Os contos de fadas podem tornar-se reais, mas, às vezes, demoram algumas décadas. 

Durante a infância, Elena Anosova ouviu histórias aparentemente imaginárias sobre uma aldeia visitada por veados e lobos, cercada por uma imensa floresta, estradas intransponíveis e um ambiente agreste. Na idade adulta, esta artista, hoje com 34 anos, visitou finalmente a povoação fundada há mais de trezentos anos pelos seus antepassados. Eram caçadores integrados na vaga de russos que se aventuraram até à Sibéria em busca de peles, e nunca mais voltaram. O pai de Elena nasceu lá e a maioria das cerca de 120 pessoas que chamam lar àquele lugar e não querem que os forasteiros conheçam os seus nomes ou localização encaixam-se sem dificuldades na categoria de familiares. 

No idioma tungus, o nome da povoação traduz--se mais ou menos por “ilha”. Trata-se de uma representação física daquilo que constitui o núcleo do trabalho de Elena: o estudo do isolamento e das fronteiras. Para se chegar de jipe a essa “ilha” de sonho, existe uma estrada de Inverno que congela sobre a pantanosa taiga subárctica. Para viagens mais velozes, é aconselhável o helicóptero e há voos duas vezes por mês a partir da cidade de Kirensk, a trezentos quilómetros de distância. 

Elena mostra pouca pressa em partir. Quando o tempo fica demasiado quente para caçar em motos de neve, há cavalos selvagens para domar. Raramente é necessário usar dinheiro, excepto quando é preciso pagar viagens à cidade. Depois das visitas à aldeia, a vida na cidade parece diferente. “Torna--se difícil porque precisamos de silêncio”, resume Elena. Aliás, até o frio gera saudades. Mesmo em Junho, as temperaturas mantêm-se baixas. Elena Anosova guarda no seu telefone uma imagem da medição feita numa manhã de Janeiro: -53°C. Uma das fotografias incluídas nesta reportagem mostra um homem com o rosto coberto de neve. Para Elena, ela ilustra na perfeição a maneira como os habitantes da aldeia “vivem ao mesmo tempo vergados pelos elementos e em comunhão com eles”.