre rectangular saliente que se encontra no lado ocidental. O edifício terá sido reestruturado, pouco depois, reduzindo-se a área do pátio, onde foi colocado um santuário, tendo o fosso sido selado. A ocupação de Abul prolonga-se até ao século III da nossa era, altura em que foi um importante ponto de produção de ânforas.
O fantástico biberão romano de cerâmica.
A impressionante história de Alcácer continua e a dimensão comercial, marítima e o contínuo intercâmbio com o Mediterrâneo transformou-a na grande Salacia Urbs Imperatoria, uma das mais privilegiadas cidades romanas do Ocidente peninsular. O seu esplendor pode ser sentido no museu através de peças como um raro biberão de cerâmica, as taças de terra sigillata, as ânforas, os vidros, ou as epígrafes.
No século IX, uma tribo berbere, os banu danis, escolheu Alcácer para construir o seu castelo designado por Qasr Abi Danis. Aqui, Al Mansor, governador do Al-Andalus, mandou instalar um estaleiro naval, transformando Alcácer numa base com relevância militar do califado, útil para a preparação da expedição contra Santiago de Compostela, em 997.
A tomada definitiva de Alcácer pelos portugueses ocorreu em 1217 e foi relatada no extraordinário poema Gosuini de Expugnatione Salaciae Carmen. A entrada definitiva no domínio cristão permitiu que Alcácer nunca perdesse o estatuto que se prolongou pela Idade Moderna. Só num ambiente cosmopolita e dinâmico poderia, assim, nascer em Alcácer uma das mais incríveis personagens da história de Portugal: Pedro Nunes. Considerada “um novo Arquimedes”, esta figura trouxe raro prestígio ao país, tendo sido reconhecido como um dos maiores matemáticos de todos os tempos pelos seus pares. O Museu Pedro Nunes é um daqueles espaços onde nos orgulhamos do nosso passado, onde todos nós, mesmo não sendo de Alcácer do Sal, sentimos e percebemos o que somos como povo e como país.
Museu Municipal Pedro Nunes
Rua do Município 1A, Alcácer do Sal
Horário: 9h – 12h30 / 14h – 17h30 (horário de Inverno)
Contacto: Tlf.: +265 610 045