Por mais que as vejamos, as auroras boreais – e o seu equivalente meridional, as auroras austrais – são uma visão etérea e arrebatadora.
Dançando silenciosamente na atmosfera superior da Terra, formam faixas iridescentes de luz verde e vermelha (ou, por vezes, azul e roxa).
Comum nas regiões polares e sub-polares, as auroras podem, por vezes, ser observadas a menores latitudes, tendo recentemente dado espectáculos deslumbrantes em locais tão a sul como o estado da Florida e Inglaterra.
O que são as auroras?
O astrónomo italiano Galileu Galilei cunhou o termo aurora em 1619, em homenagem à deusa romana da alvorada – crendo, erradamente, que seria uma reflexão da luz do Sol na atmosfera.
Com efeito, as auroras boreais e austrais são causadas pela interacção dos gases presentes na atmosfera terrestre com o vento solar: uma corrente de partículas com carga eléctrica, denominadas iões, que são emitidas pelo Sol em todas as direcções.
Quando o vento solar alcança a Terra, embate no campo magnético do planeta, gerando correntes de partículas carregadas que deslocam até aos pólos. Alguns iões ficam retidos numa camada da atmosfera denominada ionosfera, onde colidem com átomos de gás – sobretudo oxigénio e azoto – “excitando-os” com energia adicional. Esta energia é, em seguida, libertada sob a forma de partículas de luz ou fotões.
Por que as auroras são verdes e vermelhas e, por vezes, azuis ou roxas?
As cores de uma aurora indicam o local de atmosfera onde estão a acontecer e quais os gases envolvidos.
Por exemplo, um átomo de oxigénio excitado demora quase dois minutos a emitir um fotão vermelho e, se um átomo colidir com outro durante esse período, o processo poderá ser interrompido ou concluído. Por isso, quando vemos auroras vermelhas, estas encontram-se provavelmente nos níveis superiores da ionosfera, a aproximadamente 240 quilómetros de altitude, onde existem menos átomos de oxigénio que interfiram uns com os outros.
BABAK TAFRESHI / NAT GEO IMAGE COLLECTION
Uma aurora boreal ilumina o céu sobre o icónico vulcão islandês Kirkjufell. As auroras são causadas pela colisão de partículas carregadas com gases na atmosfera terrestre. A sua cor indica a camada da atmosfera onde estas interacções estão a ocorrer.
Por outro lado, os fotões verdes são emitidos em menos de um segundo, sendo por isso mais comuns em zonas moderadamente densas da atmosfera, cerca de 100 a 240 quilómetros acima da superfície da Terra.
Na camada mais interior – e altamente densa – da atmosfera, que se estende até 100 quilómetros acima da superfície do planeta, veremos uma mistura arroxeada de luzes vermelhas e azuis – a assinatura cromática do azoto molecular.
Onde é possível ver auroras?
Foram observadas auroras em todos os planetas do sistema solar, excepto Mercúrio – mesmo quando, como é o caso de Vénus e Marte, o campo magnético é muito fraco ou inexistente. Até foram detectadas num enorme planeta interestelar a 20 anos-luz de distância. E os astronautas já captaram fotografias e vídeos espectaculares das auroras terrestres a partir da Estação Espacial Internacional.
Para aqueles que têm os pés mais presos à terra, os melhores locais para ver auroras são na “zona auroral”, situada entre 60 e 75 graus de latitude, tanto a norte como a sul. Terá ainda mais probabilidades de ver uma aurora se estiver numa faixa estreita da Terra situada entre 65 e 70 graus de latitude.
Também precisará de um local onde o céu seja escuro e límpido, longe da poluição luminosa. No hemisfério sul, os mais indicados são a Antárctida, a Tasmânia ou a região meridional da Nova Zelândia, durante o Outono ou no Inverno. A norte do Equador, poderá encontrá-los nos arredores de Fairbanks, no Alasca, Churchill, em Manitoba, na Lapónia, no norte da Suécia e da Finlândia, e Tromso, na Noruega, entre muitos outros.
Quando acontecem auroras – e estão a acontecer com mais frequência?
Uma boa forma de prever uma noite com auroras intensas é contando 27 dias a partir da última. As auroras costumam estar associadas à actividade das manchas solares e, como o Sol demora 27 dias a girar sobre o seu eixo, esse é o tempo necessário para uma mancha solar que produza auroras voltar a aparecer. Há mais auroras nalguns anos do que noutros. A actividade das manchas solares aumenta e diminui ao longo de um ciclo de 11 anos. A mais recente tendência de aumento começou em 2019 e atingirá o pico em 2024 ou 2025.
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Uma tenda montada sob as auroras boreais em Gates of the Arctic, o parque nacional mais setentrional dos EUA. Esta região do Alasca é um dos melhores sítios do mundo para observar auroras.
Também é devido à maior actividade das manchas solares que, por vezes, as auroras se manifestam em partes do mundo onde raramente costumam ser vistas. Esta maior actividade aumenta as probabilidades de ocorrerem tempestades solares mais intensas, que podem emitir radiação electromagnética e partículas em direcção à Terra. Quando estas atingem a nossa atmosfera, enchem-na com tantas partículas que a zona auroral se expande para além dos seus limites habituais.
Este efeito foi recentemente observável no início de 2023, quando tempestades solares causaram auroras visíveis tão a sul como o estado do Arizona e Inglaterra. No entanto, para além de serem espectáculos deslumbrantes, estas tempestades solares também podem afectar as redes eléctricas e os sistemas de GPS.
Contudo, até o mais activo dos ciclos de manchas solares terá dificuldades em igualar a maior tempestade solar de que há registo. No dia 1 de Setembro de 1859, astrónomos estavam a observar um número crescente de manchas solares que apareciam à superfície da nossa estrela, quando uma erupção solar se projectou rapidamente em direcção à Terra, criando auroras vívidas, observáveis tão a sul como Cuba e tão a norte como Santiago, no Chile. Como nunca as tinham visto, alguns observadores acharam que as luzes brilhantes anunciavam o fim do mundo ou que “parecia que um fogo colossal na Terra estava a reflectir as suas chamas nos céus”.