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Reprodução Animal
6 animais que morrem (literalmente) por sexo
O instinto de perpetuar a espécie leva os seres vivos a arriscar tudo, inclusive a vida. E há animais que morrem, literalmente, por sexo. Estes são alguns deles.
Actualizado a
ISTOCK / SUPERCALIPHOTOLISTIC
O acasalamento serve para perpetuar a espécie, mas, por vezes, pode custar a vida dos envolvidos.
ALAN COUCH
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1. Rato-marsupial-australiano
O rato-marsupial-australiano, também conhecido como rato de Stuart ou de Macleay (Antechinus stuartii), é um animal de pequeno porte que vive unicamente numa estreita faixa litoral no leste da Austrália.
Estas minúsculas criaturas exemplificam perfeitamente a máxima “cresce depressa e morre jovem”: as fêmeas podem viver dois anos, com sorte, enquanto os machos não chegam a completar o primeiro aniversário. E tudo pelo sexo.
Chegado o seu primeiro cio, estes pequenos marsupiais entregam-se a um autêntico frenesim reprodutivo. Durante duas semanas, os machos acasalam com todas as fêmeas que encontram. Cada acasalamento pode durar até 14 horas. Nem sequer comem durante este período, mas conseguem obter uma grande quantidade de energia metabolizando as proteínas da sua massa corporal, transformando-as em glucose – um processo conhecido como gluconeogénese.
Este frenesim reprodutivo provoca nos machos uma produção contínua e desmesurada de hormonas de stress, que destroem completamente o seu sistema imunitário, garantindo, com certeza quase absoluta, a sua morte ao fim de poucas semanas, seja devido a doenças, infecções ou parasitas. As fêmeas não têm muito mais sorte: a maioria morre após parir a primeira ninhada. As mais sortudas (ou azaradas, conforme a perspectiva) sobreviverão para passar por uma segunda época de acasalamento e dar à luz uma segunda ninhada, mas desta não passarão – e não apenas devido ao stress. Os machos são extremamente violentos com elas, segurando-as pelo pescoço com os dentes.
GASPAR ALVES
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2. O louva-a-deus
O caso de “sexo mortal” mais conhecido do mundo animal é, seguramente, o do louva-a-deus (o seu nome científico é Mantis religiosa), no qual a fêmea devora o macho, começando pela cabeça, para obter nutrientes para a sua prole. Apesar disso, este desenlace não é tão habitual como se pensa e o macho tem possibilidades de sobreviver.
A sobrevivência do macho depende basicamente do factor-surpresa: se conseguir abordar a fêmea desprevenida e imobilizá-la, poderá proceder à fecundação com relativa facilidade. Uma vez fecundada, o macho deve ser rápido e fugir antes que esta consiga submetê-lo. Num estudo realizado pela Universidade de Auckland (Nova Zelândia), observou-se que os machos que conseguiam imobilizar a sua companheira tinham 78 por cento de possibilidades de escapar com vida.
Este comportamento canibal do louva-a-deus não se limita ao sexo: os recém-nascidos devoram frequentemente os seus irmãos por nascer. A motivação é a mesma: obter nutrientes. Estes insectos são canibais por natureza e aproveitam qualquer situação em que os seus semelhantes estejam desprotegidos. Estas oportunidades surgem facilmente durante o acasalamento, pois as fêmeas crescem mais do que os machos e podem submetê-los sem dificuldade.
KEVEN LAW
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3. O pato-real
A ordem dos anseriformes, que inclui muitas famílias como os patos, os gansos e os cisnes, é conhecida pela sua agressividade. Esta característica manifesta-se especialmente na época do acasalamento, na qual os machos de algumas espécies se tornam muito violentos para com as fêmeas e nenhuma espécie o exemplifica melhor do que o pato-real (Anas platyrhynchos), uma das mais comuns do hemisfério norte.
