Num barco ao largo da costa ocidental da Costa Rica, membros da expedição Octopus Odyssey juntaram se à frente de ecrãs de TV, observando em tempo real o seu veículo comandado à distância sondar o fundo do mar. De repente, uma delas exclamou: “Está ali um bebé, está ali um bebé!”
O minúsculo recém-nascido, com o corpo cor de rosa claro e translúcido, estendia os seus oito tentáculos para a frente, tentando impulsionar-se para cima.
“Foi um momento incrível”, disse Beth Orcutt, que liderou o projecto de investigação ao sítio de Dorado Outcrop, no Oceano Pacífico, no passado mês de Junho, acompanhada por Jorge Cortes, da Universidade da Costa Rica. “A sala de controlo da missão ficou muito cheia e muito barulhenta.”
CORTESIA DE SCHMIDT OCEAN INSTITUTE
A equipa de investigação demonstra o seu entusiasmo na sala de controlo após ver o primeiro polvo da expedição de Junho.
Havia muito para comemorar. A equipa de 18 elementos acabara de descobrir o quarto berçário de polvos conhecido em mar profundo do mundo – e possivelmente uma nova espécie. Os três outros berçários encontram-se ao largo do Canadá, da Califórnia e da Costa Rica, a escassas 30 milhas náuticas de Dorado.
“Descobrir um berçário é um acontecimento significativo para perceber onde poderão existir locais únicos de biodiversidade nas águas da Costa Rica, que podem merecer a nossa atenção”, diz Orcutt, investigadora sénior do Bigelow Laboratory for Ocean Sciences, no Maine.
Estes animais são incríveis, conseguindo viver num ambiente onde a pressão é alta, a temperatura é baixa e é escuro como breu.
Sólido como uma rocha
Muitos polvos são criaturas solitárias que põem os ovos em superfícies rígidas para depois chocarem e protegerem os seus bebés em desenvolvimento dos predadores. As progenitoras expelem regularmente água sobre os ovos para oxigená-los e impedir que sejam atacados por algas e fungos, diz Jennifer Mather, especialista em polvos da Universidade de Lethbridge, no Canadá, que não participou na expedição.
Quando os ovos eclodem, os juvenis afastam-se para começar uma nova vida e a progenitora costuma morrer, diz Mather.
CORTESIA DE SCHMIDT OCEAN INSTITUTE
Este polvo não identificado, que se pensa pertencer a uma nova espécie, foi avistado a quase 3.000 metros de profundidade.
No entanto, as coisas parecem ser um pouco diferentes em Dorado Outcrop, uma zona rochosa situada a cerca de 3.000 metros de profundidade. O ROV filmou muitos polvos a cuidar de ovos juntos na mesma área, mais ainda do que em 2013, a última vez que Orcutt visitara o local.
“A primeira coisa que conseguimos ver no nosso primeiríssimo mergulho foi que havia ainda mais polvos no mesmo sítio. Ficámos mesmo muito excitados”, afirma. “É quase uma explosão demográfica.”
A que se deve este ajuntamento social? Os polvos precisam de superfícies rígidas onde pôr os seus ovos, mas o oceano profundo é maioritariamente revestido por lama macia e não tem muitas pedras.
“Só são berçários por acidente”, diz Mather. “Não me admira que tenham sido descobertas quatro destas zonas, pois é muito difícil encontrar espaços rochosos nas profundezas", acrescenta.
Novas espécies das profundezas?
Dorado possui uma colecção de fendas hidrotermais que expelem água quente e, provavelmente, atraem as progenitoras de polvo. Orcutt teoriza que esta água mais quente poderá beneficiar os ovos e ajudar as progenitoras a chocá-los mais depressa.
Estes animais são incríveis, conseguindo viver num ambiente onde a pressão é alta, a temperatura é baixa e é escuro como breu – para não mencionar o facto de partilharem o seu espaço com os outros polvos, diz.
A equipa observou provavelmente três espécies diferentes ao longo da expedição de 19 dias e uma delas poderá ser um novo membro do género Muusoctopus. Serão necessários mais estudos, incluindo capturar um espécime e testar o seu ADN, para termos certezas, diz Orcutt.
Mather não ficará admirada se os polvos forem novos para a ciência, tendo em conta tudo o que há para aprender sobre eles. “Mais de 99 por cento dos mamíferos foram descobertos e designados, mas nos moluscos, incluindo cefalópodes, esse valor é de apenas 50 por cento.”
"É preciso explorar mais"
A equipa do Octopus Odyssey não encontrou apenas berçários. Visitou cinco montes marinhos nunca explorados – montanhas submarinas onde também existem fendas hidrotermais.
“Todos pareciam ser diferentes em termos de espécie animal dominante, diz Orcutt. Um estava coberto de pepinos-do-mar e o outro tinha corais negros. A equipa também viu embriões de uma espécie de raia, um peixe aparentado com o tubarão, junto às fendas hidrotermais.
Mas ainda há muito mais por descobrir. Orcutt estima que, embora cerca de 30 por cento do leito marinho tenha sido cartografado, os seres humanos só tenham examinado cerca de um por cento.
“Há muita coisa que ainda não vimos, que não conhecemos em termos de biodiversidade. É preciso explorar mais.”