A ocorrência de ondas de calor é um fenómeno que ocorre com alguma frequência, ainda que mais notória e sentida pelos seus impactos quando ocorre nos meses de Verão. O Instituto Português do Mar e da Atmosfera, I.P. compilou dados estatísticos, preparou um pequeno glossário para compreender melhor este fenómeno, partilhando também previsões para as próximas décadas.
O CONTEXTO EUROPEU
As ondas de calor ocorrem frequentemente na Europa e, de alguma forma, são fenómenos climáticos que fazem parte do perfil climático da região sul da Europa. No entanto as ondas de calor que têm sido registadas nas últimas décadas na Europa têm características diferentes das registadas no século passado, sendo cada vez mais frequentes, mais prolongadas, mais intensas e extensas. Atingem, inclusive, regiões do território europeu que não era hábito.
FREQUÊNCIA no hemisfério norte
Temperatura do ar acima de 40°C são cada vez mais frequentes durante os episódios de ondas de calor, com novos extremos de temperatura máxima do ar. Segundo dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM), o número de ondas de calor em simultâneo no hemisfério norte é já seis vezes mais do que o que se verificava em 1980.
AS REGIÕES MAIS AFECTADAS EM PORTUGAL
Nos últimos 20 anos têm-se observado mais eventos de ondas de calor extremos no período do Verão em Portugal continental. Esta situação tem sido notória em todo o território. No entanto, são as regiões do interior Norte e Centro – distritos de Bragança, Vila Real, Viseu e Guarda – e o Alentejo – distritos de Setúbal, Évora e Beja – as mais afectadas.
OS EPISÓDIOS MAIS SEVEROS NO PAÍS
Os episódios mais severos de ondas de calor – maior número de ondas e maior número de dias em onda de calor – verificaram-se depois de 1990 na região interior Norte e Centro e depois de 2000 na região Sul. Os Verões com maior percentagem de estações meteorológicas em onda de calor no Verão desde 2000 foram: 2013 (89%), 2006 (85%), 2003 (76%), 2018 e 2022 (74%).
Os distritos de Bragança, Vila Real, Viseu, Guarda, Setúbal, Évora e Beja são os mais afectados de Portugal continental
A ONDA DE CALOR DE 2003
Uma das ondas de calor mais intensas que ocorreu na Europa foi a que se verificou na primeira quinzena de Agosto de 2003 e que afectou fortemente Portugal continental, com impacto relevante na mortalidade da população. Foi, sem dúvida, um período excepcionalmente quente e muito prolongado, no qual se registaram vários novos extremos de temperatura do ar e que ainda hoje se mantêm.
IPMA
Onda de calor de 2003 em Portugal continental (Warm-spell Days)
O MAIOR NÚMERO TOTAL DE DIAS EM ONDAS DE CALOR
O maior número total de dias em onda de calor, 918 dias, ocorreu no Verão de 2022, com a contribuição significativa da região Nordeste. Nesta região, em algumas estações verificaram-se quatro ondas de calor, a que corresponderam um total de dias superior a 40 em onda de calor. De referir Bragança, Mirandela e Carrazeda com 44, 42 e 41 dias, respevtivamente. Destacam-se ainda os anos de 2003 e 2006 com mais dias em onda de calor (687 e 667 dias, respectivamente).
O IPCC estima ainda que até 2050, cerca de metade da população europeia poderá enfrentar um risco alto ou muito alto de stress por calor no Verão.
Como serão as ondas de calor no futuro?
De acordo com o IPCC (Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas), o aquecimento do sistema climático é inequívoco, evidenciado a partir do aumento das temperaturas globais do ar e do oceano, fusão do gelo e neve e subida do nível médio do mar.
Qualquer que seja o cenário de emissão de gases de efeito estufa previsto, o aquecimento global continuará por pelo menos algumas décadas e será acompanhado por ondas de calor cada vez mais frequentes e intensas.
No final do século, espera-se uma maior frequência, intensidade e períodos mais longos em onda de calor no período entre Maio e Outubro. O IPCC estima ainda que até 2050, cerca de metade da população europeia poderá enfrentar um risco alto ou muito alto de stress por calor no Verão. O controle das emissões de gases de efeito estufa será decisivo para sua estabilização na segunda metade do século XXI.
O IPCC estima ainda que até 2050, cerca de metade da população europeia poderá enfrentar um risco alto ou muito alto de stress por calor no Verão
Glossário:
- Onda de calor - HWDI, Heat Wave Duration Index: num intervalo de pelo menos seis dias consecutivos, a temperatura máxima diária é superior em 5°C ao valor médio diário no período de referência (Organização Meteorológica Mundial - WCDMP-No.47, WMO-TD No. 1071). A ocorrência de ondas de calor é um fenómeno que podendo verificar-se em qualquer época do ano, é mais notório e por vezes com impactos adversos (por exemplo na saúde) nos meses de verão.
- Onda de calor - WSDI, Warm-Spell Days Index: corresponde ao número de dias por período, onde em intervalos de pelo menos 6 dias consecutivos, a temperatura máxima é superior ao percentil 90, isto é, é superior ao valor da temperatura que ocorre em 10% do tempo ou que é susceptível de ser excedida em 10% do tempo.
- Percentil - Medida que divide a amostra ordenada (por ordem crescente dos dados) em 100 partes, cada uma com uma percentagem de dados aproximadamente igual.
Este artigo foi escrito no âmbito de uma parceria de comunicação de Ciência estabelecida entre a National Geographic Portugal e o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, I.P.