Darwin tinha apenas 22 anos quando zarpou de Plymouth a bordo do HMS Beagle numa viagem de cinco anos à volta do mundo, mas foram necessários muitos mais anos para amadurecer as ideias que abalaram para sempre as explicações mágicas para a origem das espécies.

As ilhas, onde o isolamento geográfico condiciona o processo evolutivo, foram determinantes para a epifania do jovem cientista. O segredo das ilhas radica na distância a que se encontram das massas continentais. Se estão demasiado próximas, o fluxo permanente de indivíduos não favorece a diferenciação; quando estão demasiado distantes, a probabilidade de colonização é diminuta. Os tentilhões estão presentes nos Açores, Madeira e Canárias e até há pouco pensava-se que tinham chegado às ilhas em episódios independentes.

Nas últimas décadas, porém, a genética transformou-se numa ferramenta que permitiu afinar a minúcia da interpretação biológica. Uma equipa de investigadores do Museu de Ciência de Madrid e da Universidade de Oviedo reconstituiu, graças à análise do DNA mitocondrial, o trajecto seguido pelos tentilhões que colonizaram estas ilhas. Ao contrário do que parecia lógico, o primeiro arquipélago colonizado, há cerca de um milhão de anos, terá sido o mais distante do continente — o dos Açores. A partir daqui terão partido as aves que depois colonizaram a Madeira e por fim as Canárias. Até recentemente conhecidos como subespécies do congénere continental, os tentilhões dos três arquipélagos passaram a ser considerados espécies distintas.

FENÓTIPO

Até recentemente considerado uma subespécie, o tentilhão dos Açores (Fringilla moreletti) é agora uma espécie diferenciada do tentilhão da Madeira (Fringilla maderensis) e do das Canárias (Fringilla canariensis). 
Os tentilhões das ilhas da Macaronésia têm uma aparência distinta dos do continente: o dorso é predominantemente cinzento-azulado, as manchas verdes ou avermelhadas são menores ou mais discretas, as asas mais curtas e os tarsos mais compridos.

OUTROS FACTORES

O desenvolvimento da floresta laurissilva nestes arquipélagos há cerca de 2,6 milhões de anos foi um factor decisivo para que estas aves pudessem sobreviver aqui.

Artigo publicado originalmente na secção "Explore" da edição de Agosto de 2023 da revista National Geographic.