Entre o céu e o mar, a natureza parece preferir o azul – e nós, humanos, também. No entanto, a cor é rara na natureza – sobretudo “num tom azul arroxeado semelhante à cor de faíscas de electricidade”, que foi como uma equipa de investigação descreveu uma nova espécie de tarântula descoberta no sul da Tailândia. A aranha, que pode alcançar quase 10 centímetros de comprimento, exibe pinceladas iridescentes nas suas patas, dorso e boca.
Denominada Chilobrachys natanicharum, já era conhecida no mercado dos animais de estimação como tarântula azul eléctrica, mas um estudo recentemente publicado na revista Zookeys confirmou-a finalmente como sendo uma espécie única.
Das 900 espécies de tarântula conhecidas, apenas cerca de quatro por cento possui alguma coloração azul, diz Sarah J. Kariko, bióloga evolutiva da Universidade de Harvard.
Embora outras cores sejam formadas por pigmentos nos animais, como o vermelho e o amarelo, o processo é diferente com o azul. Quando atingidas pela luz, as nanoestruturas das células reflectem a cor azul para os nossos olhos, diz Kariko, que não participou no novo estudo.
Estas cores estruturais criam frequentemente iridescência, diz Ling Li, professor associado da Virginia Tech, que colabora com Kariko no estudo da cor nas aranhas.
“É como uma pena de pavão. Se mudarmos o ângulo, a cor muda ligeiramente”, enquanto as cores criadas por pigmentos não mudam consoante o ângulo da visão.
Uma descoberta rara na floresta
A tarântula é também a primeira a ser descoberta numa floresta de mangue na Tailândia, disse Narin Chomphuphuang, líder do estudo e aracnologista da Universidade de Khon Kaen, na Tailândia, via email.
Para o estudo, Chomphuhuang e os seus colegas fizeram uma expedição aos mangues da província de Phang-Nga, procurando durante a noite, no meio da vegetação húmida e lamacenta, algum indício revelador de uma tarântula: teias semelhantes a mortalhas cobrindo a sua toca.
Neste caso, a equipa detectou uma tarântula azul na concavidade de uma árvore, à qual tiveram de trepar para atrair o animal para o exterior. Outra expedição descobriu a aranha vivendo em árvores de folha perene, um ecossistema diferente.
“Estamos surpreendidos por descobrir que também consegue prosperar em florestas de folha perene nas terras altas. A incrível capacidade de adaptação desta aranha é fascinante.”
De volta ao laboratório, os cientistas compararam o ADN e as características físicas da tarântula com outras espécies semelhantes e identificaram diferenças fundamentais, incluindo a sua coloração.
O nome da tarântula, C. natanicharum, refere-se a Natakorn Changrew e Nichada Changrew, dois executivos da empresa de construção imobiliária tailandesa Nichada Properties Co, Ltd., que venceram um leilão para dar nome à aranha. As receitas serão utilizadas para financiar os cuidados de saúde e educação do povo Lahu, um grupo indígena do sul da Tailândia.
Porque são tão azuis?
É provável que o principal antepassado da tarântula tivesse alguma parte azul ou que conseguisse produzir nanoestruturas azuis, diz Sebastian Echeverri, aracnologista independente e comunicador na área da ciência sediado em Pittsburgh.
Num estudo publicado em 2020, Echeverri referiu que as cores verde e azul evoluíram diversas vezes de forma independente nas tarântulas, sugerindo que desempenham um papel essencial nas suas vidas. Regra geral, muitos animais desenvolvem cores garridas para afastar os predadores, camuflarem-se ou atraírem parceiros.
Por exemplo, é possível que as cores da tarântula recém-descoberta tenham algo a ver com o acasalamento, diz Kariko, uma vez que as aranhas de grande porte têm rituais de cortejamento dinâmicos.
YURANAN NANTHAISONG
Não se sabe por que a C. natanicharum tem cores tão garridas, mas poderá ser para dissuadir os predadores.
As tarântulas não têm uma boa visão a cores, mas estas cores são tão garridas que “é perfeitamente razoável dizer que é algo que foi feito para ser visto”, diz Echeverri.
Por exemplo, os azuis fabulosos dos apêndices à frente da boca de tarântula podem dissuadir os predadores dizendo: “Olha para mim! Tenho uns dentes enormes! Não venhas para aqui!”
Seja qual for a razão, é muito provável que a nova tarântula continue a ser popular. “Nós, os seres humanos, sentimo-nos muito atraídos por cores raras e brilhantes”, diz Echeverri, “por isso lembramo-nos dessas espécies”.