Quando uma tempestade de Inverno sem precedentes atingiu o nordeste dos Estados Unidos da América, no início deste ano, as temperaturas registadas pelo Observatório de Mount Washington, em New Hampshire, desceram até aos -44ºC. No entanto, quando o observatório contabilizou as rajadas de vento de 205km/h que fustigavam a estação meteorológica, obteve uma sensação térmica de -73ºF.
A sensação de arrefecimento ("wind chill", em inglês), mencionada nas apps e boletins meteorológicos, é uma medição de quão fria a atmosfera parece estar em contacto directo com a nossa pele – e é um indicador importante para a segurança pública.
Pessoas expostas a temperaturas de -23ºC e vento fraco podem sofrer queimaduras de gelo em 30 minutos, mas se os ventos soprarem a velocidades superiores a 95km/h, estas podem ocorrer em menos de cinco minutos.
Como os meteorologistas calculam o "wind chill"?
Quando uma pessoa fica exposta ao frio, o seu corpo começa a perder calor – e tal como uma pessoa sopra para arrefecer uma tigela de sopa quente, os ventos frios afastam o calor do corpo mais depressa, fazendo com que pareça estar mais frio no exterior.
Calcular a sensação de arrefecimento pode ajudar as pessoas a preparem-se melhor para condições atmosféricas inclementes. O frio pode causar hipotermia quando a temperatura corporal desce abaixo dos 35°C ou queimaduras de gelo quando os tecidos corporais congelam, que podem causar lesões irreversíveis.
Os meteorologistas calculam o "wind chill" usando uma fórmula concebida pelo Serviço Nacional de Meteorologia dos EUA (NWS) que considera a velocidade do vento e a temperatura atmosférica, embora outros factores, como o Sol, possam fazer com que a temperatura pareça superior.
Por que o usamos?
O termo “wild chill” foi cunhado pela primeira vez em 1939 por Paul Siple, geógrafo e explorador da Antárctida. Siple e seu colega explorador Charles Passel decidiram ver quanto tempo a água demorava a congelar em diferentes condições atmosféricas e de vento. Munidos com estes dados, criaram fórmulas para determinar como o vento poderia influenciar a forma como a pele sente a temperatura.
Ao longo do tempo, as suas fórmulas foram actualizadas com modelos informáticos mais rigorosos e experiências com seres humanos.
Um estudo publicado em 2002 expôs seis homens e seis mulheres a diferentes temperaturas e velocidades e mediu a perda de calor através de sensores instalados no seu rosto.
Embora estas experiências tenham ajudado os cientistas a determinar dados de referência sobre a forma como o calor é libertado pelo corpo em adultos saudáveis, o "wind chill" acarreta maiores riscos para algumas populações, incluindo crianças, idosos e adultos com problemas de saúde.
Outras formas de medir como está o tempo lá fora
A fórmula utilizada pelo NWS para determinar a sensação de arrefecimento não é o único método para calcular como as condições ambientais influenciam quão quente ou fria a temperatura parece.
O serviço de previsões meteorológicas AccuWeather tem o seu próprio índice, denominado Temperatura RealFeel. Segundo Jonathan Porter, o meteorologista principal da AccuWeather, este índice contabiliza condições atmosféricas que a sensação de arrefecimento da NWS não leva em consideração, como o ponto de orvalho, a cobertura nebulosa e a precipitação.
Outro modelo, mais comummente utilizado na Europa, chama-se Índice Térmico Universal (UTCI) e também avalia factores como a humidade e a luz solar.
O NWS utiliza apenas a temperatura atmosférica e a velocidade do vento na sua estimativa da sensação de arrefecimento, fornecendo uma informação rápida sobre as principais condições meteorológicas que influenciam a forma como sentimos a temperatura, recorrendo ao cálculo mais simples, diz Michael Muccilli, Coordenador do Programa de Inverno da NWS.
Como se manter seguro
A sensação de arrefecimento e outras estimativas de quão frio está no exterior são calculadas para informar as pessoas sobre condições meteorológicas potencialmente mortais.
Fique em casa se houver risco de queimaduras de gelo ou hipotermia e, se tiver mesmo de sair, tenha um bom plano. Vista-se em camadas: três ou quatro em situações de frio extremo. Cubra as extremidades, como os dedos das mãos e dos pés, use um gorro para evitar a perda de calor pela cabeça e assegure-se de que as camadas exteriores e os sapatos são à prova de água. E proteja-se do vento, aconselha Muccilli.
Tenha em mente que, sobretudo quando a sensação de arrefecimento é mais extrema, pode sofrer problemas de saúde perigosos em poucos minutos.