Um integra território francês encaixado entre Madagáscar e a África Austral e serve de zona de acasalamento de tartarugas-verdes. O outro acolhe tubarões das Galápagos.

Imagine dois rochedos a dançar.

O sexo entre tartarugas-verdes é mais ou menos assim: dois gigantes, grandes como lutadores de sumo, agarrados à carapaça do outro, abanando languidamente as barbatanas através das águas cristalinas de um recife de coral.

Um recife como o que rodeia a ilha Europa, ao largo da costa sudoeste de Madagáscar, onde se congregam, em média, mais de dez mil fêmeas de tartarugas-verdes por ano para acasalar, dirigindo-se posteriormente à costa para a postura.

As tartarugas-verdes têm uma estratégia reprodutora conhecida como “poligamia misturada”. Em vez de gastarem energia a defender um território ou a participar em confrontos, os machos concentram os seus esforços elefantinos na busca de uma fêmea livre ou tentando interromper um acasalamento em curso. Os machos têm garras enormes nas barbatanas e na cauda e utilizam--nas para se agarrarem à carapaça da fêmea. Outros machos tentam retirar um amante bem sucedido da posição conquistada, pelejando e mordendo. No decurso da luta, é frequente sofrerem ferimentos.

Ocasionalmente, um rival prende-se à carapaça do macho. “Isto não vai resultar para o segundo macho”, observa o biólogo marinho Wallace J. Nichols. Wallace já viu pilhas de quatro machos, cada um preso à tartaruga à sua frente. “Quando este tipo de coisas acontece com minhocas no jardim, é meramente curioso”, observa. “Com tartarugas de 180 quilogramas, é um circo.”

O circo das tartarugas na ilha Europa raramente é observado por humanos. A ilha é uma reserva natural e as suas águas são protegidas. À semelhança da sua vizinha, Baixas da Índia, cerca de 110 quilómetros a nordeste, Europa faz parte das ilhas Esparsas, cinco pontinhos de terra que circundam Madagáscar. Embora contestada por Madagáscar e outros Estados, a soberania francesa é estratégica. A área terrestre total das ilhas Esparsas abrange apenas 44 quilómetros quadrados, mas a sua zona económica exclusiva colectiva é 15 mil vezes maior. França controla as práticas ilegais de pesca e a caça de tartarugas, um esforço crucial para salvaguardar a biodiversidade das ilhas. Guarnições militares e policiais mantêm presença em várias ilhas (incluindo Europa) e as águas são patrulhadas por navios da marinha de guerra. 

Embora fiquem a curta distância entre si no canal de Moçambique, Europa e Baixas são sítios muito diferentes. Europa é uma ilha coberta por arbustos. Alberga tartarugas nidificantes, mas também um milhão de casais de aves marinhas em época de acasalamento. Baixas da Índia é um atol que mal se ergue acima da linha de água e tem uma laguna cheia de tubarões.

Em conjunto, constituem os últimos vestígios de ecossistemas marinhos saudáveis no oceano Índico Ocidental. São santuários de natureza selvagem em mares vazios. “À superfície, estes sítios são pontinhos insignificantes”, conta o biólogo marinho Thomas Peschak, que fotografou esta reportagem. “Mas depois de lá mergulharmos, ficamos mal habituados para o resto da vida.” As duas ilhas ocupam uma extensão de oceano cujas correntes e remoinhos desafiam os marinheiros há séculos.

Agora, os cientistas marinhos encontraram uma forma de estudar este ambiente sem sequer entrarem no mar. Devido à estreita ligação ecológica entre as aves e a restante vida marinha, podem utilizá-las como intermediárias para observar espécies de alto-mar como o atum. Muitas aves marinhas dependem destes caçadores que deambulam pelo oceano para conduzir as presas até à superfície, deixando-as ao alcance dos seus bicos e garras. Gansos-patolas e garajaus formam bandos que voam a baixa altitude, acompanhando a vida marinha pouco acima da superfície. Estas aves pescadoras que trabalham em rede dispersam-se a partir dos seus poleiros em terra, mantendo-se à vista umas das outras, sempre alerta, caso alguma encontre presas.

Outras espécies acompanham os batedores, erguendo-se a grandes altitudes para vigiar o território. As fragatas reinam supremas entre estes voadores de topo. Excepcionais especialistas em manobras aéreas, elevam-se com as correntes quentes ascendentes, alcançando um quilómetro de altitude para vigiar o mar e as aves que voam lá em baixo. Quando localizam um bando em alimentação, mergulham com as suas asas angulares negras como breu para capturar lulas nas ondas ou apanhar peixes voadores em pleno ar.

Em Baixas, não há árvores para as aves marinhas se empoleirarem, nem praias para as posturas das tartarugas. Baixas da Índia é um atol jovem, ainda em formação, recebendo material do vulcão seu progenitor, um monte submarino que entrou em erupção no leito oceânico três quilómetros abaixo da superfície. Visto do céu, parece um prato azul com uma dentada a nordeste.

Enquanto Europa tem mangues e uma laguna superficial que praticamente seca com a maré baixa, Baixas da Índia não tem rebentos de vegetação e a sua laguna pode atingir 14 metros de profundidade. É um aquário tropical gigante repleto de tubarões jovens, essencialmente tubarões das Galápagos, uma espécie encontrada em redor de ilhas tropicais, mas raramente nestas concentrações.

Intrigados com a razão que torna os tubarões das Galápagos tão predominantes em Baixas da Índia, os biólogos sugeriram que o alcance limitado de habitats disponíveis na árida laguna deste atol favorece estes tubarões, enquanto na laguna de Europa a presença de mangues e ervas marinhas proporciona habitat ou refúgio a outras espécies. Baixas da Índia pode oferecer uma imagem singular da história da vida de um tubarão – um exemplo invulgar de uma população juvenil saudável de uma espécie altamente explorada.

A maré vazante neste atol revela as âncoras de navios que naufragaram no recife ao longo dos séculos. Em 1585, o Santiago, um navio português com 900 toneladas, partiu-se em dois ao embater contra o recife no meio da escuridão. Imagine o terror da guarnição quando a alvorada revelou a sua situação. O navio desintegrava-se, o recife era intimidante, os salva-vidas estavam destruídos ou tinham sido levados pelo mar. Morreram mais de 400 pessoas e um tesouro verteu do interior do navio para as profundezas do oceano. Na década de 1970, mergulhadores recuperaram parte deste tesouro: moedas de ouro, um canhão de bronze, jóias, um astrolábio. Mas isto são bugigangas comparadas com a verdadeira riqueza dos atóis — não o ouro e a prata dos navios antigos, mas a biodiversidade que prospera nestas ilhas minúsculas.