A análise, por uma equipa da Universidade de Otago, na Nova Zelândia, de 169 genomas distintos de indivíduos da espécie revelou importantes pistas para a conservação desta espécie em vias de extinção. 

Os dados recolhidos permitiram, por exemplo, associar dados genéticos a vários parâmetros vitais de cada indivíduo estudado (e da sua prole), como o número de ovos da postura ou a susceptibilidade a certas doenças. Graças a esta investigação é hoje possível ainda determinar o que é provável esperar de cada membro da população no que toca ao crescimento ou à fertilidade. Perceber mais cedo se algum destes membros apresentam problemas que o impeçam de atingir o seu potencial é um caminho aberto por este estudo, segundo a Nature

Esta equipa de investigadores avaliou se a população de cácapos, após ter passado por uma contracção tão violenta, mantém viabilidade genética… e a boa notícia é que sim, e que as decisões tomadas na gestão desta população nos últimos 45 anos foram no geral correctas. 

Hoje, o futuro do cácapo parece mais risonho. As últimas duas épocas de reprodução foram as de maior sucesso de que há registo, e os cientistas que a acompanham dispõem agora de uma base de dados sobre o património genético desta espécie que lhes permitirá não só tomar decisões mais informadas, como poder antecipar e resolver problemas com indivíduos específicos antes que seja demasiado tarde.

Kakapo
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QUE CARACTERÍSTICAS TEM um cácapo?

O kakapo ou cácapo (Strigops habroptila) é um papagaio endémico da Nova Zelândia, maioritariamente de cores verdes e amareladas, que apresenta várias características únicas.

Em primeiro lugar, é o mais pesado papagaio vivo (e um dos maiores), com os adultos a pesar entre três e quatro quilos. Também por isso é o único papagaio não voador, embora seja um bom trepador e consiga usar as pequenas asas para aparar quedas. Tem uma vida longa, havendo indivíduos que ultrapassam os 60 anos de longevidade, e é exclusivamente vegetariano, alimentando-se de um largo espectro de matéria vegetal e fúngica.

O cácapo é também o único papagaio conhecido que adopta um sistema de lekking para se reproduzir. Isto significa que os machos competem em territórios específicos pelo direito a acasalar com as fêmeas – outros animais que usam este sistema são os veados ou as abetardas. 

Em termos reprodutores, as curiosidades não se esgotam aqui: a competição é feita através da voz, possuindo os machos sacos vocais específicos para produzir, dentro de uma estrutura que constroem e mantêm, um bizarro som muito grave (o chamado booming) que usam como principal arma para conquistar as fêmeas, e que podem emitir todas as noites durante meses.

Adicionalmente, não se reproduz todos os anos, mas apenas em intervalos de dois a quatro anos: estes rituais de acasalamento geralmente só ocorrem nos anos de abundância de alimento, particularmente do fruto da árvore rimu.

Este papagaio é também uma ave de desenvolvimento lento, atingindo a maturidade sexual por volta dos 9-11 anos. Quando a fêmea faz a postura, numa cavidade bem escondida, põe geralmente um ou dois ovos (que podem ter mais de um mês de diferença) e as crias passam até três meses e meio no ninho antes de finalmente o abandonarem.

Por fim, é nocturno, como o são várias das aves neozelandesas, ocupando muitos dos nichos ecológicos que noutros continentes estão preenchidos por mamíferos.

Todas estas características eram adequadas para uma ave que evoluiu nas relativamente seguras montanhas das principais ilhas da Nova Zelândia antes da chegada do homem, mas a introdução de espécies predadoras por parte deste foi uma autêntica catástrofe para o pobre cácapo.

Nos anos 70 e 80 do séc. XX, já só restavam uns poucos indivíduos, espalhados por montanhas recônditas. Tomou-se então uma decisão radical: capturar a totalidade dos indivíduos e transportá-los para pequenas ilhas ao largo das principais, onde estariam a salvo dos predadores – embora isso tenha sido conseguido apenas com o tempo, uma vez que as primeiras ilhas tinham roedores, que vitimaram muitas crias.

Além disso, iniciou-se um programa de reprodução assistida muito intensivo, que ainda hoje está em andamento. Desse núcleo inicial, existem agora quase 250 descendentes, mas a luta pela sobrevivência do cácapo está longe de ter terminado.