A criação de cães para gerar as mais de 400 raças existentes implica a selecção de determinadas características. Em alguns casos, características genéticas que seriam consideradas mutações são preservadas pela sua utilidade ou preferência estética. Estes são alguns dos curiosos cães “mutantes”.
BASENJI, O ÚNICO CÃO QUE NUNCA LADRA
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A particularidade mais estranha desta raça é ser o único tipo de cão que nunca ladra ou, melhor dizendo, que não consegue fazê-lo. O basenji é uma raça originária da África Central que partilha características anatómicas com os cães selvagens: uma delas é a estrutura da laringe e as suas cordas vocais, que são mais estreitas e planas do que é habitual na sua espécie. Por consequência, não é capaz de ladrar, emitindo antes um peculiar uivo que alguns consideram parecido com o yodel ou canto tirolês.
Outra das peculiaridades deste cão é que não “cheira a cão”. O odor da maioria dos cães deve-se a uma camada de gordura que possuem sob o pêlo e que os protege da desidratação: quando esta camada de gordura se molha, desenvolvem-se bactérias que causam o mau odor. O basenji tem o pêlo muito curto e gosta muito de limpar-se, como um gato, por isso estas bactérias não se desenvolvem.
2. LUNDEHUND norueguês, o cão com seis dedos
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Esta raça norueguesa tem bastantes peculiaridades. Por exemplo, consegue fechar os seus canais auditivos para os proteger da água ou da sujidade se entrar em tocas, uma vez que é um cão de caça. No entanto, a sua característica mais notável é a polidactilia, uma mutação genética que lhe confere um dedo extra. Como tal, o lundehund tem seis dedos em vez de cinco, com um hallux, ou joanete, em cada pé.
Por que seleccionar deliberadamente indivíduos com uma mutação genética? Existe uma razão prática: esta raça foi criada para caçar papagaios-do-mar, de onde deriva o seu nome (Lunde significa papagaio-do-mar em norueguês e hund cão em alemão). Com isto em vista, os cães com polidactilia foram seleccionados para criação porque o dedo extra permite uma melhor fixação às rochas, sendo por isso ideal para caçar papagaios-do-mar, que vivem nas falésias.
3. Cão de crista chinês, o cão com cabeleira
TOMMY GILDSETH
O cão de crista chinês sem pêlo teve a duvidosa honra de ter conquistado seis vezes o prémio da raça canina mais feia. Não que seja feio, mas tem uma beleza peculiar: a sua característica é só ter pêlo na cabeça, na cauda e nas patas, enquanto o resto do corpo é liso. Na verdade, esta raça tem duas variedades, uma das quais tem pêlo em todo o corpo.
Isto deve-se ao facto de o gene responsável pelo crescimento do pêlo ser recessivo. Por isso, para obter um cão de crista chinês com pêlo em todo o corpo é necessário cruzar dois indivíduos que o tenham. Caso contrário, o pêlo só crescerá em algumas partes do corpo. O caso do cão de crista chinês é especial porque a maioria dos cães lisos não têm pêlos em todo o corpo, ou tem um pouco de pêlo em zonas localizadas, mas nenhum tem uma cabeleira como a desta raça.
SHAR PEI E CHOW CHOW, CÃES COM A LÍNGUA ROXA
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O shar pei e o chow chow (na imagem) são duas raças chinesas que, não sendo parentes próximos têm uma característica curiosa em comum: a sua língua é de um tom arroxeado, que vai desde o azul anil até quase ao negro. São as duas únicas raças reconhecidas com esta particularidade.
Esta cor deve-se ao facto de ambas as raças possuírem uma concentração mais elevada de células pigmentadas na língua. Trata-se do mesmo tipo de células que outros cães têm nos lábios e que lhes conferem uma cor negra, mas o shar pei e o chow chow têm-nas em toda a boca, fazendo com que as gengivas e o céu da boca também sejam negros e a língua de um tom arroxeado.
TRêS cães com NARIZ DUPLO: PACHoN NAVARRO, CATALBURUN E SABUEJO TIGRE ANDINO
CC
O nariz bífido é uma mutação genética que pode afectar qualquer cão e que consiste no lábio superior e o nariz estarem divididos ao meio devido a uma formação incompleta. Embora se considere uma malformação, existem três raças que têm o nariz bífido como característica distintiva: o pachon navarro, o catalburun (um cão de caça turco, na imagem) e o sabujo tigre andino.
Esta característica foi seleccionada durante a criação porque se acreditava que melhorava o olfacto do cão. Isto não só é incorrecto, como o nariz bífido pode gerar problemas comportamentais, uma vez que a parte central do focinho possui estruturas olfactivas que não chegam a formar-se devido a esta mutação, o que causa alterações de comportamento como agressividade e falta de interesse sexual. Também carecem de septo pelúcido, uma membrana que intervém na regulação do ciclo do sono, provocando alterações neste.