De peixes a dragões-de-komodo, a União Internacional para a Conservação da Natureza atualizou a sua lista das espécies mais ameaçadas do planeta.
Num mundo simultaneamente em chamas e debaixo de água graças às alterações climáticas, os cientistas anunciaram algumas boas notícias: várias espécies importantes de atum deixaram de estar à beira da extinção.
Duas espécies de atum-rabilho, um atum-albacora e um atum-voador, já não estão em perigo crítico ou foram retiradas da lista internacional de espécies ameaçadas de extinção.
Esta recuperação inesperadamente rápida demonstra o sucesso dos esforços realizados na última década para acabar com a pesca predatória. Mas o atum não é a única espécie que os cientistas estão a avaliar no Congresso Mundial de Conservação de 2021 em Marselha, França, organizado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Os investigadores alertam que muitas outras espécies marinhas permanecem em perigo. Por exemplo, mais de um terço dos tubarões e raias do mundo permanecem ameaçados de extinção devido à pesca excessiva, perda de habitat e alterações climáticas.
“Creio que a boa notícia é a de que a pesca sustentável é possível”, diz Beth Polidoro, bióloga marinha da Universidade Estadual do Arizona. “Podemos comer peixe de forma sustentável e sem esgotar a população até ao ponto em que está em vias de entrar em colapso ou extinção.”
Ao mesmo tempo, Beth alerta que as alterações no estatuto da espécie não devem ser um incentivo para aumentarmos as quotas de pesca e capturarmos a quantidade de peixe que quisermos.
“Precisamos de continuar a fazer o que está a funcionar”, diz Beth.
A UICN, que classifica as espécies mais ameaçadas do mundo na sua Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas e é apoiada por 16.000 especialistas de todo o mundo, também anunciou que alguns animais estão a mover-se no sentido oposto, em direção à Lista Vermelha. Um exemplo notável é o dragão-de-komodo, um lagarto que só vive em ilhas e está particularmente suscetível às alterações climáticas.
Há quase duas décadas que Beth Polidoro faz parte de um grupo de especialistas encarregado de avaliar a situação de mais de 60 espécies de atuns e peixes de bico para a UICN. A sua equipa anunciou as primeiras descobertas abrangentes em 2011, revelando que várias espécies de atum pescadas comercialmente estavam perigosamente perto de desaparecer.
Dez anos depois, Beth admite que está surpreendida com esta recuperação.
De acordo com os novos dados, o atum-rabilho do Atlântico (Thunnus thynnus), outrora listado como ameaçado de extinção, qualifica-se agora para o estatuto de menor preocupação. Assim como o atum-albacora (Thunnus albacares) e o atum-voador (Thunnus alalunga), que estiveram ambos considerados quase ameaçados na última avaliação.
O atum-rabilho (Thunnus maccoyii), que estava em perigo crítico de extinção, passou agora para ameaçado, enquanto que o atum-patudo (Thunnus obesus) permanece com o estatuto de vulnerável, e o atum-gaiado (Katsuwonus pelamis) mantém o seu estatuto de menor preocupação.
Como a ciência está a salvar maravilhas do mar
A maioria das pessoas pensa no atum apenas como uma potencial refeição, mas estes peixes são criaturas enormes e maravilhosas por direito próprio.
Por exemplo, um atum-rabilho do Atlântico começa a sua vida como um ovo mais pequeno do que a espessura de um cartão de crédito. Mas, no espaço de uma década, pode atingir comprimentos de mais de um metro e oitenta e pesar mais de 250 quilos. Os atuns são predadores ferozes que percorrem o oceano a velocidades que se aproximam dos 65 quilómetros por hora e engolem as suas presas de uma só vez – o que quer que caiba nas suas gargantas.
Embora estes animais sejam maiores do que um jogador de futebol americano, não estão à altura das técnicas de pesca modernas. Na década de 1970, os navios de pesca com ganchos carregados de isca capturavam os maiores atuns-rabilho do Atlântico enquanto os peixes se reuniam anualmente no Golfo do México para reproduzir. Ao mesmo tempo, as redes de cerco capturavam os atuns juvenis mais pequenos enquanto estes se alimentavam ao longo da costa leste da América do Norte.
Contudo, as quotas de pesca foram reduzidas e a aplicação dessas mesmas quotas ajudou na sua recuperação, diz Beth. “Os dados mais detalhados também permitiram avaliações e decisões de gestão mais precisas.”
Ainda existem algumas ressalvas. Não nos podemos esquecer de que o atum habita vastas extensões dos oceanos mundiais e usa diferentes regiões ao longo do seu ciclo de vida. Isto torna a gestão das suas populações bastante complexa.
“O atum-albacora no Oceano Índico é uma espécie de buraco negro”, diz Beth. “Não sabemos bem qual é o estatuto da espécie, mas parece ter sido pescada em excesso.”
“Da mesma forma, a população de atum-rabilho do Atlântico ocidental tem sido severamente esgotada desde a década de 1970 e ainda não recuperou por completo.”
Esperança para os dragões-de-komodo
Outro dos desenvolvimentos significativos do Congresso Mundial de Conservação é uma alteração no estatuto do dragão-de-komodo (Varanus komodoensis). Mas esta mudança é menos encorajadora do que a do atum.
Enquanto habitantes das ilhas Sunda da Indonésia, os maiores lagartos do mundo podem ter até 30% do seu habitat afetado pela subida do nível do mar nos próximos 45 anos, e isto levou os cientistas a alterar o estatuto deste réptil de vulnerável para ameaçado.
“Se falarmos sobre alterações climáticas e subida do nível do mar, creio que a maioria das espécies que vive em pequenas ilhas irá enfrentar o mesmo problema”, diz Achmad Ariefiandy, ecologista de uma organização indonésia sem fins lucrativos chamada Komodo Survival Program. Achmad não esteve envolvido na decisão de classificação da espécie.
Apesar desta ameaça existencial, os dragões-de-komodo podem estar em melhor situação do que outras espécies na mesma categoria. O governo indonésio comprometeu-se a salvar os dragões com um programa que só começou realmente em 2013, diz Achmad. “Este programa inclui parcerias entre governos regionais e locais, bem como com comunidades locais, académicos e organizações não governamentais.”
“Portanto, a realidade no campo neste momento [é a de que] os animais estão realmente a dar-se muito bem”, diz Achmad.
É claro que o trabalho de conservação nunca termina e exige vigilância para garantir que nem o atum nem os dragões-de-komodo ficam novamente à beira do abismo. Mas, por enquanto, os conservacionistas podem celebrar algumas vitórias para o mundo animal.
Este artigo foi publicado originalmente em inglês no sitenationalgeographic.com