Existem no reino animal diversos exemplos de espécies capazes de dormir em pé. Outra coisa completamente diferente é que o façam com frequência, uma vez que esta capacidade corresponde principalmente à necessidade de fugir do perigo. Os animais desenvolveram diversos mecanismos biológicos e estratégias para dormir em pé. Que espécies são capazes de fazê-lo e como o conseguem? 

Os mamíferos e as aves
SHUTTERSTOCK

Os mamíferos e as aves são as duas classes de animais que podem dormir em pé, embora poucas espécies o façam.

QUe ANIMAiS dormem em pé?

Os animais que dormem em pé são presas. Dormir em pé corresponde à necessidade de fugir do perigo sem perderem tempo a levantar-se e é uma capacidade condicionada por dois factores: a sua anatomia faz com que sejam demasiado lentos a levantar-se ou os seus predadores são muito rápidos.

A maioria das espécies que dorme em pé são aquelas que são alvo de predadores velozes, como lobos ou grandes felinos, no seu habitat natural. Os equídeos, entre os quais se encontram espécies domesticadas como os cavalos ou os póneis e selvagens como as zebras, e os cervídeos são as duas famílias de mamíferos que costumam dormir em pé.

Zebras
ISTOCK

As zebras dormem cerca de sete horas por dia, mas raras vezes o fazem consecutivamente pois, desse modo, ficariam expostas aos predadores. Por norma, dormem em pé durante o dia e deitam-se à noite. Dormir em pé permite-lhes estar alerta em caso de perigo. Deitarem-se, por outro lado, ajuda-as a alcançar a fase REM e conseguir um sono mais profundo e eficiente.

Os bovídeos, como as vacas, os bisontes, as cabras e os antílopes, também têm a capacidade de dormir em pé, mas, regra geral, as espécies domesticadas não costumam fazê-lo, simplesmente, porque não precisam. Há que ter em conta que esta posição gera tensão nas articulações e que muitos destes animais são bastante corpulentos. Sentindo-se seguros, não têm necessidade de recorrer a este mecanismo.

Frequentemente, é impossível distinguir à primeira vista se estão efectivamente a dormir, pois o cérebro mantém o mecanismo de pestanejar activo para que os predadores não se apercebam. Entre os animais que formam manadas, costuma haver alguns indivíduos que se mantêm despertos para dar sinal de alarme.

Existem outros mamíferos que dormem em pé. Um dos mais conhecidos é a girafa, porque a sua anatomia faz com que seja lenta a levantar-se. Isto não significa que durma sempre em pé: para descansar plenamente, precisa de deitar-se. A capacidade de dormir em pé é um recurso que usa apenas em caso de necessidade, uma vez que o sono permitido por essa posição é mais superficial e breve. E existem animais como os elefantes que, em rigor, não dormem propriamente em pé, mas encostados, apoiando-se em árvores, rochas ou nos seus próprios congéneres.

elefante
ISTOCK / WIRESTOCK

Os elefantes apoiam a cabeça em troncos, rochas ou nos seus próprios companheiros para dormirem em pé.

Por fim, existem espécies de aves que também conseguem dormir em pé, como as avestruzes, os flamingos, os pelicanos e os pinguins. No caso destes últimos, dormir em pé é uma necessidade imposta pelo clima rigoroso em que vivem, que os obriga a juntarem-se para conservarem o calor corporal. Por outro lado, aves de pequeno porte como pombos, pardais, corvos, papagaios ou periquitos conseguem dormir segurados aos ramos das árvores.

CoMO conseguem manter-se em pé?

Estes animais desenvolveram vários mecanismos para dormir em pé. Os dois factores necessários são manterem-se erguidos e conservarem o equilíbrio. Para tal, adoptam uma postura que distribui o seu peso de maneira uniforme, evitando que cambaleiem.

A maioria das espécies que dormem em pé utiliza um mecanismo chamado bloqueio articular – ou dos joelhos. Os ligamentos e tendões das extremidades possuem tecidos rígidos, os quais quando a pata está totalmente direita fazem com que a articulação fique fixa e a extremidade não se flicta. Isto permite-lhes estar em pé sem despenderem muita energia muscular para manter a postura.

Quando um destes animais precisar de se mexer, pode desbloquear voluntariamente a articulação flectindo o músculo adequado. Desta forma, pode relaxar os músculos enquanto se mantém em pé e dormir (embora nunca seja um sono profundo) e também precise de se deitar para descansar plenamente.

Os animais que utilizam o bloqueio articular costumam alternar as patas bloqueadas enquanto dormem em pé, evitando assim que uma das patas fique sujeita a uma pressão constante e permitindo-lhes descansar de forma equilibrada.

Girafas
SHUTTERSTOCK / UMAT34

As girafas apoiam a cabeça no seu próprio dorso ou no das suas companheiras quando dormem em pé.

Outras espécies dispõem de adaptaç��es específicas. Uma das mais específicas é a da girafa, que possui uma adaptação única chamada “postura de agulha”. Quando dormem, seja em pé ou deitadas, adoptam uma posição na qual dobram o pescoço para trás de modo que a sua cabeça fique apoiada nas ancas ou no dorso. Isto faz parecer que a sua cabeça está “cravada” no corpo como se fosse uma agulha, daí a designação. A postura de agulha permite-lhes distribuir o peso do pescoço sobre o corpo e dormir em pé sem se desequilibrarem, mas só serve para descansar durante períodos curtos. Também podem dormir apoiando a cabeça sobre o dorso das suas companheiras.

Quanto às aves, as de grande porte, como as avestruzes ou os pinguins, também costumam utilizar o bloqueio articular. Algumas espécies que vivem em ambientes aquáticos, como os flamingos, são conhecidas pela sua peculiaridade de dormir sobre uma só pata, um mecanismo que pode servir para minimizar a perda de calor quando estão na água, bem como para descansar os músculos e articulações alternando a extremidade sobre a qual se sustêm.

flamingo
ISTOCK / PHIL_SCARLETT

Os flamingos apoiam a cabeça no seu dorso para distribuírem o peso e manterem o equilíbrio, chegando a dormir sobre uma única pata.

Mais engenhosa, porém, é a adaptação das aves que dormem nos ramos das árvores, como os pombos ou os pardais. Os tendões flexores das patas destas aves, que lhes permitem dobrar as articulações, estão ligados às garras. Quando pousam num ramo, os tendões retesam-se automaticamente, fazendo com que as patas se apertem em torno do ramo como uma pinça, o que lhes permite agarrarem-se em segurança até enquanto dormem.

Em qualquer dos casos, há que recordar que ao dormirem em pé os animais não obtêm a mesma qualidade de sono. Estes mecanismos servem para descansar, mas não podem substituir o sono profundo, para o qual precisam de se deitar. É por isso que as espécies domésticas como as vacas ou os cavalos, que não precisam de se preocupar com predadores, não os usam com tanta frequência como as selvagens.