Mudar árvores é uma forma de as florestas sob stress vencerem o calor à medida que o clima muda o mundo. Melhores estratégias de cultivo e um empurrão da ciência poderão ajudar estes sumidouros de carbono a combater o aquecimento.

Agulhas dourdas polvilham o  solo e juntam-se no cabelo de Greg O’Neill como madeixas louras luminosas enquanto ele avança por um bosque de larícios altos e elegantes, no vale de Okanagan, na Colúmbia Britânica. “Que linda árvore”, diz. “É uma espécie soberba. Quando encontra o sítio certo, cresce loucamente.”

Mas o “sítio certo” para muitas árvores, aqui e além, está a mudar à medida que o clima aquece na Terra. Com efeito, estes prósperos larícios não germinaram a partir das suas árvores-mãe neste vale ou sequer neste país. Vieram de um local 457 quilómetros para sul, no estado de Idaho, onde os seus antepassados se adaptaram a condições que são agora comuns aqui: verões mais quentes, invernos ligeiramente mais curtos, padrões de pluviosidade diferentes.

Enquanto vão gerindo as alterações climáticas, os engenheiros silvicultores da Colúmbia Britânica e os seus colegas semearam 152.376 plântulas de 15 espécies de árvores em 48 locais entre o Norte da Califórnia e o Sul do Yukon. Esta grande iniciativa, conhecida como Teste de Adaptação de Migração Assistida, pretende assegurar que os lugares de origem das espécies e as sementes seleccionadas para plantar estão adaptadas para lidar com as alterações climáticas que poderão encontrar ao longo da sua vida.

Fazem parte de uma experiência concebida para dar resposta a uma pergunta cada vez mais urgente: como podemos ajudar as florestas a acompanharem as alterações climáticas? Em terrenos como este, desde o Norte da Califórnia à fronteira com o Yukon, este engenheiro silvicultor e os seus colegas testaram plântulas de larício e outras espécies recolhidas em bosques junto da costa ocidental para testar o conceito de migração assistida. Queriam descobrir a que distância para norte os engenheiros silvicultores precisam de deslocalizar as populações de árvores de modo a acompanharem o ritmo das alterações climáticas. O problema é simples, resume Cuauhtémoc Sáenz-Romero, da Universidade Michoacana de San Nicolás de Hidalgo. “O clima está a mudar de sítio… e as árvores não conseguem andar.”

A partir de finais do século XIX, os seres humanos começaram a queimar combustíveis fósseis e a injectar enormes volumes de dióxido de carbono na atmosfera. Desde então, as temperaturas médias globais subiram cerca de 1,1ºC. A manter-se a actual trajectória de emissões, é provável que repitam a taxa de crescimento nas próximas décadas. Em média, a nível mundial, as florestas conseguem expandir o seu domínio até cerca de um quilómetro por ano, porque as árvores jovens costumam seguir os seus climas preferidos em direcção aos pólos ou montanha acima. Para acompanhar o ritmo das alterações, teriam de ser seis a dez vezes mais rápidas. Na Colúmbia Britânica, a disparidade é ainda maior: um estudo de 2006 sugeriu que as zonas climáticas desta província se deslocariam para norte quase dez quilómetros por ano.

Para uma província como a Colúmbia Britânica, onde as florestas cobrem cerca de 60% da superfície e constituem a espinha dorsal da economia e da sua identidade cultural, uma floresta incompatível com o clima representa uma ameaça existencial. Uma árvore mal adaptada, cuja genética seja compatível com uma realidade climática diferente, é mais propensa a catástrofes climáticas, doenças e pragas.

Na transição para o século XXI, viveu-se essa realidade. Vários anos de seca enfraqueceram muitas árvores. Os invernos, mais amenos, permitiram que o destrutivo escaravelho-do-pinheiro (Dendroctonus ponderosae), se deslocasse para norte. Entre 1999 e 2015, dezenas de milhões de árvores sucumbiram todos os anos. Em 2003, fogos florestais com uma dimensão sem precedentes assolaram mais de 2.600 quilómetros quadrados de floresta enfraquecida pelos escaravelhos e desidratada pela seca na Colúmbia Britânica.

Em 2009, os serviços florestais da Colúmbia Britânica iniciaram a maior experiência mundial de migração assistida. Em 48 locais, Greg O’Neill e os seus colegas plantaram grelhas organizadas de plântulas de 15 espécies diferentes, recolhidas em 47 bosques situados entre o estado de Oregon e Prince George, na Colúmbia Britânica. O projecto abrangeu 152.376 árvores.

Cerca de dez anos mais tarde, muitas das árvores que actualmente prosperam ali descendem de populações que vivem cerca de 500 quilómetros para sul, um indício de quanto o clima já mudou. Os dados iniciais foram de tal maneira convincentes que, em 2018, a agência florestal da Colúmbia Britânica adoptou uma política que obriga os engenheiros silvicultores a utilizarem sementes de zonas climáticas mais quentes para os 280 milhões de árvores que plantam todos os anos.

A experiência deitou por terra uma das regras mais elementares da silvicultura moderna: a plantação de espécies locais. Dentro e fora da Colúmbia Britânica, a comunidade científica discutiu acesamente a ética de transferir espécies para longe dos seus territórios actuais. Afinal, introduções feitas no passado causaram, por vezes, problemas terríveis com espécies invasoras. Outros rebateram este argumento, afirmando que os seres humanos já desencadearam alterações sem precedentes nos ecossistemas e que os riscos da inacção poderiam ser ainda maiores.

Mesmo com toda a ajuda que estão a receber na Colúmbia Britânica, há limites rigorosos para a rapidez com que as florestas conseguem adaptar-se. Uma vez que ninguém sugere o abate de florestas saudáveis para replantação, os engenheiros silvicultores só podem conquistar terreno plantando em terras onde as árvores arderam ou foram abatidas. Ao ritmo actual, a província só será capaz de substituir completamente as suas florestas abatidas daqui a 80 anos. Mesmo nessa altura, as árvores novas estarão apenas a acompanhar as alterações climáticas em vez de ultrapassá-las, porque é quase impossível plantar árvores com avanço suficiente em relação ao seu território actual para que elas consigam prosperar daqui a várias décadas: o frio do Inverno pode abrandar o crescimento ou matar as plântulas adequadas a climas mais quentes, se forem plantadas demasiado longe do local onde prosperam agora.

Na cidade universitária da Colúmbia Britânica, a doutoranda Beth Roskilly espreita entre um emaranhado de larícios vindos de vários pontos do Oeste da América do Norte, plantados em fila, num canteiro alto. Ela procura populações que sejam tolerantes ao calor e à seca e resistentes ao frio. “Se queremos transferir os larícios para norte, precisamos de saber que vão sobreviver”, comenta.

Entretanto, as pressões climáticas aumentam. Em Junho de 2021, atravessando de carro a fronteira entre o Canadá e os EUA durante uma vaga de calor que quebrou recordes, Sally Aitken viu, com horror, como os abetos de Douglas vertiam uma resina pegajosa e um odor doentio a terebentina. “Nunca tinha visto árvores sob tanto stress”, diz. No dia seguinte, incêndios enormes assolaram a região. Nesse Outono, uma pluviosidade extrema sem precedentes provocou deslizamentos de terras durante semanas a fio.

Apesar dessas ameaças climáticas, Sally Aitken é absolutamente clara: “Não é uma causa perdida”, diz. “Estamos só a tentar descobrir uma maneira de acompanhar o ritmo.”