O "unicórnio do mar" perdeu um pouco do seu mistério. Até agora, a forma como os narvais utilizavam a sua longa presa tinha sido alvo de muita especulação por parte dos cientistas.
O comportamento foi captado pela primeira vez em vídeo e mostra os narvais a utilizarem a sua longa presa saliente na cabeça para atordoar o bacalhau-polar, tocando no mesmo com recurso a movimentos rápidos e em ziguezague. Este comportamento imobiliza o peixe, facilitando a sua captura.
As imagens foram filmadas por dois drones no estreito de Tremblay, Nunavat, nas regiões mais a nordeste do Canadá por Adam Ravetch para o World Wildlife Fund Canada e investigadores da Fisheries and Oceans Canada.
Brandon Laforest, especialista sénior em espécies do Ártico e ecossistemas com o WWF Canada, explicou porque é que os narvais têm sido uma espécie tão misteriosa. "Não saltam como as outras baleias. São também muito assustadiços", afirmou Laforest. "Esta é um observação totalmente nova da forma como utilizam a presa."
Laforest, que trabalhou com funcionários do governo do Canadá, passou tempo a acampar no habitat de Inverno do narval. Devido à regiões remotas onde os narvais vivem, a confirmação visual do seu comportamento tem sido muito difícil de comprovar. Marianne Marcoux, investigadora da Fisheries and Oceans Canada, referiu que os drones têm sido uma ferramenta inovadora para estudar estes animais esquivos.
"Os drones são muito entusiasmantes. Podemos ver coisas que não conseguíamos ver antes", afirma Marcoux. Observações aéreas anteriores foram efectuadas com aviões de pequeno porte que, normalmente, forneciam uma visão incompleta ou assustavam os animais.
75% da população mundial desta espécie pode ser encontrada nas proximidades do estreito de Lancaster. O governo canadiano está a considerar integrar aqui uma zona protegida.
Presas multi-funções
Apesar de as imagens confirmarem uma teoria de como os narvais utilizam as suas presas, também podem utilizá-la para outros fins como para picar gelo, como arma, selecção sexual ou ferramenta para ecolocalização. No entanto, Laforest acredita que podem ser especialmente importantes como órgãos sensoriais. As suas presas estão cobertas de milhares de terminações nervosas e poros que ajudam os narvais a sentir o ambiente à sua volta.
"Conseguem sentir o ambiente envolvente tal como um humano sente um dente partido", afirmou Marcoux.
A presa é um dente canino esquerdo saliente na cabeça dos machos e pode crescer até quase três metros. O canino direito permanece incluso e mais nenhum dente está saliente no interior da sua boca. Os narvais utilizam antes a sucção para engolir as suas presas inteiras.
As novas imagens são também importantes para os esforços de conservação, pois demonstram que os narvais se alimentam nas águas durante o Verão. Os cientistas acreditavam anteriormente que os narvais se alimentavam exclusivamente durante o Inverno, na zona Sul da ilha Baffin. Identificar as regiões principais das quais os narvais dependem para se alimentarem e terem as suas crias pode ajudar os conservacionistas a preservar da melhor forma possível o seu ambiente e rotas migratórias.
Desafios à vista
Uma das maiores ameaças que os narvais enfrentam é o desenvolvimento industrial. À medida que a extracção mineira e o turismo aumentam nos seus habitats, os narvais enfrentam uma probabilidade maior de serem atingidos por navios. O ruído submarino resultante deste desenvolvimento também interfere na sua capacidade de comunicar.
Como 90% da população mundial de narvais pode ser encontrada em águas canadianas, Laforest sublinhou a importância da investigação federal canadiana para identificar zonas protegidas e criar rotas de expedição que provoquem o mínimo de incómodo possível.
O clima também pode causar impacto nesta espécie. Os narvais são os únicos cuja cadeia alimentar está totalmente dependente do gelo no mar e, como tal, são particularmente susceptíveis ao aquecimento das águas.
As ameaças aos narvais também influenciam a comunidade Inuit no norte, que depende dos animais para alimentação e artesanato para apoiar o seu meio de subsistência.
Os investigadores têm agora de ajudar a identificar zonas importantes de nascimento de narvais, o que poderá ajudar ainda mais os planos para a sua proteção.