Há vinte anos, Portugal continental esteve exposto a temperaturas do ar (máxima e mínima) muito superiores às habituais para a época. Foram duas semanas de tempo excepcionalmente quente, com impacto na mortalidade da população.
Sete distritos – Beja, Bragança, Castelo Branco, Évora, Guarda, Vila Real e Viseu – tiveram 16 ou mais dias seguidos com temperaturas máximas superiores a 32°C. Apenas os distritos de Aveiro e do Porto apresentaram um menor número de dias com temperaturas superiores a 32°C. Os distritos de Beja, Évora, Santarém e Setúbal tiveram períodos de quatro ou mais dias com temperaturas máximas superiores a 40°C.
No período de 1 a 14 de Agosto observaram-se temperaturas máximas do ar superiores a 35°C em 97 % das estações meteorológicas e temperaturas máximas do ar superiores a 40°C foram registadas em 2/3 das estações.
Relativamente à temperatura mínima, 97% das estações meteorológicas registaram temperaturas superiores a 20°C e 40% superiores a 25°C.
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Fig. 1. Mapa dos extremos de temperatura máxima de 1 a 14 de Agosto de 2003.
NOVOS RECORDES
Foram ultrapassados os maiores valores da temperatura máxima do ar diária anteriormente registados no mês de Agosto. Em algumas estações meteorológicas, inclusive, foram igualados e mesmo ultrapassados os anteriores máximos absolutos da temperatura máxima do ar (Fig. 1), com o valor de 47,3°C na Amareleja, no dia 1 de Agosto, a constituir um novo máximo absoluto para Portugal Continental e que ainda hoje se mantém como sendo o valor mais alto alguma vez registado em Portugal.
De assinalar ainda nesse período o elevado número de dias consecutivos com valores muito elevados da temperatura máxima do ar. Foram igualados ou ultrapassados os maiores valores do número de dias consecutivos com temperatura máxima do ar igual ou superior a 35 °C e a 40°C. O maior número de dias consecutivos com valores temperatura máxima do ar ≥ 40 °C, variou entre 11 em Elvas, 12 em Alvega, 13 em Avis e 14 na estação da Amareleja.
47,3°C na Amareleja, no dia 1 de Agosto, passou a ser novo máximo absoluto para Portugal Continental. Até hoje.
Também na temperatura mínima do ar foram igualados ou ultrapassados os maiores valores da temperatura mínima do ar diária para o mês de Agosto. Em algumas estações meteorológicas foram mesmo igualados ou ultrapassados os anteriores maiores valores absolutos da temperatura mínima do ar, com o valor 30,7°C em Portalegre, no dia 1 de Agosto, a constituir na altura o maior valor da temperatura mínima do ar em Portugal Continental, o qual foi ultrapassado em Julho de 2004 na estação de Faro com 32 °C, que é ainda hoje o mais alto de sempre.
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Fig. 2. Onda de calor de 2003 em Portugal continental (Warm-spell Days)
Outras curiosidades sobre a Onda de Calor de 2003
A onda de calor de Julho-Agosto de 2003 foi, sem dúvida uma das mais intensas e mais prolongadas que ocorreu em Portugal e com grande impacto ao nível da saúde.
Iniciou-se a 29 de Julho nas regiões do interior do território e teve uma duração nestas regiões de 16 a 17 dias (Fig. 2). Foi a onda de calor com maior duração alguma vez registada (desde 1941). No entanto, teve uma extensão espacial inferior à de 1981 uma vez que as regiões do Litoral e do Sotavento Algarvio não foram afectadas.
A onda de calor de 2003 teve a maior duração alguma vez registada desde 1941
As estações meteorológicas de Elvas, Beja, Alvalade, Évora, Amareleja, Portalegre, Castelo Branco, Guarda, e Miranda do Douro são algumas das estações em que a onda de calor atingiu os 16/17 dias. Bragança, Vila Real e Montalegre, 15 dias; Penhas Douradas, 10 dias.
Este artigo foi escrito no âmbito de uma parceria de comunicação de Ciência estabelecida entre a National Geographic Portugal e o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, I.P.