Durante a época de acasalamento, estes animais transformam-se em autênticos perseguidores, sem sequer tentarem seduzir as fêmeas com danças ou cantos como fazem outras aves. Quando vislumbra uma potencial parceira, o macho atira-se directamente a ela – se houver mais do que um pato, atiram-se todos ao mesmo tempo. Por vezes, nem se dão ao trabalho de verificar se a sua vítima é uma fêmea, algo que seria fácil, pois os machos têm cores muito mais vistosas, acabando por acasalar com outros machos.
Não é necessário dizer que este comportamento é terrivelmente traumático para as fêmeas, que ficam, frequentemente, feridas e podem até morrer. No entanto, nem isso detém os machos, que continuam a tentar acasalar com ela, mesmo quando já está cadáver.
NOAA PHOTO LIBRARY
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4. Peixes abissais
Os lophiiformes são um grupo de peixes abissais que inclui o tamboril (Lophius pescatorius). Estes moradores das profundezas caracterizam-se pelo seu aspecto bizarro e um dimorfismo sexual extremo, pois as fêmeas podem ser até dez vezes maiores do que os machos. Encontrar um companheiro nas profundezas do oceano pode ser muito complicado, razão pela qual desenvolveram um sistema de acasalamento tão extremo como inquietante.
Os machos têm um único objectivo na vida: encontrar uma fêmea e mordê-la. Quando conseguem fazê-lo, nunca mais a largam, ao ponto de o seu corpo se fundir com o dela. Uma vez que não conseguem comer, o seu corpo e os seus órgãos começam a atrofiar, até se transformarem em meros recipientes de esperma. Quando a fêmea decide procriar, limita-se a utilizar esta reserva que o macho lhe deixou à custa da sua vida.
Como se este método de acasalamento já não fosse suficientemente tenso (sendo muito difícil encontrar outro animal da sua espécie), uma fêmea pode ter vários destes machos mortos colados ao seu corpo em simultâneo.
DAVID MENKE
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5. Os salmões
A maioria das espécies de trutas e salmões (género Salmo) têm uma estratégia reprodutiva conhecida como semelparidade, que significa literalmente “gerar uma única vez”: depois de se reproduzirem pela primeira e única vez, morrem. Isto deve-se ao facto de investirem uma grande quantidade de energia a subirem os rios até chegarem ao local de desova e renunciarem a alimentar-se, o que faz com que o seu estado físico se deteriore rapidamente.
Uma vez atingido o seu objectivo, costumam morrer pouco depois, devido a esgotamento ou às infecções. Além disso, o seu estado torna-os presas fáceis para os predadores. A semelparidade é considerada uma estratégia evolutiva que permite aos salmões e a outros animais maximizarem o seu sucesso reprodutivo ao investirem todos os seus recursos numa única reprodução maciça.
No entanto, nem todas as espécies de salmão seguem este padrão e algumas, como o salmão rei e o salmão prateado, têm comportamentos de reprodução iteropáricos (literalmente, “gerar repetidamente”). O que distingue estas espécies é que, depois de desovarem, conservam energia e condição física suficiente para migrarem novamente até ao oceano, onde conseguem recuperar o suficiente para sobreviverem e reproduzirem-se novamente.
PIOTR NASKRECKI
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6. Os percevejos
Os percevejos (género Cimex) são bastante repelentes por si só, mas a sua forma de procriar eleva ainda mais o seu nível de repulsão. Não só se reproduzem a uma velocidade vertiginosa, motivo pelo qual infestam as nossas camas com imensa facilidade, como o fazem de uma forma brutal, que faz empalidecer os patos reais e os ratos-marsupiais-australianos.
Os percevejos apunhalam as suas congéneres para lhes injectarem o seu material genético. O pior é que as fêmeas têm estruturas destinadas ao acasalamento, mas os machos não se dão ao trabalho de procurá-las, limitando-se a espetar-lhes o órgão sexual no exosqueleto, injectando-as directamente com esperma.
Mas ainda há mais: estes bichos não perdem nem um segundo a averiguar o sexo dos seus congéneres. Uma vez que as fêmeas dos insectos são maiores do que os machos – para poderem albergar os ovos – os percevejos machos simplesmente apunhalam qualquer outro indivíduo maior do que eles, deixando o resto entregue à sorte.