Borboleta-monarca: As suas pintas poderão ser o seu superpoder

Um recente e intrigante estudo sugere que os padrões de cor das asas de uma borboleta-monarca migrante poderão ajudá-la a voar melhor.

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Borboletas-monarca
JOEL SARTORE, NAT GEO IMAGE COLLECTION

Borboletas reúnem-se no seu poiso de Inverno em Sierra Chincua, no México. O clima fresco da montanha abranda o seu metabolismo e poupa energia.

Todos os anos, milhões de borboletas-monarca voam quase 5.000 quilómetros desde o Sul do Canadá e das regiões setentrionais dos EUA até aos locais onde passam o Inverno, nas florestas das montanhas situadas nos arredores da Cidade do México.

“Toda a gente sabe o que é a migração das monarcas”, diz Andy Davis, ecologista animal da Universidade da Georgia. “Mas uma das coisas que ainda não percebemos muito bem é como são capazes de fazer um voo tão inacreditável, sendo um animal tão pequeno e com energia limitada.”

Surpreendentemente, segundo um estudo publicado recentemente na PLOS One, parte da magia que ajuda as monarcas a atravessarem um continente pode dever-se ao tamanho das minúsculas pintas das suas asas.

Ao estudar fotos dos padrões das asas de quase 400 borboletas-monarca recolhidas em vários locais ao longo do trajecto da sua migração, Davis e os seus co-autores descobriram um padrão interessante – as borboletas que conseguem chegar ao México tendem a ter pintas brancas três por cento maiores do que as monarcas recolhidas em locais como a Georgia ou o Minnesota, nos EUA.

Além disso, os animais em solo mexicano têm três por cento menos coloração negra nas suas asas do que as monarcas recolhidas em pontos prévios da sua migração multigeracional. Aqui está a razão porque isto é deveras interessante.

As monarcas migrantes voam a alturas que podem alcançar os 365 metros. Ao incidir nas suas asas, a luz do sol aquece-as. No entanto, fá-lo de forma desigual: as zonas pretas ficam mais quentes e as brancas mais frescas. Os cientistas crêem que, quando essas forças são alternadas, como acontece com as pintas brancas que se encontram sobre as bandas negras das extremidades das asas, poderão surgir micro-vórtices de ar que reduzem o atrito – tornando o voo mais eficiente.

Características semelhantes de redução de atrito foram descobertas na pele de tubarões e na coloração das asas de aves marinhas. Juntas, estas descobertas têm bastante potencial para o futuro desenvolvimento de tecnologias humanas.

“Se quisermos fabricar drones que voem mais tempo e captem energia solar, esta é das melhores inspirações que temos”, diz o co-autor do estudo Mostafa Hassanalian, professor associado de engenharia mecânica na New Mexico Tech.

Como a borboleta-monarca ganhou as suas pintas

A segunda parte do estudo avaliou as diferenças de tamanho nas pintas brancas entre a borboleta-monarca e seis das suas primas mais próximas do género Danaus.

Quando Christina Vu, co-autora do estudo e aluna de Davis na altura, quantificou o tamanho de todas as pintas das borboletas, descobriu que as monarcas tinham, de longe, as maiores marcas brancas. Seguiam-se as D. erippus, que são semi-migratórias, e cinco outras espécies: D. cleophile, D. erisimus thetys, D. gilippus Berenice e D. g. strigose, nenhuma delas migratória.

Com efeito, parecia que o tamanho das pintas – e, segundo as teorias dos cientistas, a sua capacidade para reduzir o atrito – poderiam estar associadas à própria migração.

“Acho que a migração de Outono já é um grande evento selectivo que ocorre todos os anos”, diz Davis. “Assegura que só os indivíduos mais aptos chegam à meta – aqueles que não têm nenhuma infecção ou doença e possuem as asas maiores e mais robustas.”

“E neste caso, os melhores padrões de pintas”, acrescenta.

O efeito borboleta

“Uma borboleta pode bater as asas em Pequim e chover em vez de fazer sol em Nova Iorque”, diz a personagem de Jeff Goldblum no "Parque Jurássico" original.

Desde "Havana" a "Donnie Darko", diversos filmes apresentaram ao público o chamado “efeito borboleta”, ou a ideia generalizada de que pequenas alterações podem, por vezes, ter grandes consequências. E embora muitas referências interpretem erroneamente a ideia originalmente exposta por Edward Lorenz, um professor de meteorologia do MIT, em 1963, é tentador utilizar esta metáfora para perceber como os padrões das asas de uma monarca poderão ter quaisquer consequências.

Afinal de contas, estamos a falar de pintas do tamanho da borracha de um lápis num insecto que pesa tanto como um grão de milho.

“A questão é a incrível distância que elas têm de percorrer. Elas passam 10 horas por dia no ar, durante 60 dias no total, até chegarem ao seu destino”, diz Davis.

Por isso, uma pequena diferença – neste caso, o tamanho das pintas – “é somada diariamente. E isso pode fazer a diferença entre a vida e a morte durante a migração”.

Investigação ‘revolucionária’

O passo seguinte seria testar se uma diferença tão pequena na coloração teria efeitos observáveis no atrito, escreveu Michaël Nicolaï num email.

Por exemplo, o novo estudo descobriu uma diferença de apenas três por cento na coloração, enquanto o estudo realizado por Nicolaï em aves marinhas revelou um aumento de 20 por cento na eficiência das penas com cores mais escuras nas asas.

Nicolaï concorda que as diferenças, mesmo que tão pequenas, podem ser vantajosas em distâncias tão grandes, mas até haver medições experimentais, diz que permanecerá “muito optimista”, mas “não convencido”.

Davis espera que o seu estudo inspire outros a investigarem essa questão: “A partir de agora, as pessoas vão olhar para as todas as outras espécies de borboletas que existem e pensar, ‘Ó meu Deus, o que esta cor fará pelo seu voo?' Acho que isto vai ser revolucionário.”

Artigo publicado originalmente em inglês em nationalgeographic.com.